Bispo vê malícia no projeto de transposição

Refeito depois de onze dias de greve de fome, o bispo Luiz Flávio Cappio voltou a falar contra a transposição das águas do Rio São Francisco; ele vê malícia no projeto. “A malícia está nas entrelinhas”, sustentou na sua primeira entrevista após o protesto que teve repercussão internacional.

“A propaganda da transposição é muito bonita e uma pessoa desavisada vai pensar que o projeto resolverá o problema da sede e da fome no Nordeste”, sustentou o bispo; para ele, essa visão falsa do projeto disfarça a verdadeira finalidade da transposição, que é o atendimento aos megas-projetos do agronegócio.

ESTUDOS

Bispo de Barra, município baiano à margem do Rio São Francisco, dom Cappio promoveu em 1995 uma viagem da nascente à foz para fazer o levantamento ambiental e denunciar a degradação do rio. A viagem de estudo rendeu o livro “Rio São Francisco: Caminhada entre a vida e a morte”.

A greve de fome de onze dias repercutiu em 30 países e obrigou o governo a mandar emissário para convencer o bispo a suspender o protesto, mas, internamente, ou seja, no meio do clero, houve divergência de opinião; setores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condenaram a greve de fome por atentar contra a vida.

DEFENDE-SE

Para os que criticaram a greve de fome, tentando compará-la ao suicídio e ao aborto, dom Cappio citou o Evangelho de Jesus: “Só o jejum e a oração superam as tentações. O bom pastor se sacrifica sempre pelo seu rebanho”; e, depois, lembrou o gesto de São Maximiliano, que se ofereceu para morrer no lugar de judeus condenados nos campos nazistas durante a II Guerra Mundial.

“Sou pastor daquela gente, vivo ali há mais de 30 anos, portanto, tenho de defender e até de me sacrificar por aquelas pessoas tão carentes. Na minha diocese tem lugares à 500 metros da beira do rio que não tem água. E o que eu vou dizer aquela gente, como vou explicar que eles morando na beira do rio não tem água?”, indagou.

VITÓRIA

Dom Cappio também citou a homilia de seu superior, dom Geovanne Batista, chefe da Congregação dos Bispos, que pede para que todos sejam bons-pastores e que, se necessário, dêem a vida pelo seu rebanho.

Ele não considera seu gesto atentatório aos preceitos cristãos e, mesmo afirmando que a greve de fome não foi “jogo de cena”, tinha a certeza de que não iria morrer. “Os brasileiros são solidários e eu sabia que iríamos dialogar; sabia que não seria necessário ver o sangue escorrer”.

Para o bispo a vitória da luta contra a transposição pode ser medida pela garantia da liberação de R$ 300 milhões por ano para a revitalização do São Francisco. Dom Cappio citou quatro pontos fundamentais, garantidos no acordo com o governo. 1) A recuperação das nascentes e afluentes. 2) A recuperação das matas ciliares, que protegem os barrancos. 3) Contenção dos esgotos. 4) Gerenciamento das águas para grandes projetos de irrigação.

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