A copa e as eleições

Vou me valer de um ditado popular para fazer um desabafo. “Nada tem o fundilho a ver com as calças”, me refiro à relação que tem sido feita entre a copa e as eleições.

O Brasil ē um país com duas tradições distintas, a corrupção e o amor pelo futebol, e de uns tempos para cá, não conseguindo (ou querendo) resolver problemas sérios como a nossa incapacidade de escolher representantes que se coloquem a serviço do bem comum, começamos a olhar o extremo oposto, a seleção, como sendo uma vilã que merece castigo.

Desde a copa passada passou a haver um movimento crescente em considerar esse evento máximo do futebol, como sendo problema e não solução.

Na anterior, os argumentos que o dinheiro gasto com estádios podiam ter sido aplicados em necessidades básicas, era até mais simpática (mas igualmente ineficaz) que a atual sugestão, que não sabendo votar, não podemos torcer.

Somos um povo, em parte pelo menos, com uma cultura de corrupção impregnada no DNA, se ao invés de estádios tivéssemos construído escolas ou hospitais o desvio de dinheiro tinha sido o mesmo e o resultado tão duvidoso quanto, só ia mudar os beneficiados.

Parece-me mais razoável que ao invés de se insurgir contra o esporte, devíamos procurar saber quais as propostas dos atuais candidatos para usá-lo a favor da ocupação dos jovens como parte da solução do problema.

Se não sabemos votar, certamente que não ē torcendo contra a seleção que iremos consertar isso. O esporte ē das poucas janelas de oportunidade que realmente inclui todos, inclusive, meninos pobres e negros.

Temos uma dívida antiquíssima com a educação, saúde, bem estar e acabar com a felicidade de torcer pela nossa seleção só vai aumentar a dificuldade, sem acrescentar nada de positivo, e para quem acha um absurdo os salários pagos para esses meninos sem educação formal, vai uma sugestão de análise.

Ao contrário dos nossos indicadores de segurança, saúde e educação, que comparados aos do primeiro mundo, são classificados como muito ruins, no futebol e nos salários dos jogadores de elite, estamos entre os bons e isso devia ser motivo de orgulho e não de raiva.

Os salários desses atletas são altíssimos no mundo todo, mas apenas para uma meia dúzia daqueles que se sobressaem. Por que nunca nos incomodamos com as distâncias abissais entre algumas outras categorias e reservamos nossa indignação apenas para jogadores?

Quem julga “peixe pela capacidade de subir em árvores” certamente os considera incompetente. Esses “analfabetos” têm uma inteligência corporal incomum e extraordinária. Quantos de nós, com diplomas, consegue chutar uma bola com metros de distância colocá-la no local desejado?

Eu acho lindo o país de verde e amarelo, me emociona ouvir o hino e lamento que o período de ditadura tenha feito crescer uma antipatia gratuita pelos símbolos nacionais, como se sentir vergonha da bandeira fosse solução para apagar barbaridades.

Eu lamentei o empate, queria a felicidade da vitória, vou assistir ao próximo jogo com o coração na mão, com a casa enfeitada, vestida de verde e amarelo e estou pensando seriamente em trocar a roupa para tentar uma que dê mais sorte, (que não será a do revelion, afinal o dinheiro que era para ter chegado ainda não se tornou realidade).

Se nossos políticos são péssimos, é bom começarmos a perguntar quais são nossas reais motivações na escolha dos candidatos e tomar nosso amor por futebol como exemplo de capacidade de se organizar, e não desqualificar a chance de sermos vitoriosos.

Em todos os locais que visitei no mundo, encontrei pessoas orgulhosas de seus talentos, só aqui que fazemos questão de divulgar o que não presta e ainda desconsiderar o que temos de bom achando que isso é solução.

Na minha ignorância, futebol nada tem haver com política partidária, esse ou os demais esportes deviam ser políticas de estado e ter estímulo perene, como uma das alternativas de construção de uma sociedade melhor e menos violenta, e caso algum político não entenda isso como prioridade, devia ter como resposta o esquecimento das urnas.

Tem outro ditado popular que diz “a internet deu voz aos idiotia, não dê ouvidos”. Você tem todo o direito de me considerar idiota em questão e já me desculpo antecipadamente com aqueles que eventualmente eu discordar e os convido a não darem “ouvidos” ao meu lamento.

Assim como não espero que você mude de opinião por mim, afirmo que nada muda meu amor pela seleção, nem a minha certeza que esporte é uma das alternativas de um mundo melhor.

Torcer pelo Brasil na copa, não significa que vou votar errado, que sou alienada, ou que estou anestesiada, nossos males precisam de atitudes propositivas, não de aniquilar o sonho do hexa.

Pra frente Brasil, salve a seleção…

Junho de 2018, em plena Copa do Mundo.

Katia Betina

PS – Se você tá meio envergonhado em usar a camisa da seleção, essa é uma boa hora para fazer as pazes com o Brasil.

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