Tributo ao Cangaço leva multidão à Gruta de Angico

Alagoas24horasJovem veste trajes temátricos do Cangaço

Jovem veste trajes temátricos do Cangaço

O Vale do São Francisco, a poucos quilômetros da cidade sertaneja de Piranhas, foi o cenário de encontro entre gerações nas homenagens de tributo ao Cangaço. Diante do altar improvisado no coração da Gruta de Angico, homens e mulheres rezaram e entoaram músicas de mãos dadas, relembrando a data histórica do massacre a Lampião e parte de seu bando.

Numa região de difícil acesso, situada nos limites dos municípios sergipanos de Poço Redondo e Canindé, duas cruzes fincadas sobre uma imensa pedra simbolizam os túmulos dos cangaceiros Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e de sua mulher, Maria Bonita. Estavam lá também, os nomes dos nove cangaceiros mortos junto com o casal, em 1938.

Mais de 300 pessoas entre moradores dos estados de Sergipe e Alagoas, pesquisadores, historiadores, jornalistas e turistas que visitam as cidades de Piranhas (AL) e Poço Redondo (SE), se aventuraram por trilhas de caatinga, para participar das celebrações ao 28 de julho. A missa, organizada pela Prefeitura de Poço Redondo, contou com o apoio da Prefeitura de Piranhas.

Filha de Lampião

A celebração foi repleta de momentos de muita emoção. Historiadores prestaram declarações emocionadas a respeito da data, jovens cantaram e realizaram apresentações temáticas. Todo ritual foi compartilhado por Espedita Ferreira, filha de Lampião e Maria Bonita, e duas netas dos cangaceiros, entre elas, Vera, ativista e defensora da importância histórica e cultural do movimento do Cangaço.

Os visitantes e convidados da 8ª Missa do Cangaço começaram a chegar a Gruta de Angico no início da manhã. Vieram em barcos ou catamarãs que cruzaram o Velho Chico, saindo da cidade de Piranhas, de ônibus, ou a pé, por acessos existentes nos limites de Poço Redondo, em Sergipe.

"Tinha que ver tudo isso com meus próprios olhos", declarou emocionada a aposentada sergipana Maria de Lourdes Silva, que assistiu a missa na companhia de duas filhas.

Mito sobrevive

Há 67 anos, nos limites da fazenda Angico, em Poço Redondo, Lampião e outras dez pessoas foram fuzilados numa emboscada que também resultou na morte de sua mulher, Maria Bonita.

A execução do rei do Cangaço representou também a desarticulação e fim do movimento considerado um dos mais importantes fenômenos de resistência social do sertão nordestino.

"Lampião é um mito. Angico é um fato", observa Alcino Alves Costa, 65 anos, autor de ‘Lampião Além da Versão ‘Mentiras e Mistérios do Cangaço’. Defensor de teorias polêmicas sobre o episódio de Angico, o pesquisador sergipano não concorda com os relatos oficiais sobre o massacre de Lampião e seu bando. "As coisas não aconteceram como a história conta", diz Alcino Costa.

Para o historiador Amaury Correia de Araújo, que atuou como consultor do seriado global ‘Lampião e Maria Bonita’, o 28 de julho deve ser encarado como um marco histórico para o Nordeste."Essa missa mostra que Lampião não morreu em 1938. Ele permanece vivo até hoje", declarou emocionado o historiador.

Fenômeno em alta

De acordo com historiadores, a intensa procura de pesquisadores e fãs do Cangaço, sobre informações e novas teorias a respeito da história de Lampião e seu bando, revela a importância de um mito que sobrevive ao tempo.

"Na década de 40 existiam apenas quatro livros sobre o Cangaço. Hoje o número de livros lançados já soma 160 obras", revelou Araújo.

Para o prefeito da cidade de Piranhas, Inácio Loiola de Freitas, apaixonado pelo tema e para quem Lampião e Padre Cícero representam os maiores ícones do Nordeste, o resgate da importância histórica da figura do rei do Cangaço revela outros capítulos não explorados pela história, como a importância de nomes como o governador alagoano Osman Loureiro e do aspirante da polícia e delegado Francisco Ferreira, personagens decisivos na execução de Virgulino e fim do movimento do Cangaço.

Acompanhe outras reportagens em nossa série de especiais sobre o Cangaço

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