Dólar ainda ficará mais caro, dizem economistas

A cotação da moeda norte-americana explodiu depois que o governo anunciou a redução da meta de superavit primário de 1,1% do (R$ 66,3 bilhões) para 0,15% (R$ 8,7 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, pode subir ainda mais, na avaliação de economistas e corretores de câmbio, sobretudo se, por causa do corte da meta fiscal, o Brasil perder o grau de investimento conferido pelas agências de classificação de risco. Sem a certificação de que o país é seguro para a aplicação de recursos, um grande volume de capitais deve ser retirado da economia em busca de mercados mais confiáveis, o que levaria o dólar para patamares bem mais elevados que os atuais.

O economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, acredita que, com o rebaixamento dos títulos brasileiros, o dólar chegaria a R$ 3,50 no fim deste ano e a R$ 3,80 até dezembro de 2016. A Consultoria Tendências projeta uma taxa de R$ 3,70 por dólar no fim de 2016, mesmo que o país não seja rebaixado. O diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, observa que, com o rebaixamento, a saída de grandes volumes de recursos do país será inevitável, uma vez que gestores de importantes fundos internacionais são proibidos, por estatuto, de manter aplicações em países que não tenham grau de investimento. Isso provocaria uma forte demanda por dólares, que teria como resultado a alta das cotações.

“A perspectiva é muito ruim. A saída de divisas é péssima, ainda mais num momento em que o Banco Central tem um volume de R$ 130 bilhões de contratos de swap cambial, que já deram prejuízos de mais de R$ 40 bilhões só até maio deste ano”, disse Nehme. O Banco Central se utiliza das operações de swap, que são equivalentes a uma venda futura de dólares, para tentar conter a escalada das cotações. Porém, à medida que o dólar sobe, o BC contabiliza perdas com essas negociações.

“Além disso, é preciso levar em consideração que o endividamento privado, que normalmente é rolado, vai ficar mais difícil e mais caro”, ressaltou Nehme. “O dólar subiu com a mudança da meta fiscal e com a expectativa do que vão fazer as agências de risco. Onde está o Mantega (Guido, ex-ministro da Fazenda), que deixou essa herança maldita?” questionou. Segundo o economista, a escalada do dólar também mostra que as reservas cambiais do país, de US$ 360 bilhões, não são tão grandes assim. “Como elas não foram constituídas pela criação de riqueza, e sim por meio de endividamento, tem o custo dos juros do carregamento”, explicou.

Exportações
A alta do dólar mexe com toda a economia. Desde o bolso da dona de casa, que terá que fazer ginástica para o dinheiro render mais frente ao aumento de preços, até a grande indústria que precisa importar insumos para produzir. “Quando o dólar sobe, a população empobrece, a inflação aumenta, a renda cai, as importações ficam mais caras. Hoje, os fluxos de capital para o Brasil estão parados”, resumiu o economista Sílvio Campos Neto, especialista em câmbio da Tendências. “O estrago feito pela política econômica dos últimos anos foi muito grande. Com os escândalos recentes e a crise política, fica difícil recuperar a confiança dos agentes”, disse.

Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Kaduna Consultoria, afirma que a alta da divisa norte-americana tem um lado bom porque os produtos importados ficam mais caros e menos competitivos em relação à produção nacional. O efeito é a queda das importações e o aumento das exportações, o que gera números mais favoráveis para a balança comercial. “Para a indústria nacional, a melhora da exportação acontece em boa hora, mas, para que ela seja definitivamente competitiva, a taxa de câmbio teria que ficar entre R$ 3,50 e R$ 4,00”, avaliou.

Segundo Giannetti, nos últimos dias, muitas empresas anteciparam uma possível saída de dólares, mas “não foi um movimento inesperado nem desproporcional”. “O que está havendo agora é a realização da expectativa do ajuste fiscal frustrado e o possível rebaixamento da nota do Brasil”, disse.

Fonte: Correio Braziliense

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