Taís Araújo e o racismo degenerativo

A atriz Taís Araújo foi vítima de vários ataques repugnantemente ofensivos: “1) Pensava q o facebook era pra humanos não pra macaco; 2) Já voltou da senzala? 3) Cabelo de parafuso enferrujado; 4) Linda com M de banana; 5) Pode ser mais clara?”.

Racismo (pesquisa no dicionário Google) é o “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias; doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras; preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, ger. considerada inferior”.

“A mestiçagem vai destruir o Brasil”, dizia Gobineau

Do ponto de vista político e econômico a tese racista mais exitosa foi a de Herbert Spencer (1820-1903), para quem “as raças ‘superiores’, ou seja, as ‘mais aptas’, conforme seleção natural, devem tutelar, subjugar, proteger e dominar as classes ou raças “inferiores”.

Spencer ainda afirmava que a “proteção” das “raças superiores” em relação às “inferiores” seria benéfica para essas, que ao longo do tempo poderia (em razão desse contato) se civilizar. Tratava-se de um racismo “otimista” (diz Zaffaroni). A ele se contrapôs o racismo “pessimista”, degenerativo, que constitui um dos fundamentos na fábula da “raça ariana” germânica, superior às outras.

O racismo pessimista degenerativo (a mestiçagem degenera o povo e o país) foi exposto, com “maestria” absurdamente preconceituosa, por Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), que foi um diplomata francês e chegou a viver no Brasil (Rio de Janeiro) por quase dois anos. Afirma-se que recebeu o título de “Conde de Gobineau” depois que teria falsificado uma genealogia aristocrática (que nunca existiu). Era um comum que se julgava aristocrata(sangue azul).

Sua obra clássica, onde expôs suas ideias racistas, é o Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, de 1855. A miscigenação das raças leva à degenerescência física, intelectual e moral. De acordo com a Wikipedia, a ele é atribuída a célebre (e ignorante) frase que diz: “Não creio que viemos dos macacos, mas [olhando para o Brasil, que ele repudiava, salvo D. Pedro II com quem fez amizade] creio que vamos nessa direção”.

O Brasil, dizia Gobineau, era uma nação sem futuro, em razão da intensa miscigenação das raças inferiores, que gera pessoas degeneradas e estéreis. Vaticinou que o Brasil tenderia a desaparecer, em virtude da forte presença de mulatos, salvo se estimulasse a miscigenação com os povos avançados e superiores (os europeus). Gobineau e sua teoria da esterilidade massiva estavam completamente errados (hoje já somos mais de 200 milhões de pessoas).

Se você acredita na teoria da mestiçagem degenerescente assim como na tese da esterilidade dos mulatos, você pode ser considerado um racista. Gobineau teve continuadores em suas teses preconceituosas (Houston Stewart Chamberlain – 1855-1927 e Alfred Rosenberg – 1893 e 1946), sendo que este último foi condenado (e enforcado) pelo Tribunal de Nuremberg, por ter sido conselheiro, um dos idealizadores e ministro do nazismo de Hitler, que dizimou milhões de pessoas também na Europa Oriental (comandada por Rosenberg).[1] Os discípulos de Gobineau, em pleno século XXI, não enxergam que ele estava completamente equivocado.

[1] Cf. ZAFFARONI, E. Raúl. A palavra dos mortos. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 94.

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