Em filme, Maradona volta a alfinetar Pelé

Poucas horas depois de ser detido pela polícia brasileira, o ex-jogador e agora ídolo pop argentino Diego Maradona passava por um tapete vermelho, sob chuva de papéis picados e show de luzes, para chegar à sala da pré-estréia de "Amando a Maradona", sua biografia autorizada, um dos três filmes sobre ele que devem estrear em 2006.

Cantando como num estádio, a platéia de convidados esperava o início do documentário: "Brasileño, brasileño/ qué amargado se te ve/ Maradona es más grande/ es más grande que Pelé".

Acompanhavam, ruidosos, os primeiros momentos do filme: tela escura, se ouve a narração do segundo gol de Maradona na vitória de 2 a 1 sobre a Inglaterra na Copa-86 –aquele em que ele dribla vários rivais desde a intermediária, passa pelo goleiro e marca.

Não se passaram nem dez minutos de filme e Pelé, a obsessão comparativa, já estava na tela. "Respeito Pelé no futebol. Mas usar a gravata com as cores dos EUA me parece asqueroso", ataca Maradona, em referência à participação do brasileiro na festa de encerramento da Copa de 94.

Fala com dificuldade, 50 quilos mais gordo, em imagens gravadas em Havana dois anos atrás.

Impressiona o contraste absoluto com a nova silhueta de Maradona, de novo delgado, que recebeu Pelé na histórica estréia de "La Noche del Diez ", o espalhafatoso talk show que apresentou na TV argentina neste ano.

As câmeras vão, então, para Copacabana, perguntar quem é melhor: o argentino ou o brasileiro? Arrancam elogios, alguém fala do carisma do ex-jogador. Depois, o próprio Pelé aparece, numa brincadeira de edição, "admitindo" em entrevista a superioridade de Maradona. Delírio da platéia.

Além de divertir o público à custa de Pelé, o filme do estreante diretor Javier Vázquez mostra o calvário do argentino: obeso, sem dinheiro, longe dos filhos, com torcedores na porta da clínica de Buenos Aires, onde esteve perto de morrer em 2004.

Perto do que, à altura, era o ocaso, Maradona volta à carga. Meses antes de estrelar os protestos anti-Bush na Argentina em novembro último, exibe as tatuagens de Fidel Castro e Che Guevara, elogia Cuba. Se no campo há dúvida, fora dele não: Maradona é mais "personalidade" que Pelé, é o que parece dizer o filme.

O ex-craque acusa os cartolas argentinos de não o terem defendido no caso de doping em 1994, afirma ter sido "usado" por João Havelange, ex-presidente da Fifa.

Tudo é homenagem, emoção e linguagem publicitária (Vázquez é ex-publicitário) para mostrar o fanatismo por Maradona. Quase não se menciona a cocaína, há entrevistas dos pais do ex-meia e de fãs do argentino em Nápoles.

Para os aficionados pelo futebol do argentino, mas nem tanto pelos "maradonismos", vai faltar bola em jogo. "As mulheres vão gostar do filme, o lado família do Maradona", aposta Vázquez, que se associou ao ex-jogador e dividirá os lucros com ele. Uma produtora neozelandesa também participou do filme.

"Amando a Maradona" estréia em 12 de janeiro nos cinemas de Buenos Aires e do litoral. A estréia internacional está prevista para abril, mas o diretor ainda busca um distribuidor brasileiro. O filme é o primeiro da onda Maradona "estrela de cinema".

No primeiro semestre de 2006, deve estrear o documentário que está sendo filmado pelo premiado diretor balcânico Emir Kusturica -produção que também tem a simpatia do ex-meia. O italiano Marco Risi filma ainda "Maradona en la mano de Dios" (título temporário), ficção que não teve roteiro aprovado por Maradona.

Fonte: Folha de S. Paulo

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