Paulo da Fungança e o Promotor de Anadia

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Hilário, engraçado e porque não dizer cômico! Não se deve esquecer ou ignorar as lições que a vida nos produz em propulsão no caminhar e no viver. Muitas são as vezes que uma história lá do passado se emparelha e se assemelha com a do presente! Aí o poeta popular faz versos, poesias e canções, o boêmio aproveita-se e inscreve seu nome na história do lugar.
E não foi diferente com o Paulo da Fungança, boêmio de carteirinha, uma figura de longe logo notada, quer seja pelo seu figurino, calças coloridas, camisas de várias estampas, quando não todo de branco, em dias com sapatos vermelhos e, outros de impecável brilho, camisa aberta com a efusiva amostra da corrente de ouro – peito aberto.
Outra característica marcante era o seu tamanho, magro, de estatura beirando os 2 metros de altura, cabelo grande – esvoaçante, dente de ouro, anéis em quatro dedos da mão – menos a aliança. Dizia: “Não me casei ainda, pois não encontrei a mulher ideal”.
A paisagem compunha um cenário perfeito – Anadia e seu casario encantador, a boêmia em voga, os raios do sol como ativador de cores e brilhos, o dia que se alongava, o por do sol romântico, a penumbra da noite como cúmplice de casos e mais casos de amor.
A atuação do cidadão Paulo da Fungança foi marcada por participação nas rodas, mesas de bares da nossa terra. Não perdia tempo, sempre bem sintonizado com os eventos, festas e acontecimentos políticos. Batia no peito com força e soltava o verbo: “Aqui sou amigo dos homens mais influentes, bebo, vivo e participo do dia a dia de todos”.
Não se segurava, enumerava, bradava: “Ontem bebi no Bar do Sete com o Ednor Amorim, Dr. Betinho, Hermes Fonseca, Delson Fidélis, Gerson Araújo, Zé Torres, Zé Mendes, Sebastião Chagas, Demerval, Roderique Gato, Zé Farias, Zé da Quininha…” Eram tantos que ele cansava ao citar a imensa relação.
A labuta do personagem em tela era recheada de atribuições, pelo dia, logo cedinho tomava um cafezinho na Toca do Zeca, ia até a Praça Dr. Campelo de Almeida observar quem pegava o ônibus da Santanense com destino a Maceió, conversa vai conversa vem, era nesses momentos que entrava o marketing do esperto Paulo da Fungança.
Invariavelmente estava portando um rádio – vários eram os modelos! Despertava a curiosidade e, desta forma abria o seu catálogo de vendas. Nada chamava mais atenção do que um homenzarrão daquele com um rádio ao pé do ouvido, empolgado ao sintonizar a Rádio Globo, Rádio Nacional e outras.
Seu negócio, comércio ia de vento em popa!
Mas a vida tem seus altos e baixos, e rapidamente o inferno astral do Paulo da Fungança teve início. Sem saber ao certo o motivo de tamanha perseguição, no decorrer de uma semana recebeu seis chamados para comparecer a delegacia.
A vizinhança já andava desconfiada e falando pelos cantos, entre cochichos, resmungando, pondo em dúvida o caráter do Paulo da Fungança.
A noite de Anadia fervilhava e, com seus encantos seduzia quem gostava da boa vida e seus sofismos. Era comum os homens daquela época – na sua maioria, assim que a noite caia, buscar abrigo, aconchego no Pernambuco Novo.
E foi lá exatamente que o grandalhão Paulo da Fungança encontrou sua maior paixão e, misto de ilusão. A mãe da donzela, já tinha varado a fio, madrugadas e madrugadas, na companhia de muitos homens, fruto desses encontros e, noitadas, nove filhos nasceram.
A filha mais nova, no auge dos seus dezessete anos, uma linda morena, cabelos longos, lábios carnudos, olhos verdes, seios pontiagudos, corpo escultural – como se fosse torneado na marcenaria do João Eugenio. Cobiçada pela cidade inteira.
A bela jovem devido a carência afetiva da ausência do pai, era muito dada, meiga e ingênua. Fato este que lhe tornava uma “presa” fácil para os boêmios e galãs da época. O histórico da sua genitora colocava um combustível no contexto geral.
Paulo da Fungança, com seu jeito envolvente, conquistador, distribuiu afeto, carinho e em algumas vezes dinheiro para a sedutora jovem. Tornou-se íntimo, do tipo paizão! Fazia cafuné, deitava em seu colo, passava horas e horas no mais puro apogeu.
Cidade pequena a coisa logo se espalhou!
E o crime cometido pelo boêmio qual foi? Naquele tempo a justiça “fechava” os olhos para o crime de sedução. Sem denúncia não havia crime. A fila andava de tantos exemplos.
