A esperança no Rei Leão

Arquivo Pessoal

Essa semana fui ao cinema e lá, antes de iniciar o filme, passou um trailer da refilmagem de Rei Leão e com os olhos cheios de emoção, fiz um passeio ao passado. Na época do lançamento usávamos DVD e Pedro ainda bem pequeno, algo em torno de 3 anos, elegeu esse filme como preferido e, como toda criança, gostava de repetir infinitas vezes a mesma história. Ele ligava a TV, pegava a “fita”, empurrava no equipamento, virava para mim e dizia “senta, mamãe”, e quando os diálogos iniciavam ele ia repetindo e me cobrava, “fala, mamãe”. Era a senha, eu devia dar seguimento a ele para que fossemos intercalando as falas dos personagens. Por isso, quando na telona do cinema foi proposto uma brincadeira de escolher, em múltiplas opções, a continuidade das cenas selecionadas, testando se lembrávamos do filme, eu não sabia apenas o que iria acontecer, eu sabia exatamente a fala seguinte do personagem. Eu ainda era jovem, além da memória afiada, tinha também uma coleção de certezas e exatamente como Pedro, me sentia confortável em “prever” o que aconteceria na sequência. Olhava para o futuro, quase que vendo se materializar os sonhos que tinha. Se me fosse solicitado eu conseguiria escrever uma agenda dos anos vindouros. Como parte das mulheres jovens de vida simples, sabia que iria criar meu filho, concluir meu ciclo de trabalho, me aposentar e curtir netos. Eu quase sentia o cheiro do amanhã de tão real que era. Tudo possível de acontecer. Possível, mas não garantido… e só depois de passados alguns anos é que me dou conta da ilusão que era aquela vida inventada e se naquela época me sobravam certezas, hoje me sobram dúvidas, se naquela época me sobrava coragem, hoje me sobra medo. Medo da aposentadoria, medo de não ver os netos, medo da invisibilidade, medo da dependência, medo de tudo, um medo alicerçado no crescimento das dificuldades que a sociedade atual consolidou como realidade. Naquela época meu problema era espichar o dia para caber algum ócio, era imprimir minhas crenças nos locais que passava, era conseguir cumprir com o script que inventei em função do futuro, hoje reconheci o equívoco, mas tinha a minha disposição a esperança. Hoje desejo que os momentos de possível reflexão passem rápido para eu não precisar pensar muito, percebo que o tempo levou as certezas, vejo tudo com olhos de receio e sentada naquela sala de cinema lembrei que chorava sem reservas e sem pudor num filme, mas encarava com mais facilidade o mundo real a minha volta. As crianças repetem tanto as mesmas histórias porque é bom ter a ilusão de que controlamos alguma coisa e concluo que errei quando usei todas as minhas certezas lá trás, seria bom que tivesse restado alguma coisa dela para encarrar a nova ordem que nada tem de previsível. Quem assistiu ao Rei Leão sabe que se trata de Shakespeare, mas como é direcionado para crianças, transformam o mundo caótico alicerçado na traição, inveja e egoísmo, numa realidade de paz e prosperidade, usando a esperança como instrumento, por isso vou ao cinema ansiosa assistir mais uma vez a mesma história em busca de renovar essa mensagem. No princípio da minha vida de mãe o pequeno Simba me ensinou o valor da amizade, da honra, da Majestade do cargo e principalmente paciência, ele agora terá que me ensinar mais…

Fonte: Katia Betina

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