Minha cartinha para Papai Noel

Vai chegando o fim do ano e a cidade, as casas e as pessoas vão entrando no clima de Natal e eu, cheia de nostalgia, deitada no escuro e vendo de longe uma luzinha piscando, vou fazendo um passeio na memória em torno do meu Pedro, ainda pequeno, e do que significava esse período para a gente.

Eu gosto de Natal, mas por muito tempo julguei que gostava apenas da festa, de reunir a família e os amigos, da comemoração e da troca de presentes e só me dei conta que era maior que isso no dia que precisei contar para ele que Papai Noel não existia.

Todos os amigos dele já sabiam a verdade a respeito dos presentes, menos ele, afinal em casa havia todo um ritual para encantar as crianças, eu subia no telhado vestida a caráter e entregava de lá de cima, num saco vermelho, a realização dos desejos das cartinhas.

Junto enviava um cartão a ser lido que falava de cada um dos pequenos, do início da vida escolar, do desempenho nas notas, da formatura do ABC e outros assuntos grandiosos como esses para quem tem poucos aninhos, isso tudo com muitos fogos de artifício para completar a cena.

Era sempre uma expectativa aguardar se nossa casa, toda iluminada para ajudá-lo na localização, faria parte do roteiro das escolhidas para a visita e Papai Noel não falhava conosco, chegava sempre, ainda que partisse rapidamente para cumprir com seus outros compromissos, deixando a criançada hipnotizada com tudo aquilo.

Papai Noel existia o ano todo e me ajudou na educação de Pedro, eu atribuía a ele parte do mecanismo de compensação por merecimento, sempre falando: “lembre de ser bom menino para ganhar presente de Natal”, “cuidado com as notas que ele não gosta de quem não estuda”. Criar filhos tem dessas coisas…

Só hoje me dou conta de ver o quanto de conflito havia nas minhas falas, se por um lado ele era um bom velhinho que não esquecia ninguém, por que então as crianças precisavam ser boas para não serem esquecidas?

No pacote de contradições havia ainda aqueles cartões da Árvore dos Desejos do Shopping, íamos lá escolher um menino de idade semelhante e para ele comprávamos, além do que estava pedido, um outro brinquedo surpresa escolhido por Pedro, alguma peça de roupa, uma caixa de chocolate e um livro, fazíamos um presente grande porque seríamos nós o “único” Papai Noel dele. Como isso era possível se a música dizia “seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem?”

Engraçado é que mesmo Pedro sendo, desde muito pequeno, contestador nunca se deu conta na confusão que eu criava com informações tão díspares e aceitava sem questionamentos todos aqueles rituais.

Mas foi, como disse, no dia que contei pra ele que éramos nós os Papais Noeis em cima do telhado, que me dei conta que não era apenas uma ilusão inventada, que havia muito mais que apenas a festa, que a emoção nos ajudava a exercitar um bom coração para a vida.

Natal parece permitir que sejamos o melhor de nós mesmos, remete a solidariedade, ao perdão, a união dos povos e para mim em particular, a delícia de ter vivido sem reservas o encanto de ter sido um pouco o Papai Noel dos sonhos.

E quando a luz do pisca deixa de entrar pela fresta da cortina, me recordo que a cada ano quando finda a ceia e deito cansada, sorrio sozinha, grata por acreditar na força da magia do Natal, que renova a minha esperança e a certeza que Papai Noel vai atender também ao pedido da minha cartinha, onde escrevo “Paz, fraternidade, saúde, amor e um mundo melhor”.

PS – A minha vida de detalhes eu preencho com rituais repetitivos, um deles, garantir que a casa esteja arrumada com motivos de Natal no dia 2 de dezembro, dia do aniversário de minha mãe, na ilusão que ela se sentirá homenageada e convidada para a ceia e que estará conosco nessa comemoração que nunca se encera.

 

 

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