Filha do vice-presidente do Brasil desafia Cracolândia

Luciana Temer, secretária de Haddad, fala sobre programa assistencial que ainda gera polêmica.

Bárbara Garcia/R7Luciana diz que não pretende seguir carreira política

Luciana diz que não pretende seguir carreira política

Há cerca de um mês, quando a Prefeitura de São Paulo começou a retirar barracos instalados na Cracolândia e encaminhar dependentes químicos para hotéis, a figura da secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Luciana Temer, teve destaque. Com roupas sóbrias e discurso firme, ela costuma circular pela região para conversar com usuários de drogas e acompanhar o desenvolvimento da operação Braços Abertos. Em entrevista exclusiva ao R7, diz estar disposta a enfrentar o problema histórico no centro da maior cidade do País.

Filha do vice-presidente Michel Temer, Luciana é especializada em direito constitucional e, aos 23 anos, já era delegada na área da Defesa da Mulher, em Osasco. Hoje, aos 44 anos, divide-se entre o gabinete e a sala de aula na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), onde é professora há 20 anos.

A ação na Cracolândia é quase um projeto pessoal para a secretária, que afirma ter estado sempre ligada às questões sociais. Segundo ela, o programa começou a ser pensado há cerca de um ano, quando assumiu a pasta, e é resultado de experimentações.

Ao defender ações coordenadas entre prefeitura e polícias para evitar confrontos com dependentes químicos, a secretária diz que “deu vontade de chorar” quando soube da operação do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico). Duas semanas após o início do programa, agentes usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os usuários.

Luciana conta que sua indicação ao cargo não tem relação com seu pai. Foi uma indicação do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), depois que ela participou diretamente da campanha dele à prefeitura em 2012.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

R7 – Qual foi a opinião do seu pai quando a senhora decidiu assumir o cargo de secretária?

Luciana Temer – Meu pai se preocupou, logicamente, em que pareça que sou uma indicação porque sou filha dele. Então, há uma preocupação de pai, de preservação. A verdade é que não houve uma resistência interna do PMDB e ele acabou se convencendo de que eu enfrentaria essa questão.

R7 – Como é a sua relação com ele?

Luciana – Eu tenho uma relação muito boa com o meu pai, até porque nós dois somos da área jurídica. Mas nós temos características absolutamente diferentes. Meu pai tem uma carreira política, eu não. Estou em uma situação de gestora pública, mas não construí e não pretendo construir uma história política como a do meu pai. Lógico que eu converso com ele e troco ideias até porque ele tem uma vivência na área que me ajuda em muitas situações.

R7 – Por que a senhora diz que não quer seguir uma carreira política?

Luciana – A única carreira que eu tenho certeza que será minha até o fim da vida é a carreira acadêmica. Acho que não tenho o perfil eleitoral. Não me vejo disputando uma eleição, nem consigo projetar isso.

R7 – Entre 2001 e 2002, a senhora foi secretária estadual da Juventude, Esporte e Lazer, no governo Alckmin. Houve algum motivo para que ficasse afastada da vida pública após deixar essa pasta?

Luciana – Não é que eu fiquei afastada. Foram algumas ocasiões em que eu acabei vindo como gestora. Não tenho uma pauta de vida para a vida pública. Tive a oportunidade de integrar a gestão do Geraldo Alckmin em 2001-2002, na Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer. Nesse período eu tive uma experiência de gestão que foi muito rica. A Febem [atual Fundação Casa] era ligada à pasta da Juventude e eram questões sociais.

R7 – Quais são as características básicas para estar à frente da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social?

Luciana – Você tem que ser um administrador, não adianta só você ter boas ideias se você não tiver a possibilidade de gerenciar o que você tem na mão. É fundamental uma boa visão de gestão pública. É uma característica da assistência social que você, indiscutivelmente, tem que gostar de gente. Se não gostar de gente, não dá para ficar aqui. Se você for indiferente ao sofrimento das pessoas, não dá para ficar aqui. Esse equilíbrio é muito tênue.

R7 – Quando soube da ação do Denarc na Cracolândia, a senhora teve receio de que pudesse prejudicar o programa da prefeitura?

Luciana – Lógico que tive. É um vínculo que a gente vem construindo há muito tempo e quando houve a ação, eu confesso que deu vontade de chorar. A gente imaginou que tivesse destruído o vínculo, que as pessoas não soubessem distinguir o que é uma ação nossa e o que era a ação do Denarc, o que é o Estado, o que é a prefeitura. Mas não fragilizou, fortaleceu nossa ação. A gente viu que essa construção está sólida. Eles nos conhecem, a gente está todo dia lá.

R7 – Quais as principais dificuldades que estão sendo enfrentadas durante a ação na Cracolândia?

Luciana – Agora temos o desafio de desarticular aquele espaço de uso livre de droga e também tentar incluir [no programa] essas pessoas que estão lá, até mais hostis, mais resistentes, sem a questão policial. Também temos muita dificuldade em encontrar imóveis para colocar essas pessoas. Ninguém quer locar imóvel para fazer serviço à população em situação de rua. Tudo é uma grande negociação com a sociedade. Por isso a gente caminha em passos lentos.

Fonte: R7

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