Um amor infinito

Agora é oficial, no final desse mês, dia 28, Pedro se muda para Europa para fazer um doutorado, vou pela primeira vez, em 26 anos, viver uma rotina sem a sua presença constante.

Se eu tentar definir o que estou sentindo, o mais perto que consigo é admitir uma avalanche de emoções impossíveis de serem organizadas, uma grande mistura de sentimentos, que vão desde uma imensa felicidade pela conquista, até o pesar pelo vazio que vai ficar, mas não encontro uma forma única para descrever esse momento.

Ao mesmo tempo que me digo que sempre soube que seria assim, que isso ia acontecer, que esse era o destino esperado e que posso me sentir orgulhosa do caminho que trilhamos, agora que chegou a hora de ir juntando as coisas que ele vai precisar para essa nova vida, tenho sentido um aperto tão grande no peito que fica difícil de respirar.

Cada coisa que pego me remete a uma recordação diferente, compro uma bota e lembro do sapatinho do primeiro aniversário. Separo as roupas de frio, e lembro das mudas de roupa que eu arrumava, juntinho, de forma que não houvesse dificuldade de encontrar na mochila, quando ia passar o dia na casa de um amigo.

E nesse “passeio” recordo que ele deu os primeiros passinhos dois dias antes de completar um ano, olhando simultaneamente para o chão e para mim, pezinhos descalços, bracinhos abertos, tudo num equilíbrio frágil, e fantasio que senti a mesma emoção de agora. O certo ē que a partir daquele momento, cada vez mais o seu caminhar se fortaleceu e cada vez menos eu era necessária.

Tentando olhar o futuro, encho os olhos das histórias do passado, lembro menos das grandes conquistas, e mais do dia a dia de detalhes, das leituras antes de dormir, dos filmes que assistimos juntos, das opiniões que íamos trocando a respeito dos acontecimentos, do aprendizado mútuo.

Relação com filho é transformadora, mágica, enriquecedora, mas é feita de uma rotina de responsabilidades e me pergunto – como será a vida sem a cobrança de uma dispensa abastecida para não faltar nada? Ou a rotina, sem o desafio de manter a casa organizada sem aquele monte de sapatos debaixo da mesa?

A vida será diferente… terei mais tempo livre para sentir saudade do tempo que não me sobrava um segundo sequer sem ter alguma ocupação com Pedro ou por Pedro. Vai sobrar espaço para me certificar mais e mais que nada do que fiz, foi tão importante quanto ser mãe dele.

Meu filho segue exclusivamente com seus pés rumo a uma vida nova, daquele menininho de equilíbrio frágil que me procurava com o olhar, carecendo da minha mão ou do meu apoio, muita coisa mudou, mas não mudou o meu amor, um amor infinito, que agora sobreviverá do alicerce que construímos ao longo do tempo, que nada, nem a distância de outro continente, nem a falta da sua presença, ou o vazio da sua ausência, irá diminuir.

Dentre as muitas coisas que essa relação me ensinou, uma delas foi conter minha ansiedade, tive que esperar pelo seu nascimento para conhecer sua carinha, tive que me reinventar para não fazer, por minha conta, os trabalhinhos da escola, tive que esperar o tempo do amadurecimento para atribuir responsabilidades, e vou precisar me valer desse aprendizado para esperar pelas oportunidades de reencontros para que eu possa, agora, menor que Pedro, abraçá-lo em silêncio e ouvir o bater do meu coração no peito dele.

Outubro de 2019, um mês que jamais esquecerei.

 

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