Major do Exército viraliza ao responder a ataques homofóbicos: ‘Inconformados com a felicidade alheia’

Reprodução/Instagram

Quando postou em seu Instagram, no início deste mês, uma foto abraçado com seu marido para comemorar os seis anos de relacionamento, o major do Exército Emerson Cordeiro queria compartilhar sua felicidade. Mas, além das 110 curtidas que a imagem recebeu, ela foi usada para iniciar uma campanha homofóbica on-line.

Cordeiro, que vive em Campo Grande (MS), relatou o caso em seu Facebook, e seu depoimento viralizou — já ganhou 68 mil curtidas. Nele, conta que a imagem foi reproduzida em grupos on-line, inclusive de colegas de farda, com o intuito de ofendê-lo e de “disseminar o ódio”.

Casado desde 2018, o major diz ter informado seus superiores no mesmo dia em que assinou os papéis no cartório. O anúncio, à época, “foi tratado naturalmente, sem alarde”, diz ele.

A publicação da foto, no entanto, não foi recebida com a mesma naturalidade.

“Postei em meu perfil privado do Instagram, pois estava num momento de muita felicidade e realização e achei por bem externar essa felicidade. Em rede social nada é privado, e poucos momentos depois um dos então ‘amigos’ do Exército Brasileiro que estava em minha rede deu um print da postagem privada e divulgou em um grupo de mensagens e daí em diante viralizou a imagem por outros grupos, formados na maioria por militares”, escreveu no Facebook.

Cordeiro conta que, em seguida, começou uma repercussão entre militares que “jamais imaginavam que um oficial de carreira do Exército pudesse assumir sua homossexualidade, ser feliz e realizado no trabalho”.

“Isso foi um soco no estômago dos porcos homofóbicos que nos rodeiam e nos sondam muitas vezes anonimamente, inconformados com a felicidade alheia”, diz Cordeiro, em seu post.

Na publicação, o major afirma seu amor pelo Exército Brasileiro, diz que é uma instituição de “pessoas honradas” e que vem evoluindo em sua aceitação aos integrantes gays. Pondera, no entanto, que ainda há militares que não se conformam com a mudança de pensamento atual e os acusa de ter “medo de despertar para seus desejos proibidos”.

Procurado pela reportagem, o major não retornou até a conclusão deste texto. Em nota, o Exército afirmou que “não discrimina nenhum dos seus integrantes, em razão de raça, credo, orientação sexual ou qualquer outro parâmetro. Os militares têm seus direitos assegurados na forma do que está previsto no ordenamento jurídico vigente”.

No Brasil, os homossexuais são formalmente aceitos nas Forças Armadas e há casos de militares gays e lésbicas que tiveram os cônjuges oficialmente reconhecidos como dependentes. O preconceito que os cerca, no entanto, nunca deixou de existir.

‘Muitos sofrem calados’

Membro do 9º Batalhão de Comunicações e Guerra Eletrônica, o major também criticou a perseguição anônima que vem sofrendo, atribuindo-a a colegas de Exército. “Nem parece que passamos pela mesma honrosa Academia Militar das Agulhas Negras, onde esconder-se no anonimato era um dos atos mais vergonhosos”.

Ele também agradece aos que estão compartilhando a imagem, “por mostrarem as outras pessoas o seu desejo reprimido, sua inveja magoada por minha felicidade e toda a sua pobreza de espírito”.

Cordeiro diz estar “pagando o preço de ser livre”. “As portas da liberdade foram abertas e é lógico que os primeiros que ousarem atravessar essa trincheira sentirão as sequelas das línguas afiadas, dos olhos que fuzilam o diferente, do medo de não poder mais ser igual.”

Em um post mais recente, da noite deste domingo (17), ele afirmou não ser o único a sofrer com ataques homofóbicos, mas diz que outros oficiais, com posições hierárquicas distintas, podem ter tido medo de trazê-los a público, como ele fez.

“Muitos já passaram por isso, sofrendo calados esse tipo de perseguição, pois devido a seu momento na carreira, aspirações e estabilidade não podiam se manifestar.”

Fonte: Extra

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