Bordéis disfarçados de casas de massagem causam polêmica na França

(Foto: Ilustração)
(Foto: Ilustração)

O número crescente de salões de massagem em Paris que funcionariam como locais de prostituição – segundo suspeitas das autoridades – está causando forte polêmica na cidade.

Políticos, lojistas e moradores das áreas onde existem esses estabelecimentos criticam a falta de ação do governo municipal e lançaram petições pedindo o fechamento desses locais.

Chamados de “novos bordeis” em Paris, esses supostos “salões de massagens” são asiáticos e gerenciados sobretudo por chinesas. As “funcionárias” também são principalmente chinesas e tailandesas.

Segundo a secretaria de Segurança Pública de Paris, cerca de 300 dos atuais 575 salões de massagem da cidade são suspeitos de funcionar, na prática, como locais de prostituição e estão sendo vigiados pela polícia.

O número de salões de massagem, em geral, registrados em Paris está em forte expansão: ele quintuplicou em apenas seis anos. Em 2009, havia apenas cerca de uma centena na capital, de acordo com as autoridades municipais.

A lei francesa proíbe tirar proveito financeiro da prostituição, o que torna esses estabelecimentos ilegais.

Além disso, um projeto de lei que proíbe “a compra de atos sexuais” e prevê multa de € 1,5 mil aos clientes (quase R$ 4,5 mil) foi aprovado em junho pelo Parlamento francês (que reúne os deputados). O texto deve ainda ser aprovado pelo Senado.

A polícia tem realizado cada vez mais operações nesses salões de massagem gerenciados por asiáticos para tentar desmantelar redes de prostituição.

Neste ano, 16 salões foram fechados na cidade. Em 2014, a polícia havia fechado 17.

“Há instrumentos jurídicos para fechar esses locais, mas eles não são utilizados. A secretaria de Segurança Pública parece ter outras prioridades em vez de aplicar a lei sobre a prostituição”, afirma Nathalie Kosciusko-Morizet, que disputou o segundo turno das últimas eleições para a prefeitura de Paris.

Atual vereadora de Paris pelo partido Os Republicanos (ex-UMP), Kosciusko-Morizet é autora de uma das petições lançadas contra esses salões asiáticos.

“Desde 1946, a lei proíbe bordeis na França. Esses salões de massagem são a versão contemporânea dos antigos bordeis”, diz ela.

Boa parte desses supostos salões de massagem se situam no 9° arrondissement (distrito) de Paris, área próxima aos bairros de Montmartre e da Ópera, misturados entre padarias, tabacarias, lojas de roupas, restaurantes e outros comércios.

Em algumas ruas do 9° Distrito há vários salões de massagem asiáticos, um praticamente ao lado do outro. Em uma das ruas, há seis estabelecimentos desse tipo em uma distância de apenas 150 metros.

As massagistas usam roupas que poderiam ser facilmente associadas às atividades de prostituição.

Foto: BBC Brasil
Bordéis são ilegais na França desde década de 50

Lojistas nas proximidades denunciam o vai e vem de uma clientela 100% masculina nesses locais.

Comerciantes e moradores do 9° Distrito também lançaram uma petição para protestar contra a forte expansão de salões de massagem asiáticos onde ocorreria prostituição.

A prefeita do 9° Distrito, Delphine Bürkli, do partido Os Republicanos, afirma trabalhar atualmente, em parceria com massagistas-fisioterapeutas profissionais, na elaboração de uma regulamentação que permita fazer a distinção entre verdadeiros salões de massagem e locais de prostituição.

Um “selo de qualidade” para os estabelecimentos de massagem foi aprovado recentemente pela prefeitura do distrito.

“Sem sexo”

Para se diferenciar dos supostos locais de prostituição, alguns salões de massagem dessa área de Paris passaram a colocar uma placa “No Sex” nas vitrines.

“Não é mais possível tolerar que mulheres, geralmente de países asiáticos, sejam vítimas de escravidão sexual em Paris”, diz a prefeita Bürkli.

Segundo a delegada Anne-Laure Arassus, número dois do Ofício Central para a Repressão da Imigração Irregular, que também luta contra o trabalho clandestino (Ocriest, na sigla em francês), as massagistas asiáticas são geralmente recrutadas em seus países de origem por meio de anúncios nas redes sociais.

“Os salões de massagem onde há prostituição representam a atividade criminosa mais lucrativa relacionada à imigração clandestina”, diz Arassus.

Um salão desse tipo teria, em média, 250 clientes por mês, de acordo com a delegada, com tarifas que vão de € 80 (pouco mais de R$ 300) por meia hora de massagem “naturista” a € 250 (quase R$ 1 mil).

Recentemente, o Ocriest desarticulou as operações de uma gerente tailandesa que possuía três salões em Paris.

“Estimamos seus ganhos mensais em € 120 mil (cerca de R$ 70 mil). Apreendemos também uma casa no valor de € 700 mil (mais de R$ 2,7 milhões). Isso sem contar o dinheiro enviado regularmente ao seu país”, afirma a delegada.

O fenômeno de salões de massagem asiáticos que dissimulariam atividades de prostituição não se limita mais agora a Paris e seus subúrbios próximos.

“Esses salões foram exportados além das fronteiras da região de Paris. Tivemos vários casos em Caen (Normandia), Marselha e Nice (sul da França)”, diz a delegada.

Fonte: BBC Brasil

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