Modelos negras são comparadas a escravas em rede social durante desfile

Cerca de 180 mulheres participavam do concurso Top Cufa em um shopping. Ofensas foram feitas pelo WhatsApp; Polícia Civil investiga o caso.

Reprodução

Mulheres negras que participavam de um concurso de moda em um shopping de Taguatinga, no Distrito Federal, foram alvos de ofensas racistas em um grupo de WhatsApp neste sábado (13). As mensagens, escritas por três homens, foram fotografadas e publicadas na internet.

Na ocasião, 180 modelos de 16 a 25 anos competiam na primeira seletiva do Top Cufa, um concurso de beleza dedicado a mulheres que vivem nas periferias do Brasil, com enfoque na valorização da negritude. O evento era realizado em um espaço aberto ao público dentro do centro de compras.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. A suspeita é de que os autores sejam menores de idade. “Tudo indica que aquele era um grupo de WhatsApp de colégio”, disse a delegada Erica Macedo ao G1. “Se for, vamos encaminhar o caso para a Delegacia da Criança e do Adolescente.”

Ofensas racistas

Na troca de mensagens, um dos homens, identificado como Alex, escreve que “tá tendo um desfile só de preta aqui no JK [Shopping]” e comenta: “Coisa horrosa”.

Em seguida, outro, identificado como Muniz, fala em tom jocoso que Alex tirou uma foto do desfile e encaminha a imagem de escravas enfileiradas, com cestas em cima da cabeça. Um deles contesta a “brincadeira” e um quarto, de apelido Dandan, responde:

“Agr o cara é obrigado a achar as preta bonita? [sic]”

Na internet e na delegacia

O caso ganhou repercussão na internet e foi registrado na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial por volta das 17h desta segunda-feira (15) pelo organizador do evento e presidente da Central Única das Favelas (Cufa), Bruno Kesseler.

“O que a Cufa faz é combater o racismo. Não vamos deixar que isso passe impune, que as pessoas achem que isso é normal.”

“Esse fato nos mostra a importância do nosso trabalho que vem articulando diversas atividades em busca de desenvolvimento e promoção da igualdade.”

A delegada responsável pela investigação do caso, Erica Macedo, explicou ao G1 que as ofensas serão interpretadas como racismo e não como injúria racial.

“Eles não atingiram determinada pessoa negra, mas usaram elementos de cor para ofender toda uma coletividade, as mulheres negras de forma geral.”

Até a publicação desta reportagem, os suspeitos não haviam sido identificados.

Para rapper Thábata Lorena, jurada e parceira do Top Cufa, o caso “parece uma forma de negar a aceitação da beleza negra” e deve ser interpretado com seriedade.

“Tudo o que está relacionado ao sucesso é um campo em disputa para a população negra”, disse ao G1. “O que tem que fazer é parar de rir, parar de naturalizar, e parar de achar que um concurso com mulheres negras é exótico. Elas são a maioria da população.”

O Top Cufa não é exclusivo para mulheres negras, mas para mulheres de periferia. Isso significa que, entre as participantes, há meninas brancas, negras, loiras, crespas, encaracoladas e alisadas.

“É triste ver esse tipo de repercussão em um shopping de Taguatinga que foi feito, principalmente, para atender o público da Ceilândia, que é a maior periferia do Distrito Federal”, disse Thábata. “Ali, você vê um público que é compatível com o que estava sendo representado no palco por aquelas mulheres.”

“A estratégia é ter um pensamento afrocentrado e, aos poucos, ir desfazendo esses nós de ignorância.”

Fonte: G1

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