A ilusão da comunicação atual

Eu gosto de cinema, gosto muito. Cinema me remete a meu avô, a minha mãe, me transporta para um universo imaginário, mexe comigo e ao contrário da pouca opção que havia quando eu era jovem, hoje tem filmes aos montes e disponíveis das mais diversas formas.

Antes, ou íamos ao cinema assistir o que tinha disponível, ou dependíamos dos repetecos da televisão e talvez por isso eu aprendi a procurar, nos poucos que estava a meu alcance, alguma coisa que justificasse assisti-lo.

Podia ser o argumento, a fotografia, uma interpretação ou apenas uma única frase e eu me dizia, “valeu”.

Agora não, agora tem tanta, mas tanta opção, que acabo perdendo mais tempo escolhendo que assistido um filme. Tem vezes que demoro tanto para decidir que sinto sono. Já pensei até em procurar saber se tem plano de pagamento do Netflix só para quem consulta.

A mesma ampliação de oferta aconteceu com o noticiário, ou líamos os jornais e revistas ou precisávamos assistir os telejornais para saber o que acontecia.

Hoje mudou tudo, nunca as notícias tiveram um alcance tão grande, jamais andaram tão rápidas, em tempo algum estivemos tão incluídos nos acontecimentos e de maneira surpreendente, nunca nos comunicamos tão pouco.

As redes sociais entraram na nossa vida como instrumentos vitais de comunicação e isso deveria ser muito bom, mas acabou por revelar uma mediocridade que nem sequer suspeitávamos que existia e antes que você me julgue soberba pelo que disse, posso tentar explicar porque pensei nisso.

Os muitos grupos de disseminação de “notícias” ao invés de se aterem a verdade, escolhem fragmentos de falas e fatos com o objetivo único de reforçar suas próprias crenças, sem se importarem se trata-se de uma semi verdade, ou pior, de uma completa mentira.

Eu, particularmente, que tenho muito respeito pela opinião alheia, ainda que oposta à minha, me entristeço quando ela ē rasa e não me ensina nada. Gosto de quem argumenta de forma coerente, baseado-se em fatos concretos, mas a praga atual de se compreender “antenado” usando frases curtas de manchetes, revela uma pobreza preocupante.

Se não somos capazes de distinguir uma verdade de uma mentira, usando como critério de compartilhamento apenas a vontade de fortalecer nossa opinião, estamos afogando a capacidade crítica que pode ajudar a pensar nas soluções e a guiar nossas decisões para rumos mais acertados.

A quantidade de equívocos e bobagens que são distribuídas e aceitas como sendo argumentos a serem considerados, é um espanto e essa é uma prática adotada por quase todos, eu mesma já me peguei fazendo isso, repassando um fato não confirmado apenas porque simpatizava com o que estava dito (e levando um “pitu” de amigo que é mais cuidadoso).

Me pego pensando que talvez estejamos diante do nosso primeiro passo involutivo, afinal, por toda a história da humanidade andamos para frente usando a inteligência e a vontade de resolver os problemas e é isso que acho que estamos perdendo.

É triste ver o compartilhamento de mentiras, ver que essas desinformações formam opiniões nas pessoas, inclusive as “diferenciadas” e temo pelo mundo que estamos construindo.

O mesmo equipamento e internet que usamos para espalhar alguma coisa, serve para que façamos uma simples consulta para saber se aquilo procede ou se é falso e nada nos custaria fazer alguma confirmação.

Assisti recentemente um filme que não gostei, passei o tempo todo torcendo para ele acabar logo e sem encontrar um motivo para acreditar que valeu o ingresso, (depois que eu entro no cinema só saio quando o filme acaba) e só na última cena que encontrei a resposta que precisava.

Lá estava escrito, “a vida nem ē tão ruim e nem tão boa quanto imaginamos”…

Tenho me lembrado muito disso para não me desconectar definitivamente desse mundo de comunicação rápida, pensando comigo mesma, – pelo menos dá pra separar as pessoas entre as que vale a pena levar a sério e aquelas cuja a opinião não devo ler.

Aprendi com meu avô e com minha mãe mais que gostar de cinema, aprendi a valorizar a verdade, que a fantasia é válida na arte e a acreditar que o caminho da mentira ē uma grande ilusão rumo ao abismo.

Janeira de 2019

 

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