Mas a coisa ficou preta para o lado do Paulo da Fungança, que logo recebeu a intimação do oficial de justiça, para comparecer ao fórum. Sem ter noção do que se tratava apresentou-se inocentemente. Praticamente não abriu a boca. O promotor de justiça logo decretou: “leve esse homem pra cadeia, ele deve ser preso!”.
Rapidamente a bombástica noticia tomou conta da cidade. O que será que o Paulo da Fungança fez? Pergunta recorrente de todos!
Os amigos tristes com a noticia e, com a sentida ausência do companheiro de farra. Rapidamente foi escalado um advogado para defende-lo. O escolhido foi o Ednor Amorim – além de não cobrar pelo serviço, também atuava como defensor público.
O fatídico dia da audiência chegou, a população inteira viu o Paulo da Fungança sendo levado pelos policias, saindo da delegacia atravessando a praça Dr. Campelo de Almeida e, sua chegada ao prédio da justiça. Notadamente não era o mesmo homem, estava triste, acabrunhado, barba por fazer, cabisbaixo.
O golpe tinha sido duro demais e lhe tirado as forças para reagir. A audiência tem inicio, com as presenças do juiz, do promotor de justiça, do tabelião, do oficial de justiça, do advogado de defesa, do réu e muitos curiosos.
Sua excelência, o Dr. Juiz fez a pergunta de praxe: “Doutor Promotor vossa excelência pode proferir os crimes imputados ao réu?” Silêncio sepulcral! Levanta-se o homem da lei com sua toga preta, quase que lhe cobrindo o corpo inteiro e diz: “Doutor juiz esse transgressor da lei anda ostensivamente fazendo palestras e pregando a subversão, indo de encontro ao regime militar”.
E continuou o renomado promotor: “Ele não se contem na prática do crime, tem vendido uma quantidade enorme de rádios, sem notas fiscais e sua atuação é vistas a olhos nus”.
Espanto geral, um sonoro barulho de surpresa e incredulidade!
Ednor Amorim afiado nas lidas políticas – e tachado de comunista, pelos adversários políticos, logo emendou na defesa do seu cliente: “Doutor Juiz vossa excelência tenha clemência desse pobre miserável, é um lutador pela sobrevivência, mal sabe distinguir o dia da noite, o sal do açúcar, o branco do preto”.
Continuou Ednor Amorim a eloquente defesa: “O Paulo da Fungança é tão de boa índole, caridoso, voluntarioso, que se iguala a sua excelência o promotor”. Espanto geral! “Anadia inteira sabe que o inocente réu se compadecendo da ausência do pai da filha da Maria Meu Bem, tem feito às vezes do mesmo, sendo benevolente, solidário e atuante com a pobre órfã”.
Sua excelência o promotor já não se continha em seu nervosismo esfregava as mãos, passava constantemente o lenço no rosto que pingava de suor. Um mistério, algo desconhecido existia naquele imbróglio.
E digo pra finalizar a defesa do Paulo da Fungança: “As informações que eu tenho em mãos são provas cabais, fazendo um comparativo entre o meu cliente, e sua excelência o promotor – que também “ajuda”, a jovem filha da Maria Meu Bem, quando a mesma passa horas e horas na casa de vossa excelência, passando as suas camisas, calças, ternos, gravatas e a impecável toga…
O Paulo da Fungança levava uma nítida vantagem sobre a comparação feita pelo seu advogado ao promotor de justiça. Anadia inteira sabia da “sua cruz” que carregava sobre os ombros – os pesados rádios, que tinha como ofício andar como exibição acima dos ombros, bem colados aos ouvidos.
Não demorou muito, sua excelência o juiz de direito deu o seu veredicto: “O réu Paulo da Fungança está livre, pode coloca-lo em liberdade”.
Rapidamente foi solto o boêmio, para a alegria de todos. E uma conversa reservada foi observada – por um atento morador da cidade, entre suas excelências o juiz e o promotor de justiça.
O conteúdo da mesma só foi revelado anos depois. Quando a bela jovem da época, que agora já exercia por alguns anos a mesma profissão da sua mãe Maria Meu Bem.
Foi taxativa: “O Dr. promotor me chamava pra sua casa com a desculpa de passar suas roupas, mas não era isso que eu fazia. Eu fazia mesmo era safadeza com ele”.
Por isso que sempre que posso conto e reproduzo as histórias da nossa apaixonante terra. Elas contém lições que nos serve de orientação para o viver.
Eu também fiquei ao lado do Paulo da Fungança, pois a toga do magistrado tinha mais a esconder que os pecados confessos do boêmio dos rádios de Anadia.
Mesmo sem revelar e “dar nomes aos bois”. Moro… Em Anadia, é de domínio público quem por aqui transgrediu as leis.
Anadia ainda tem muito a ser revelado!
“Porque cantar parece com não morrer, é igual a não se esquecer que é a vida que tem razão”. Canta o poeta.

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