Acenda uma fogueira em Anadia

Assessoriasao joao

Cantarolar as letras das músicas de Santo Antônio, São João e São Pedro neste momento, talvez nos traga além da nostalgia, muita tristeza e uma saudade dos bons tempos vivenciados pela terra que é a minha paixão, Anadia.

Eu quando criança de uma maneira impositiva, por parte de meu pai, que era um amante da cultura popular: Forró, Guerreiro, Pastoril, Baianas, Chegança, Coco de Roda. Ele vibrava ao ver os Quilombos do Mestre Abílio do Limoeiro de Anadia tirlintar as espadas no embate entre os azuis e os vermelhos – Convivi com esse universo, meus ouvidos ficaram impregnados pelos sons de cada uma dessas manifestações e hoje não consigo passar sem lançar a mão e apertar um play, reviver, escutar a sanfona melodiosamente entoando canções tão belas, que habitam nossas almas e fazem morada eterna em nossos corações.

Contou-me certa feita minha avó Adelina Soares, que um senhor de nome Jofre, morador das plagas da Lagoa da Dominga, desde mocinho tinha por oficio vender frutas, feijão verde, fava, macaxeira, inhame, batata e abóbora… Na beira da movimentada estrada que cortava o sitio onde nasceu e se criou.

Numa pequena gleba de terra, herdada de seus pais e que dali tirava o seu sustento e de sua família, que com o passar dos anos tornou-se numerosa, 15 filhos no total. O tempo foi passando os filhos crescendo, estudando e em dado momento pegando a reta pra São Paulo e Rio. No Sul, cinco dos seus filhos se formaram, sendo três filhos em medicina, um em advocacia e outro em economia.

Os outros filhos que aqui ficaram tornaram-se prósperos comerciantes e bem sucedidos fazendeiros. Em uma das visitas dos filhos de férias ao velho sitio do seu Jofre, um dos filhos doutor em economia perguntou ao pai, como estava à labuta, o dia a dia da vida levada pelo velho. Seu Jofre entusiasmado começou logo contanto que acorda bem cedinho, com o dia ainda escuro, pega a banca de madeira coloca na beira da estrada, arma a tolda e arruma o que é produzido na sua propriedade para vender.

Fica aguardando os viajantes que por ali passam os vizinhos e ao final do dia, apesar do cansaço tem o apurado, o saldo positivo de toda sua luta diária. O filho economista ouviu tudo calado e ao final da fala do seu pai foi logo dizendo: Meu pai, o senhor não sabe, mas estamos vivendo um momento de muita crise, o país está passando pelo o seu pior momento, não sabemos se conseguiremos atravessar essa tal situação. É muito sério. Lá no Sul as pessoas estão desempregadas, sem moradias, dormindo ao relento, estão dando fim à vida, cometendo o suicídio.

Seu Jofre um forte sertanejo, acostumado a sobreviver às intempéries do tempo, vencedor de repetidos episódios de secas, sobrevivente de inúmeras dificuldades, astro no cenário árido e tenebroso do solo nordestino, vencedor por encaminhar bem na vida sua enorme prole. Escutou tudo isso, disfarçou o choro, engoliu seco o que travava sua garganta, enganou o filho com um gesto costumeiro de esfregar os olhos, com as mãos calejadas enxugou as lágrimas.

Naquela noite já não dormiu direito, assuntando o relato do filho doutor em economia, acordou um pouco mais tarde, triste e pensativo já não mostrou a mesma disposição para armar a banca para a venda dos produtos novinhos e boa qualidade, advindos do torrão amado.

O filho doutor voltou pro Rio de Janeiro. O velho Jofre, por aqui ficou na companhia de sua esposa Lana, começou paulatinamente a vivenciar o drama, a “crise” que o filho tinha traçado. Não tinha mais o zelo, o brilho, a pujança em arrumar sua banca pra vender.

Na vida tem coisas que a gente cria achando serem as mais acertadas e brilhantes…

Ledo engano

Lendo os jornais e sites do nosso Estado, vejo uma notícia muito importante e recheada de significado positivo para a gestão pública e norteadora para os condutores dos destinos das cidades da querida e amada Alagoas.

O Tribunal de Contas do Estado através de seu presidente Otávio Lessa, um ilibado homem público, recomendando aos prefeitos prudência, respeito ao erário nas comemorações dos festejos juninos.

Astutos, serelepes, nós brasileiros, alagoanos, cada um somos um pouco mais, um pouco menos!

Agarrados como tábua de salvação à orientação da Corte de Contas do Estado, muitos dos nossos gestores cancelaram os festejos, interromperam as tradicionais festas. E de posse de discursos afiados, sonoros, estridentes, lá vem à ladainha. ”É a crise”, “É um momento muito difícil”, “Estamos no fundo do poço”, “O buraco é fundo”, “Os repasses caíram mais uma vez”.

Como o efeito de uma bomba de mil megatons, estamos nós que somos apaixonados pelas festas juninas, a engolir a seco o nó que nos trava a garganta, enxugar as lágrimas que dos olhos caem e a sentir a mesma dor do velho Jofre.

Desanimado, já não enfeitei a nossa casa como de costume, entristecido e sem ânimo, não combinamos fazer a “farra” pra comer uma galinha de capoeira ao som da sanfona do Chilique.

Para finalizar a saga do seu Jofre é importante dizer que o velho de tanto desanimo não prosseguiu com suas atividades, esmoreceu, deixou de lado. E viu um vizinho de suas terras prosperar com a mesma atividade que praticou por anos e anos.

Não estou querendo Aviões do Forró, Mastruz com Leite, Garota Safada, Safadão, Magníficos, Forró 100%, Forró dos Plays, Cavaleiros do Forró… E muito menos, que os gestores deixem de honrar seus compromissos.

A minha musicalidade, herança do meu pai, ficaria contemplada com shows de Chau do Pife, Douglas Marcolino, Tião Marcolino, Eliezer Seton, Messias Lima, Claudio Rios, Xameguinho…

Como não sou tão rigoroso e exigente – De maneira, pra que ninguém venha cometer um “deslize” na gestão pública.

Ficarei contemplado, apenas, desejando que as ruas estejam enfeitadas com as bandeirinhas, balões, palhas, bananeiras e as fogueiras acesas.

Se de repente a animação existir que se soltem os fogos e os foguetes dando viva ao São João.

(*) É filho de Anadia

Veja Mais

A vez agora é dos gatos

A cachorrada ainda toma conta dos lares brasileiros! Hoje os cães de estimação compõem uma população de aproximadamente 67,8 milhões...

Deixe um comentário

Vídeos