VAR: a questão da justiça e do “roubo” das emoções no futebol

Cessar de vez com as polêmicas evitando os erros de arbitragem, e, assim, consequentemente, promover a justiça nos gramados onde se pratica o futebol. Era essa a ideia motriz por trás do VAR (árbitro assistente de vídeo, na sigla em inglês). No entanto desde o seu lançamento numa final de Mundial de Clubes em 2016, a utilização do recurso tecnológico segue uma sina de críticas recorrentes. De atletas a treinadores, perpassando por dirigentes, torcida e mídia especializada, o que não faltam são vozes que retumbam em críticas ao VAR.

De acordo com o Diário Prime, o  ex-jogador francês e atual treinador do Real Madrid, Zinedine Zidane, ainda em 2016 demonstrou descontentamento com o recurso. Na ocasião, ele pedia mais clareza por parte da arbitragem, na utilização do VAR.

Já o croata Luka Modric, eleito pela FIFA melhor jogador do mundo nas temporadas 2017/2018, foi ácido em suas observações: “Para ser honesto, não gosto. Cria muita confusão. Outro dia tivemos uma reunião explicativa, mas para mim não é futebol. Espero que esta regra não continue (…)”, disparou.

Uma Copa do Mundo (Rússia 2018) também já se passou com a utilização do VAR, e, de lá pra cá as coisas não mudaram muito. O que viria para trazer mais justiça ao jogo, e, por conseguinte, pacificação dos ânimos, parece gerar um efeito ao contrário. O árbitro assistente de vídeo segue colecionando polêmicas, reclamações e críticas severas.

“Roubo” da emoção

A partida de volta, por exemplo, entre Manchester City x Tottenham, pelas quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, levantou a discussão sobre o “roubo” da emoção no jogo de futebol ao vivo.

Numa partida histórica, onde os Citizens venciam por 4×3, e viriam a fazer o placar de 5×3 nos acréscimos, consolidando, portanto, a classificação para a próxima fase, o VAR entrou em cena.

Enquanto o estádio em êxtase comemorava a classificação, o lance era revisado e o gol, por sua vez, anulado. O calcanhar esquerdo do atacante argentino Sergio Agüero, ligeiramente impedido, invalidou o lance de gol do colega de ataque, o inglês Sterling.

Para os torcedores dos Spurs, claro, sentimento de alívio. Porém, para muitos apaixonados por futebol, uma sensação meio estranha parecia brotar. Era uma espécie de anticlímax, conforme destacado nas palavras do comentarista da ESPN, Mauro Cezar Pereira:

“Que é justo é claro que é justo; o Agüero estava impedido e isso não se discute. (…) o impedimento é inquestionável. Tratando o futebol friamente você Vde pensar: foi justo, ponto final, vamos embora. Mas do ponto de vista do que é o futebol, do quão emocionante ele é, e do que ele representa para tantas pessoas no planeta terra, foi muito brochante, foi uma maldade com o futebol”.

Em outras palavras o comentarista estava dizendo que, comemorar efusivamente um gol, por exemplo, e depois de alguns minutos (que podem parecer uma eternidade pra muita gente) perceber que tudo foi um engodo, uma inutilidade, pode produzir uma sensação pior que a eventual injustiça técnica do lance.

É o que pensa o filósofo e também torcedor de arquibancada Odlave Morrazul, que assevera: “O VAR diminui o futebol como a mais perfeita metáfora da existência. Torna esse esporte apaixonante numa coisa certa demais. A nossa consciência quer justiça sim, mas nos limites da nossa imperfeição”.

Ele ainda completa: “(…) ele rouba a emoção das soluções imperfeitas. Ele é contra a nossa própria natureza, vez que somos imperfeitos. Todos sabemos que não existem câmeras e possibilidades de se voltar atrás nos resultados dos lances da vida. Na maioria das vezes, assimila-se o golpe e tenta dar a volta por cima. É assim que os adultos fazem: bola pra frente”!

Em meio à polêmica, existem sim, claro, os defensores do VAR. Independentemente das circunstâncias, há o apego à possibilidade de se fazer justiça dentro das quatro linhas, em detrimento de supostas “emoções roubadas”.

Portanto, o que valeria mesmo, seria a chance de se determinar o que é justo nos confrontos, em conformidade, assim, com as regras do jogo.

O VAR faz justiça mesmo?!

Mesmo sabedores de que o VAR pode não fazer justiça em todos os lances dentro de campo, seus defensores dirão que o que realmente importa, é a possibilidade de se evitar que grandes injustiças ocorram.

No entanto, alguns questionam isso. É o caso, por exemplo, de André Rizek, apresentador do canal SPORTV. Além de criticar o fato do árbitro de vídeo manter “congelada a emoção depois de um gol”, ele dispara contra uma suposta falsa sensação de justiça.

Segundo Rizek: “Justiça seletiva não é justiça. O futebol continua potencialmente injusto com o VAR. Um lateral mal marcado pode ocasionar em gols. Uma falta não marcada no meio-campo pode ter reflexos graves na partida. Nada disso acontece em esportes como o tênis”.

O jornalista defende seu ponto de vista, apontando as diferenças reais entre o futebol e outros esportes, que, também, sofrem interrupções em função do árbitro de vídeo; porém, pra ele, sem provocar danos à sua dinâmica.

Seguindo essa linha, Mauro Cézar Pereira reafirma que, “futebol não é óbvio, não é previsível, não é mecânico. Futebol é apaixonante porque ele é assim. Ele é injusto, ele é cruel, reserva coisas que você não imagina que vão acontecer. Por isso é o esporte rei”.

Com justiça demais ou de menos, o que fato se percebe é que, apesar de surgir no mundo do futebol para diminuir as controvérsias, essa previsão não se cumpre com o VAR. Pelo menos ainda não. O árbitro de vídeo ainda está longe de ser unanimidade e abrandar as polêmicas ao seu redor.

 

 

Fonte: Diário Prime

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