“Eles brincaram com o corpo dele”, diz irmã sobre assassinos de agente socioeducativo

Luiz Walter de Freitas morreu após se envolver em confusão com PM acriano na orla de Pajuçara; família contesta versão apresentada

Reprodução / Arquivo Pessoal

Luiz Walter de Freitas

Duas semanas após a morte do agente socioeducativo Luiz Walter de Freitas, morto em confusão com um PM do Acre, na orla de Pajuçara, no dia 29 de janeiro, a família da vítima contesta a versão apresentada pelo algoz e a atuação da polícia alagoana no caso.

Kátia de Freitas Souza, irmã do agente, conversou com a reportagem do Alagoas 24 Horas e explicou as razões que a levam a crer que os fatos daquela noite não ocorreram como o alegado pelo PM acriano e as pessoas que o acompanhavam.

À época do crime, o soldado Erisson de Souza Cabral se apresentou de forma voluntária à PM alagoana e relatou que Luiz Walter teria chegado ao local onde estavam, nas proximidades da Feirinha da Pajuçara, visivelmente alterado e apontado uma arma para ele e sua esposa.

O militar acriano disse ainda que o ex-coordenador da Sumese teria tentado estuprar sua mulher e que por esta razão entrou em luta corporal com Luiz Walter e desferiu uma coronhada que culminou em perda da consciência.

Para a família, a versão apresentada é mentirosa. “O laudo do IML que nós recebemos mostra que houve hemorragia interna. Órgãos foram rompidos, baço, pâncreas, fígado, rins… Além disso o crânio dele foi aberto, e ele perdeu massa encefálica. Uma coronhada não teria feito isso. O rosto dele ficou desfigurado. Isto é mentira”, afirmou Kátia de Freitas.

Kátia de Freitas ao lado do irmão, o agente socioeducativo Luis Valter

A irmã, que é fisioterapeuta, continua seu relato dizendo que quando chegou ao local ainda aferiu os sinais vitais de Luiz Walter e percebeu que ele estava morto. Ela também disse que foi informada que um policial militar alagoano precisou disparar para o alto para que as agressões cessassem. “Quando eu cheguei ao local a cena havia sido mudada. Só havia algumas latas de cerveja e uma calcinha amarela próxima à mão do meu irmão. Parece até que tentaram justificar a versão que eles mesmos criaram de tentativa de estupro. Mas meu irmão foi jogado ao mar, já morto ou próximo disso. Ele só foi retirado pelos moradores de rua que puxaram ele de volta pra areia”, disse.

Em meio à revolta, outro questionamento feito pela família é sobre a atuação das autoridades alagoanas a respeito do caso. “Por que a delegada não intimou a mulher que se disse vítima de estupro? Por que ela não fez um exame de corpo de delito? Ela se negou e foi simplesmente liberada. Quando se mata alguém, a pessoa tem que ficar, responder por aquele crime, aguardar o inquérito. Por que eles foram liberados? Ninguém sabe onde encontrar essa mulher agora “, questiona, abalada.

Kátia afirmou que a família fez um pedido de afastamento da delegada responsável pelo caso e que o Ministério Público Estadual abriu novo inquérito para apurar o que houve.

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“Minha maior revolta, minha maior dúvida, e eu ainda vou perguntar isso a ele, é que despreparo é este? O que ele ficou fazendo o tempo todo na academia de polícia? Ele poderia ter imobilizado o meu irmão. Poderia até ter dado uma coronhada na cabeça dele para deixá-lo desacordado. Como eles alegam que meu irmão os agrediu e eles não têm um marca sequer no corpo? Um arranhão que seja. Nada. Foram muitos chutes, muitas pauladas, muitas pedradas. Não tinha nada disso na cena do crime”, desabafou.

No dia do crime uma pistola calibre 7.65 mm, que estava em posse de Luiz Walter, foi apreendida.

A Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), ao qual a Sumese era vinculado, se pronunciou oficialmente após o crime dizendo que não havia relatos de comportamento anormal do agente.

Arquivo Pessoal

Luiz Walter de Freitas

Arquivo Pessoal

Luiz Walter de Freitas

 

 

 

 

 

 

 

 

“Eles brincaram com o corpo do meu irmão. Meu irmão foi brutalmente assassinado. Isso não se faz. Ele era um ser humano. Um trabalhador, um pai de família. Ele tinha uma família, uma mãe, irmãs e um filho de 14 anos. E agora além dessa morte horrível, chocante, ainda é chamado de estuprador. Isso não é verdade. Ele não merece isso”, continuou a fisioterapeuta.

“Minha mãe está em estado de choque e eu estou lutando praticamente sozinha por Justiça. Meu irmão chegou em surto no lugar errado. Mas ele não merecia uma crueldade tão grande como essa, uma brutalidade com um homem que eles nem conheciam. Tudo isso é no mínimo despreparo, desse PM e da Polícia alagoana, por não agirem da forma como deveria, mas eu ainda acredito em Justiça”, finalizou.

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