Acidente com morte no Beach Park foi causado por ‘excesso de peso’, conclui laudo

Vainkará, toboágua do Beach Park onde ocorreu acidente, tem 29,5 metros de altura — Foto: Arquivo pessoal – Eduardo Tchao/TV

O acidente que matou o radialista Ricardo José Hilário Silva no toboágua “Vainkará”, no Beach Park, foi ocasionado por “excesso de peso” e “distribuição irregular dos participantes” na boia em que quatro pessoas desciam no brinquedo, conforme conclui um laudo pericial da Coordenadoria de Perícia Criminal ligada à Secretaria da Segurança do Estado e obtido com exclusividade pelo G1.

O laudo, concluído em 29 de setembro , aponta que os quatro participantes fizeram uso correto do brinquedo, cumprindo as normas de se manterem na posição correta na boia. O “Vainkará” foi fechado logo após o acidente por tempo indeterminado e retirado da lista de brinquedos disponibilizada no site do parque aquático.

José Hilário morreu no trecho final do brinquedo, em 16 de julho, dois dias após a inauguração da atração. A vítima chegou a receber atendimento no local, mas não resistiu. Ele era turista de Sorocaba, em São Paulo, onde foi sepultado dois dias depois do acidente. A boia tombou após a última curva do “Vainkará”, e Hilário bateu com a cabeça no chão do brinquedo.

O toboágua é utilizado por quatro pessoas, que descem simultaneamente na mesma boia. O limite de peso do quatro participantes deve ser de 320 quilos, conforme as normas do brinquedo. José Hilário desceu com outras três pessoas que somavam 390 quilos, conforme o documento.

O documento diz que os fatores associados ao excesso de peso e a distribuição irregular dos ocupantes na boia são “de responsabilidade do operador/parque, tanto de avaliar o peso total como distribuição dos ocupantes na boia”. Na época do acidente, o Beach Park informou por meio de nota que checa o peso dos participantes; conforme os três sobreviventes que desceram na mesma boia que José Hilário, não houve essa aferição.

O G1 voltou a entrar em contato com o Beach Park afirmou em nota que não irá se pronunciar sobre o laudo e também não respondeu se pretende reabrir a atração.

O G1 também procurou a ProSlide, empresa fabricante do brinquedo, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A equipe composta por três peritos criminais do Governo do Estado do Ceará realizou testes de descida com pesos somando entre 350 e 425 quilos, incluindo testes com 390 quilos, o total somado pelos participantes envolvidos no acidente.

O excesso de peso e distribuição de peso das quatro pessoas fazem com que o “sistema boia-usuários descreve uma trajetória anormal, principalmente no percurso final, onde está compreendida a parte de correção do sistema ou região de frenagem”.
Um outro trecho do documento aponta que o excesso de peso “faz com que o sistema [as pessoas na boia] suba a barreira de contenção (borda lateral) próximo ao túnel de saída [local do acidente], caracterizando um comportamento não esperado, proporcionando o tombamento do sistema, sendo estes os fatores determinantes para o sinistro [acidente].

A defesa da família de Hilário afirmou que até o momento não houve nenhuma proposta do parque aquático relacionada à indenização pela morte.

Sem responsabilidade dos usuários
O laudo afirma que os quatro participantes da descida não tiveram responsabilidade no acidente, mas é inconclusivo ao apontar um culpado. Os peritos afirmam que para avaliar a responsabilidade da empresa fabricante do toboágua é preciso que a ProSlide compartilhe informações sobre o desenvolvimento e montagem do Vainkará, “contudo, embora tenham sido realizadas solicitações formais, tais projetos não foram apresentados” até a conclusão da perícia.

“Essa dinâmica [que levou ao acidente] não depende diretamente do posicionamento ou ações dos usuários ou de um deles especificamente, desde que eles estejam em suas posições originais no momento do evento”, diz um trecho do documento.
Imagens de dois segundos antes do ocorrido confirmam que os quatro ocupantes da boia estavam em posições adequadas.

De acordo com o advogado da família da vítima, João Vicente Leitão, a conclusão do laudo “não deixa dúvidas” de que houve uma série de falhas por parte do estabelecimento. Dentre elas, ausência da verificação dos pesos dos quatro ocupantes da boia.

Na placa da entrada do brinquedo falava que o limite era de 320 quilos. A cada descida teria que haver essa pesagem. Se os pesos dos quatro não ultrapassaria. Isso não foi feito. Também deveriam intercalar pesos entre os mais leves e os mais pesados. Não aconteceu esse trabalho de prevenção por parte Beach Park. O laudo é bem técnico. A família irá contratar um perito também e vamos tomar caminhos jurídicos
— João Vicente Leitão, advogado da família de José Hilário

O laudo apontou ainda que “a responsabilidade do usuário se restringe ao posicionamento correto e em manter a posição adequada no veículo de escorregamento durante o percurso”. Os peritos afirmam que a energia adquirida no momento do tombamento poderia causar lesões fatais ao usuário localizado no ponto mais crítico da boia, posição onde estava Ricardo José.

“É oportuno mencionar que a análise do critério de risco é de fundamental importância para saber se o comportamento descrito (anormal) que foi observado na prática teria sido previsto no momento do projeto, ou se houve falha de previsão desse comportamento, ou se houve determinação equivocada do coeficiente de segurança”, conclui a perícia.

Em nome da esposa de Ricardo José, João Leitão informou que a família da vítima busca voltar à rotina e permanece sem condições psicológicas de conversar acerca do caso. Adriano Castor, amigo de profissão do radialista, disse ao G1 que espera que as “autoridades tomem conta do caso e a Justiça faça a lei prevalecer”.

Secretaria se nega a divulgar o laudo
Contactada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS) se limitou a informar que há um inquérito policial sob a responsabilidade da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE).

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) complementou que por o inquérito ainda estar tramitando, o procedimento não chegou ao órgão, sendo assim, incapaz de ofertar a denúncia. A defesa de Hilário acrescentou que, até o momento, o inquérito vem sendo acompanhado, mas não houve nenhuma proposta do parque aquático relacionada à indenização devido a morte.

Fonte: G1

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