Querido blog

A cultura blogueira não é mais novidade para ninguém. Desde que foi popularizado, o blog – espécie de diário na internet – vem ganhando alguns adeptos e perdendo outros. É que a necessidade de atualização constante acaba também desmotivando os novos blogueiros. “Criei meu blog e, nas primeiras semanas queria atualizar diariamente. Mas depois se tornou uma obrigação e a preguiça venceu. Acabei abandonando o blog. Faz mais de um ano que não atualizo. Nem sei como está ”, explica a estudante universitária Carla Monteiro.

Por outro lado, ficam os que curtem a cultura blogueira como um exercício da escrita e, ao mesmo tempo, como um canal de comunicação poético, diferente do telefone e até mesmo do e-mail, já que no blog ‘publica-se’ não só textos, mas imagens e até músicas.

Em Maceió, os blogs mais visitados têm como temática principal o dia-a-dia dos blogueiros, em especial comentários sobre situações inusitadas ou momentos de reflexão. É o caso dos blogs “Sabor e Caderno” e “Memórias de um Cheira-cola”, que misturam poesia, referências literárias, música e comentários da vida pessoal dos autores.

Mas há quem preste serviço através dos blogs. Durante os anos de 2003 e 2004, a jornalista baiana Paula Góes, que morou em Maceió e trabalhou na TV Gazeta de Alagoas, foi estudar em Londres e, vivendo a experiência de morar na Europa, decidiu lançar um blog, o London. Espécie de “relato dos apuros e descobertas de uma brasileira em Londres”, o blog tornou-se uma referência em informações sobre a cidade para uma expressiva comunidade de estudantes brasileiros que mora na capital da Inglaterra.

Com linguagem direta e envolvente, Paula passou a colaborar no “Oi Londres”, o mais importante site sobre a cidade voltado ao público brasileiro e o blog foi citado numa matéria da tradicional revista Seleções, lançada nos anos 20 e publicada atualmente em mais de 60 países pela editora norte-americana Reader’s Digest.

“Umbiguismo canalha”

Reunião de amigos, o blog Assim Assado, da jornalista paulista – formada pela UFAL – Érika Morais, está mais para “umbiguismo canalha”, como ela própria define, do que para “querido diário”. “Também não acho que exista uma literatura de blog ou jornalismo de blog. A essência é a mesma, só muda o meio”, declara.

Para Érika, um dos pontos fortes de um blog é o fato de não haver um editor. Como em um fanzine (publicação de caráter amador, feita sem intenção de lucro), o escritor é o editor, revisor, diagramador. “Admiro quem consegue definir uma linha, como escutamos tanto sobre pessoas que apenas publicam contos, ou notícias e até mesmo o velho “querido diário”. São weblogs que, através de uma “linha editorial” conseguem atrair um leitor específico, mas eu… bom, o Assim Assado é bem parecido comigo. Nele falo para os meus amigos, principalmente os que estão longe, saberem como anda minha vida”, explica.

Em abril deste ano o blog da jornalista foi citado como dica de leitura em uma das colunas musicais mais lidas do Brasil, a Zap n’ Roll, feita pelo jornalista Humberto Finatti. Érika deu uma “bronca” no editor, mas a citação atraiu visitantes e elogios de vários estados brasileiros, o que é sempre bom para quem escreve.

Do blog para o livro

No Brasil, há pouco mais de três anos a ‘febre blogueira’ fez surgir um fenômeno curioso: o blog passou a ser a vitrine dos novos talentos. Foi assim com a gaúcha Clarah Averbuck, que através do blog “Brazileira Preta!” despertou a atenção das editoras.

O primeiro livro, “Máquina de Pinball” saiu em 2002 com uma tiragem inicial de três mil exemplares, o que não é pouco para uma primeira impressão. Clarah já está no terceiro livro e, no auge da novidade, seu blog chegou a receber 1.300 visitas num único dia. O conteúdo? Pileques homéricos, uma pitada de literatura, rock, os bares descolados de São Paulo, as transas da autora, o casamento, uma gravidez inesperada e a experiência de ser mãe. Tornou-se um ídolo entre o público jovem.

Assim como Clarah, João Paulo Cuenca também foi descoberto como blogueiro. Hoje assina uma coluna na versão feminina da revista mensal TRIP, a TPM (Trip Para Mulheres), onde recebe centenas de e-mails de fãs de todo o país. Alguns blogs também passaram direto da internet à gráfica. É o caso da própria Clarah Averbuck, cujos posts (páginas do diário virtual) viraram páginas de um dos seus livros, o esgotado “Das coisas esquecidas atrás da estante”, que traz uma seleção de textos, na íntegra, do blog.

Passada a febre da novidade, o blog passa agora à condição de espaço para o exercício literário, jornalístico ou simplesmente de bate-papo e troca de idéias entre amigos, sem pretensões de virar obra-prima. Na vertiginosa velocidade das tecnologias contemporâneas de comunicação, a onda agora é o Orkut. Pelo menos até o próximo lançamento.

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