É janeiro em Anadia

anadiaAnadia, a minha paixão! As luzes da Praça Dr Campelo de Almeida me levam a sonhar por alguns segundos com o repique dos tambores, o tinitar dos pandeiros, o colorido das roupas, o brilho dos chapéus com fitas de várias cores, o grito do Mateus… Corre garotada, o guerreiro chegou!

Com certeza, da cultura popular, o folguedo que mais marcou a minha época de criança foi o guerreiro. Além de dançar no da Escola Rui Barbosa, meus ouvidos se acostumaram a escutar mestres como Francisco de Jupi, Adelmo dos Santos, Wilton da Viçosa, Passinho… Mas o que ficou, deixando marcas indeléveis é a força com este folclore luta para sobreviver. Como pode algo que está fincado em nossos viver, no gosto popular, sofre tanto pra se apresentar? Ao contrário do que não presta que nos invade sem pedir licença.

Quanto tempo será que nosso povo levará para perceber que estão nos tirando o que de mais legítimo possuímos: a nossa identidade. Identifico-me, plenamente, com o povo da minha terra, pois não troco por nada o som do Guerreiro. Ouço de tudo, mas meu coração fica parado na estação dos versos que dizem: “Boa noite senhores e senhoras, cheguei agora e ainda vou me apresentar”. Mais adiante, ele diz: Guerreiro cheguei agora, Nossa Senhora é nossa defesa”.

Na poesia 2 de fevereiro, de Emanuel Fay, o retrato de nosso povo e festa se revelam numa autenticidade real, claro que com um gostinho do passado, não tão distante mas marcado. Por um cheiro gostoso de terra molhada, chão batido e cores vivas de personagens que por vários anos abrilhantaram o nosso convívio. Audível em nossos ouvidos: a banda marcial no coreto, o som dos telegramas via alto falantes, os barcos do seu Zequinha, os trivolins do seu Pedrinho, o grito do tire o mote do leilão, o som da sanfona do João das Ovelhas.

Como esquecer o que está cravado em nossas almas? Indescritível a emoção em ver Nossa Senhora desfilar majestosa por nossas ruas. Não consigo expressar o que se ver nos rostos das pessoas quando diante da Virgem da Piedade. Emoção… Como guardar num peito, tão pequeno enorme, gigantesca, eterna.

Um filho da terra, que não esquece dos momentos vividos com seus conterrâneos. A forma com que retrato estes fatos brota da visão que tenho do mais puro sentimento do filho deste chão, que não consegue esquecer nem dormindo, os momentos empolgantes, vividos e compartilhados com tantos e bons conterrâneos; claro que acordados, hão de perguntar: “Onde estão as luzes? À claridade… O grito vivo do nosso povo?. Fico a pensar no poeta que diz: “Um povo tão magoado, um povo tão violado é opção de crianças”. A luz verdadeira virá do brilho do nosso suor coletivo, da busca do fraterno, da partilha, da cena do cotidiano sem artifícios, da realidade nua, da vida pura, ingênua.

Sem falsas profecias, Missão Divina, o novo sempre amanhece… Os atores principais somos nós mesmos. Senão… Não haverá Janeiro… Luzes… Brilho… Nem Estrelas. Guerreiros… Pastoris…Cheganças… Baianas… Quilombos. Todos estarão na escuridão.

Que se acenda a chama da esperança em nossos corações porque é Janeiro. “Viva Nossa Senhora da Piedade”.

(*) É filho de Anadia

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