Repelente adequado pode ser utilizado sem nenhum risco para o bebê, garante médica

Dengue, Zica, chikungunya, síndrome de Guillain-Barré, o aumento do número de casos dessas doenças e, principalmente, a relação do vírus da Zica com o grande crescimento da quantidade de bebês diagnosticados com microcefalia no Nordeste e, principalmente em Pernambuco, têm gerado uma corrida por informações responsáveis para a prevenção desses males. Além da principal luta pelo fim dos focos do agente transmissor, o mosquito Aedes Aegypti, surge uma preocupação sobre a liberação do uso de repelentes pelas gestantes, proibidas de utilizar grande parte de medicamentos também por conta dos riscos de problemas na formação do feto.

A orientação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) é que cada gestante procure o seu obstetra, que deverá indicar um repelente de acordo com a peculiaridade de cada paciente, que pode ter alergia a determinada substância. Mesma recomendação da resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)- RCD 19, de abril de 2013, que dispõe sobre os requisitos técnicos para a concessão de registro de produtos cosméticos repelentes de insetos, e que diz: “para uso durante a gravidez e amamentação, consulte um médico.” Veja aqui
A presidente da Sociedade Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia Luiza Menezes, no entanto, adianta a orientação dos profissionais de saúde e aponta três substâncias de eficácia comprovada e sem riscos de absorção: a Icaridina, o dietiltoluamida (DEET) e o IR3535. A Icaridina na concentração de 20 a 25% (Exposis) é o repelente de maior duração na pele: 10 horas. O DEET é o mais comum nas farmácias e supermercados (OFF, Autan, Repelex, entre outros). No Brasil é encontrado na concentração de até 15%, o que confere uma proteção de até seis horas. A versão infantil tem apenas 6 a 9% do ativo e duração mais curta (duas horas).

Já o IR3535 (Loção Antimosquito Johnson’s), que também é indicado para crianças de seis meses a dois anos, tem duração muito curta e precisa ser reaplicado a cada duas horas. “Gestante é um adulto e por isso não deve usar repelente infantil. Por conta da necessidade de reaplicação constante, o produto para criança se torna, na prática, ineficaz. O repelente adequado pode ser utilizado sem nenhum risco para o bebê porque produz uma espécie de nuvem ao redor da pessoa que repele o mosquito e não tem uma absorção considerada tóxica”, garante a médica.

A obstetra, diretora do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) e que faz parte do grupo de estudos sobre a microcefalia em Pernambuco, dá algumas orientações necessárias sobre o uso dos produtos. “Não precisa tomar banho e espalhar no corpo inteiro. A pessoa toma banho, pode colocar todos os cremes que usa normalmente, como hidratante, protetor solar e, depois de vestida, aplicar o repelente apenas nas áreas que ficarem expostas. Nos casos de repelente em spray, pode-se borrifar na roupa como se fosse um perfume “, ensina a também superintendente médica do Cisam/UPE e conselheira do Conselho Regional de Medicina (Cremepe). Importante lembrar que deve-se evitar a aplicação perto de olhos, nariz e boca, e que todos os repelentes podem irritar as mucosas.

Tensão na gravidez
Grávida de gêmeos, com sete semanas de gestação, a psicóloga Ângela Medeiros Luiz, de 30 anos, está mudando totalmente a rotina para evitar a contaminação. Acaba de comprar novas peças para o enxoval, a exemplo de calças e blusas de mangas compridas, de malha fina para aguentar o calor protegida, mesmo em casa. Quando sai à rua, veste calça jeans e tênis, sempre. “O calor é grande, mas a prioridade agora é se proteger. Como repelente, uso o da Johnson, bem fraquinho e a cada três horas, mais ou menos, reaplico, principalmente na nuca, orelhas, pés e mãos, áreas que ficam expostas. Quando vejo um mosquitinho ou saio correndo ou encaro para matar”, acrescenta.

A futura mamãe também redobrou os cuidados na casa e se diz atenta para não deixar água parada em nenhum local, nem no box do banheiro ou pia da cozinha. Ainda assim, preocupa-se com o restante do bairro. Como mora em uma área utilizada como veraneio, não tem vizinhos no dia a dia para cobrar a mesma atitude, por isso, planeja procurar a prefeitura para cobrar uma ação mais efetiva na localidade. “Também uso ventilador o tempo inteiro para aliviar o calor durante o dia e espantar os mosquitos. Vamos comprar um aparelho de ar-condicionado para utilizar à noite, apesar do clima ameno. No mais, estou rezando muito, pedindo a Deus que nada aconteça e que essa fase passe logo. Eu vivo numa constate tensão. É uma sensação de que a qualquer momento um sintoma vai aparecer, apesar de todas as precauções”, confessa.
Nessa tentativa de se cercar de proteção no que diz respeito a ação dos repelentes mais fortes, muitas pessoas estão optando por repelentes naturais à base de andiroba, citronela, cravo e até pela ingestão de vitamina B em gotas, que faria com que o próprio corpo exalasse um odor que afugentaria os mosquitos. “Os naturais têm um tempo de ação muito curto e precisam de muitas reaplicações. Por isso, o mais é seguro é optar pelo repelente que não tem absorção. Quanto à ingestão da vitamina B , não há evidências suficientes que garantam a eficácia”, adverte a obstetra Leila Katz, do Imip – Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira. Para se ter uma ideia, os repelentes naturais como citronela e andiroba têm rápida evaporação e um tempo de proteção de cerca de 20 minutos e por isso não são considerados repelentes seguros para gestantes.

Nas farmácias, a busca pelos repelentes alopáticos aumentou em cerca de 40 por cento. Percebendo a a procura do consumidor, muitos proprietários mudaram o local de exposição dos produtos, que antes ficavam geralmente no final da loja. De acordo com a farmacêutica Andrea Lins, a busca é tão grande que nem sempre tem sido possível suprir a demanda e os repelentes mais procurados já chegam a faltar no mercado.

Fonte: Diário de Pernambuco

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