Testemunha afirma que irmãos mortos por PMs não estavam armados

O caso aconteceu em 2016, no conjunto Village Campestre; policiais alegaram troca de tiros

Déborah Moraes / Alagoas24Horas/ArquivoAudiência de Instrução do caso dos irmãos Josenildo e Josivaldo Ferreira Aleixo

Audiência de Instrução do caso dos irmãos Josenildo e Josivaldo Ferreira Aleixo

Aconteceu na tarde desta terça-feira, 27, a primeira audiência de instrução do crime que vitimou os irmãos de 16 e 18 anos, Josenildo e Josivaldo Ferreira Aleixo, e o pedreiro Reinaldo da Silva Ferreira, de 46 anos, numa suposta troca de tiros com policiais militares do 5º BPM, no conjunto Village Campestre durante uma abordagem, em março de 2016. A única testemunha presencial listada pela acusação para ser ouvida hoje, afirmou que as vítimas não estavam armadas e que foram agredidas fisicamente após revista que não teria revelado nenhum ilícito.

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A mulher – que a pedido do juiz Geraldo Amorim, que conduz a audiência, não será identificada – explicou que no dia do crime, ela, a filha dela, que tinha 6 anos na época, um casal, um mototaxista e o pedreiro – que também acabou morrendo – estavam no local quando dois militares se aproximaram dos irmãos e os revistaram. “Os meninos ficaram de costas o tempo todo, com a mão na cabeça, de frente para um muro. Depois de revistarem eles, os policiais guardaram as armas e começaram a agredi-los sem motivo”, afirmou.

Ainda segundo a testemunha, todas as pessoas ali presentes pediram para que os policiais parassem. “Nós falamos para eles pararem. Perguntamos porque eles estavam fazendo aquilo, mas eles não pararam”. Após serem agredidos por mais um tempo, um dos meninos teria dado um tapa no rosto de um dos policiais e a partir daí uma confusão teria se iniciado. “Os policiais começaram a bater ainda mais e o outro menino começou a tentar defender o irmão. Nessa hora, um outro policial saiu da viatura já atirando contra eles, mas eles não tinham armas”, relatou a mulher.

“Teve um momento que, enquanto um atirava, o outro chutava com o pé. Nenhum dos meninos estava armado. A única arma foi a própria mão no rosto do policial”, disse a testemunha.

Seguindo o depoimento, ela falou que neste momento as pessoas começaram a correr, mas que ela conseguiu ver o momento no qual os jovens teriam sido colocados na viatura e quando o veículo teria dado ré e pelo menos um PM teria saído do carro e “catado” alguma coisa no chão.

Questionada pelo juiz, a testemunha disse que não consegue, contudo, identificar qual dos policiais teria atirado contra os jovens, nem quantos tiros teriam sido disparados, nem se recorda de ver os meninos com qualquer bolsa.

Os três policiais militares que participaram da ação, foram indiciados e afastados das ruas, mas apenas um deles, o cabo Johnerson Simões Marcelino, foi preso e responde pelos homicídios. Os demais serão julgados apenas por fraude processual.

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Antes deste testemunho, a mãe das vítimas, Maria de Fátima Ferreira da Silva, e o tio, Cláudio da Silva, também foram ouvidos e reafirmaram que a versão apresentada pela PM, de que os irmãos estavam armados e teriam envolvimento com ilícitos, não é verdade. Josivaldo e Josenildo Aleixo tinham deficiência intelectual e estudavam na Associação Pestalozzi e teriam idade mental de 10 anos. Os dois pediram para depor sem a presença do réu.

De acordo com o auxiliar da acusação, Mirabel Alves Rocha, a audiência é para colher elementos e provas para que o cabo Jhonson seja levado a júri popular. Já o advogado de defesa, Thiago Marques Luz, esta primeira audiência servirá para reconhecimentos dos elementos para adequação da linha de defesa exercida até o momento e nos próximos passos do processo.

A audiência teve início na tarde de hoje e deve seguir até a noite e ouvir ao todo 11 pessoas, entre testemunhas e declarantes, além do depoimento do réu. Uma nova audiência e instrução, com as testemunhas listadas pela defesa, deve acontecer antes do juiz Geraldo Amorim decidir se o caso deve ir a júri popular.

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