Celular em sala de aula. Vilão ou aliado?

Proibir o uso de aparelhos não é o caminho ideal, dizem professores

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Celular em sala de aula. Vilão ou aliado?

Provavelmente, o seu celular esteja próximo a você nesse exato momento. Ou melhor, esse texto está sendo lido nele. Na sala de aula? Na França, sem cogitação. A partir de setembro, quando começa o novo ano escolar, entra em vigor a lei que proíbe, terminantemente, o uso do aparelho nas escolas públicas francesas. Ou seja, alunos de 6 a 15 anos não poderão levar seus telefones móveis para as escolas até mesmo desligados. No país, dados apontam que quase 9 entre 10 adolescentes de 12 a 17 anos possuem um smartphone. Defendendo a proibição, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, afirmou que a lei pode servir como uma “mensagem à sociedade francesa”, como também a países do exterior.

E, sim, a “mensagem” foi recebida no Brasil, endossando uma discussão que não é novidade. Por aqui, o aparelho é o meio mais utilizado entre os menores de 18 anos para se conectar à internet – 83% deles, de acordo com uma pesquisa realizada pela TIC Kids, em 2016. Entre as justificativas, 73% dos meninos e 84% das meninas disseram que fazem uso do celular para realizar trabalhos escolares. No país, diferente da França, não há uma legislação quanto ao uso dos aparelhos nas escolas, ficando a cargo das instituições agirem de acordo com suas diretrizes.

Conectar ou não conectar, eis a questão

A mestranda em Língua e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Igara Oliveira, acredita que o celular não deve ser encarado como um inimigo pelo professor. “Pelo contrário, se considerarmos suas diversas funcionalidades e as inserirmos, a partir de objetivos de aprendizagem bem definidos, em nossos planejamentos, teremos um poderoso aliado nas mãos”, analisa. Ela ainda considera que, antes mesmo da popularização dos smartphones, os alunos já se distraiam com conversas paralelas, mensagens escritas em pedaços de papel ou com desenhos no caderno.

Trabalhando com o Ensino da Língua Inglesa e Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, Igara acredita que proibindo o uso dos aparelhos nas aulas, a escola regular pode se distanciar ainda mais da realidade dos estudantes que estão cada vez mais conectados. “Para que haja dispersão, basta que o conteúdo não faça sentido ou não pareça pertencer à realidade deles. Nesse caso, qualquer coisa pode vir a ser mais interessante”, diz a pesquisadora. Para Igara, “o que de fato atrapalha a aprendizagem é a atitude do aluno em relação ao que está sendo estudado”.

A professora de português Viviane Silva pondera o uso de aparelhos durante as suas aulas. Lecionando para turmas da educação básica, ela defende que os dispositivos sejam utilizados apenas com fins pedagógicos. “Fora disso, prefiro que os aparelhos fiquem desligados dentro da mochila ou em casa mesmo”, diz.

Os uso demasiado do telefone durante as aulas também altera o comportamento dos alunos. “Uma prática bem comum ultimamente é que ninguém quer copiar o conteúdo do quadro”, aponta a professora Viviane. O tradicional “é pra copiar, professora?” foi substituído por fotos captadas por celulares. “O que me sugere, por exemplo, fazer uma atividade valendo nota com consulta ao caderno só para eles perceberem a importância de fazer anotações. É meio tirano, talvez, mas se a professora não se impõe, eles fazem o que querem”, reflete a professora.

Educação Tecnológica pode ser a saída 

Desenvolvendo estudos na área da Comunicação Social, com foco em Tecnologias Digitais, Convergência Midiática e Educomunicação, a educadora Daniela Ribeiro opina que a proibição não resolve a questão. “A tecnologia está ai, é pra ser utilizada. O nosso esforço deve ser no sentido de promover a educação tecnológica das pessoas”, completa.

Ribeiro acredita que a promoção de políticas educacionais para a inserção de tecnologias com fins pedagógicos é o caminho ideal para a aprendizagem das crianças. “O nosso principal dificultador nesse processo é fazer com que o celular seja realmente utilizado para esta finalidade e não para dispersão”, diz. Mãe de um menino de nove anos, em casa ou na sala de aula, a educadora propõe o equilíbrio no uso de aparelhos tecnológicos. “A criança precisa, desde cedo, ser educada para que possa entender e desenvolver o senso crítico com relação ao nível de utilização [do celular]”, finaliza.

Fonte: Educa Mais Brasil

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