As aparências enganam

Essa semana eu fui jantar com amigos e coube a mim a responsabilidade de escolher o vinho, não sei exatamente porque eu, que de vinho entendo perto de nada, mas como não sou de complicar o que não há necessidade, abri a carta e iniciei a busca.

Conheço uma meia dúzia pelo nome, entre importados e nacionais, acabei aprendendo por causa do dia seguinte, escolho os mesmos que não me provocam dor de cabeça, já que não sinto o gosto de terra, de frutas ou tantos outros sabores atribuídos à bebida.

Como a carta de vinhos era bem diversificada, resolvi simplificar e fui buscar um entre os nacionais, por causa do dólar, achei que seria mais fácil não ter que lidar com a oscilação da moeda no mercado de câmbio, num simples brinde.

Logo vi que estavam classificados por valor, partindo dos mais caros para os de menor preço e eis que fui surpreendida com o primeiro da relação, proveniente de uma casa de produção tradicional, bem avaliado e que tenho certeza que deve ser muito bom, ao módico preço de pouco mais que R$ 500,00, isso mesmo que você leu, vou escrever para não restar dúvidas, “quinhentos reais”…

Fiquei tão surpreendida que nem olhei os importados e pensei, se o último, da mesma vinícola custa R$ 55,00, será que o mais caro é 10 vezes melhor?

Provavelmente, é realmente muito melhor e essa forma de fazer a conta deve ser simplista demais, o fato é que eu não tenho paladar ou sensibilidade para perceber uma diferença tão grande entre dois vinhos, a ponto de me dispor a gastar meio salário mínimo num gole.

O mercado de luxo é realmente uma coisa fora da realidade da maioria dos mortais, eu entendo que uma roupa de um grande costureiro custa mais cara, porque veste melhor, mas daí a pagar (como já vi), 100 EUROS por um conjunto de peças íntimas, pra minha capacidade de gasto, ultrapassa o razoável.

Um dos critérios que avalio para comprar algo é se me são confortáveis, não tenho mais essa disposição toda para o “elegante incômodo”, e uma das coisas que faço com a roupa íntima é cortar as etiquetas para não me pinicar, daí quando vi na vitrine exposto essa calcinha e o sutiã, pensei comigo mesma, nem a etiqueta eu vou poder exibir para “me amostrar”.

Voltando a conversa do vinho, eu imagino que haja poucas pessoas tão treinadas a ponto de perceber as sutilezas dos vinhos raros, portanto, imagino que parte das pessoas que o consomem o faz para demonstrar capacidade de gasto, e realmente impressiona.

No entanto, se nesse cenário estiver um personagem igual a mim, para provocar arrepios, das duas uma, ou eu terei que ficar com a carta de vinhos na mão para ver o preço, quando olhar o rótulo, ou então vão ter que me entregar a conta para eu possa compreender quanto custou o “tim tim”, e vamos combinar, nenhuma das duas opções são muito elegantes.

Acho que o vinho caro está para o homem, como a roupa cara para a mulher, ambos acreditam sinceramente que isso é compreendido como bom gosto e status, mas o resultado final não é muito garantido.

Quantas são as mulheres que entendem as diferenças de “buquês” e quantos os homens que conhecem roupa prêt-à-porter? Sim… porque vinhos são pedidos pelo nome e não anunciando os valores e em roupa cara o chique é ter etiqueta escondida .

O fato é que hoje, tendo passado da metade do caminho, por mais que um vinho seja bom, a lembrança de como foi bebido deve ser mais importante que o preço pago e a roupa deve vestir melhor que a etiqueta. A vida pode ser vivida de forma mais simples, com direito a brinde sem a necessidade de dividir de 10 vezes no cartão coragem.

As aparências nem sempre enganam, só às vezes.

PS – Tenho uma amiga que comentou comigo “Acho que esse vinho de R$ 500,00 deve ter gasolina nele”, pois é, com os atuais preços dos combustíveis, gasolina entrou para o mercado de luxo.

Junho de 2018

Katia Betina

Fonte: Katia Betina

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