Testemunha secreta desvenda crime organizado em Rio Largo

A operação Mata do Rolo – desencadeada pela Polícia Civil e Militar, na manhã de hoje – só foi possível – segundo o delegado da Distrital, Marcílio Barenco – depois de dois intensos meses de trabalho. No entanto, para chegar aos 15 presos, incluindo o tio do vereador Júnior Pagão (PV), Carlos Jorge Cardoso, a Polícia Civil contou com uma ajuda e tanto: uma testemunha secreta resolveu abrir o jogo sobre o crime organizado em Rio Largo.

Conforme Barenco, as informações colhidas no depoimento desta pessoa – que aconteceu na tarde de ontem no prédio do Ministério Público – revelam o envolvimento de mais de 20 pessoas em crimes de extermínio, assaltos, seqüestros, roubo de carros, entre outros delitos. Todos seriam comandados – ou sub-comandados – pelo vereador foragido Júnior Pagão, que mesmo sumido continuava assinando os cheques de pagamento dos demais vereadores da cidade.

Ninguém sabe o paradeiro da testemunha, nem sua identidade, a não ser a cúpula da Polícia Civil e o Ministério Público, que tem atuado como parceiro forte, como coloca o próprio Barenco. No entanto, as informações prestadas deixaram o delegado apreensivo e cauteloso, como ele mesmo colocou.

“Só vamos divulgar maiores detalhes do inquérito, quando todos estiverem presos, os depoimentos tomados e o trabalho da Polícia Civil concluso”, disse Barenco. Motivo para o sigilo: as pessoas que ainda não foram presas e os nomes que podem estar interligados a uma das maiores redes criminosas do interior de Alagoas, envolvendo possíveis políticos e empresários. “Todos podem ter envolvimento com Júnior Pagão”. O vereador já foi citado como líder de seqüestradores e de puxadores de carro.

Barenco não quis comentar sobre a possibilidade de um deputado envolvido. Deixou no ar a sensação de que “tudo é possível”. Por enquanto, os 15 presos – todos já citados nominalmente pelo Alagoas 24 Horas, durante a cobertura da operação Mata do Rolo – foram transferidos para o Cyridião Durval, no intuito de manter o isolamento para desbaratinar o restante da quadrilha.

A pressa para a prisão destes era tanta que o diretor geral da Polícia Civil, Robervaldo Davino, acionou 22 delegados ainda durante a madrugada. 31 viaturas com 120 homens foram reunidos nas proximidades do Aeroporto Zumbi dos Palmares. Saíram em bando para Rio Largo às 4 horas, quando Davino decretou pelo rádio: “Operação Mata do Rolo, liberdade de ação”.

Um dos presos mais “ilustres” foi preso em Tabuba, no litoral Norte de Alagoas, outros quatro conseguiram fugir. Ricardo Schavuzzo, marido da prefeita de Rio Largo Vânia Paiva (PMDB), não quis comentar nada com a imprensa, saiu escoltado por amigos. Inclusive um deles, chegou a empurrar a equipe de reportagem do Alagoas 24 Horas para evitar que o preso fosse fotografado.

Segundo fontes, o medo de Schavuzzo era manchar sua imagem como futuro candidato a deputado estadual em 2006. O advogado dele, Adriano Soares, alega que não. Diz que a única ligação entre Ricardo e Pagão é a política, pelo fato do principal acusado ser vereador de Rio Largo. Soares saiu da delegacia da cidade crente que seu cliente não passará muito tempo atrás das grades, porque é inocente.

No entanto, o delegado Marcilio Barenco colocou que todas as prisões foram feitas com mandados judiciais, assinado por seis magistrados e que se convenceram dos argumentos expostos pela secreta testemunha e pelas investigações policiais anteriores. Barenco disse também que – até o presente momento – não sofreu nenhum tipo de pressão para reter as investigações, como aconteceu no caso Fidélis, em que alegou motivos de foro íntimo e excesso de trabalho, para largar o caso.

O delegado acredita que o processo investigativo ocorra de forma tranqüila e que num prazo de 30 dias, a Polícia Civil apresente novidades quanto ao crime organizado em Rio Largo. O prazo das investigações coincide com o prazo da prisão temporária. Ambos podem ser esticados por mais um mês. No entanto, caso Barenco queira – e a Justiça acate – pode solicitar a preventiva de todos os detidos

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