Estudo da Ufal indica que times de Maceió não conhecem comportamento de torcedores

UFAL

Melhorar o relacionamento com o torcedor, gerenciar os clubes de futebol com mais profissionalismo e visão empresarial são algumas das indicações reveladas pelo levantamento que traçou um perfil dos torcedores do CRB e CSA, as duas maiores torcidas de Alagoas.

Coordenada pelo professor André Carneiro, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac) da Ufal, o estudo traz dados sobre o programa Sócio Torcedor, faixa etária, escolaridade, renda familiar e hábitos de mídia dos maceioenses.

Segundo o docente, que é doutor em administração com ênfase em marketing, a análise dos números revela que existe uma subutilização do potencial dos torcedores do futebol de Maceió. “Os clubes demonstram não conhecer bem o comportamento deles, que também são clientes e consumidores”, afirma o pesquisador. “Para se ter uma ideia, nunca foi realizada uma pesquisa de marketing pelos dois principais clubes de Alagoas. O que acaba interferindo na receita, pois como direcionar ações de marketing sem conhecer as necessidades dos clientes?”, indaga.

Um dos principais dados apresentados pelo estudo é que 72,8% dos torcedores não participam do programa Sócio Torcedor, enquanto apenas 27,2% fazem parte. “Os clubes são empresas ou, pelo menos, deveriam pensar assim. Há uma grande lacuna a ser explorada positivamente ao investir mais em marketing, isso trará mais retorno financeiro e tornará o clube mais competitivo em campo”, avalia.

Conforme a pesquisa, para 42% dos entrevistados, o principal motivo de adesão ao programa é ajudar o clube. Já para 25%, um dos motivos para aderir seria a melhoria em vantagens e benefícios. Entre satisfeitos e muito satisfeitos com o programa estão 77,9%. Enquanto que para 39% dos entrevistados, é preciso melhorar o programa em relação a promoções, vantagens e sorteios.

Sobre o que poderia ser feito para melhor aproveitar o potencial dos torcedores, André Carneiro cita que, “primeiramente, é o relacionamento com o torcedor/cliente, pois o programa ainda é muito subutilizado pelos clubes, o que traria uma maior previsibilidade de caixa”. E acrescenta: “Fazer mais ações de ativação dos parceiros e patrocinadores atrairia novas receitas de publicidade e patrocínio”.

O docente também enumera as seguintes ações: “Criar mais produtos com a marca do clube para que se aumente a receita com licenciamento; mais canais efetivos de comunicação com os torcedores; melhorar a experiência deles no estádio e nos eventos promovidos; além de viabilizar novas pesquisas de marketing, buscando entender melhor e como atrair mais receita, pois ainda tem um grande potencial de torcedores que não gastam quase nada ou muito pouco com o clube”. Carneiro destaca que construir um time competitivo em campo também impacta nas receitas e na satisfação do torcedor. “Não adianta focar só em resultados de marca e financeiros, é preciso investir no futebol”, lembra.

Comparando a administração do futebol local com a dos demais estados brasileiros, o pesquisador chama atenção para “uma falta de visão empreendedora dos dirigentes alagoanos”. “Basta dizer que, até pouco tempo, alguns dirigentes declaravam que time de Alagoas tinha que se contentar com série B. Falta mais ousadia dos clubes, porém com mais profissionalismo, dentro e fora de campo”, ressalta. “Isso começa pelo presidente. Aliás, a própria cultura de time que depende de presidente já é uma mentalidade retrógrada. O clube precisa ser sustentável, independente do presidente, tem que pensar como uma empresa que tem profissionais especializados e com departamentos específicos, funcionando de maneira profissional e não por apadrinhamento político”, ressalta. “Temos vários exemplos de clubes fora de Alagoas que, mesmo não tendo tanta torcida como os dois principais do estado, possuem uma visão mais profissional e o time se torna mais competitivo e sustentável”, afirma.

Sobre a pesquisa

Segundo o pesquisador André Carneiro, o trabalho focou nos torcedores da capital e ouviu 2.099 maceioenses, entre 19 de julho a 17 de agosto de 2018, com um nível de confiança de 95% e margem de erro de 2,21% para mais ou para menos.

Os dados foram apresentados durante o evento Desafios e oportunidades para a gestão e o marketing no futebol em Maceió, realizado no mês de outubro, no auditório do Conselho Regional de Administração de Alagoas (CRA/AL).

“A pesquisa traz uma visão inédita sobre o perfil do torcedor de futebol de Maceió, trazendo insumos importantíssimos para que os clubes iniciem um trabalho de reestruturação de suas ações voltadas para o mercado”, afirma o docente.

De acordo com o pesquisador, com base nos dados, “os clubes poderão rever posicionamento de marca, segmentação de mercado, reposicionamento do programa Sócio Torcedor, possibilidades de novos patrocinadores, identificação dos melhores canais de comunicação com os torcedores, bem como análise e mensuração de potencial de mercado”.

Carneiro ressalta que a pesquisa foi um “pontapé inicial” e que há necessidade de se manter a análise em relação ao comportamento do torcedor, uma vez que está em constante mudança. “Os clubes precisam fazer dos seus departamentos de marketing mais do que setores que gerenciam redes sociais e contratos com patrocinadores. Precisam fazer desses departamentos unidades de negócio que podem trazer muito mais receita para o clube”, destaca.

Confira alguns dados do levantamento:

Gênero: 65,9% – masculino/ 33,6% – feminino

Faixa etária: 27,2% – 19 a 23 anos/ 24,2% – 24 a 28 anos/ 14,1% – 29 a 33 anos

Escolaridade: 50,5% – médio completo e superior incompleto/ 24,2% – superior completo

Renda familiar: 33,6% – de R$ 2.712 a 6.779,99/ 23,6% – de R$ 1.356 a R$ 2.711,99 / 21,2% – até R$ 1.355,99

Times

Clubes preferidos em Alagoas: CSA – 40,7% / CRB – 36,3% / Não torce em AL – 14,2% / Não gosta de futebol: 5,2% / ASA – 2% / Outro – 1,6%

Torcem para times de Alagoas e de fora: 49%

Só torcem para times de Alagoas: 31%

Único time/clube preferido: CRB – 40,7% / CSA – 38,5% / ASA – 28,6%

Clube preferido fora de Alagoas: 39% – Flamengo

Hábitos de mídia

TV: assistem a conteúdos esportivos – 36% / telejornais – 24%

Hábitos de TV dos torcedores do CSA: esportivos – 43% / telejornais – 23%

Hábitos de TV dos torcedores do CRB:  esportivos – 41% /  telejornais – 25%

Rádio: nenhum hábito de ouvir: 32% / variados – 23% / esportivos – 16%

Hábitos de rádio dos torcedores do CSA: variados – 26% / nenhum – 25% / esportivos – 19%

Hábitos de rádio dos torcedores do CRB: nenhum – 31% / variados – 22% / esportivos – 21%

Fonte: UFAL

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