Luis Vilar
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Sempre fui apaixonado pelo ato de narrar histórias. Talvez por isto meu encanto pelos livros do escritor português José Saramago, dentre outros, que – sem seguir uma trajetória linear, porém marcada de reflexões sobre a humanidade – consegue afirmar claramente que a literatura “não é um medicamento, mas uma bela forma de enobrecer o espírito”. Concordo profundamente. Não é um medicamento, do ponto de vista que alarga a consciência e a visão. As duas são elementos que uma vez dilatados jamais retornam ao tamanho normal.
Porém, a sensação de fechar um livro após uma boa história é indizível. A literatura – apesar de feita pelo excesso de palavras, e pela habilidade no manejo destas – não consegue ser explicada pelos vocábulos. Estranho paradoxo. Mas, ao canto com as divagações! Enveredemos pelo fantástico universo de um conto, que em entrelinhas revela não personagens, mas o intrínseco humano demasiado humano. Não há filosofia que não cabia no cotidiano. E não há cotidiano que não dê – apesar de sua rotineira repetição – um bom ineditismo. Feito o amor, já que sempre se ama, sempre se treme as pernas e ele sempre permanece inédito a cada nova face.
Causa-me pena os que – ainda que por uso exagerado do empirismo – defina todas as paixões como iguais, ainda que se repitam. A literatura nos dá ângulos diferentes sobre fatos corriqueiros. Quem dera todos alimentassem, nutrissem, amassem, se amalgamassem com a Literatura. Quem dera. O quão seriamos melhores ou piores? Não sei. O que vai por dentro das letras é incomensurável aos olhos das ciências dos números, medidas e formas. Posso dizer de como seríamos mais poços sem fundo e céu sem tamanho; mais ausentes de limites e com capacidade para desvirginarmos crenças tidas como irrefutáveis, que por vezes nos engolem como amarras.
A leitura quando acrescida com o prazer do livro (plataforma física desprezada em tempos pós-modernos “em Emepetrês”) aguça – ao menos em mim – mais que cinco sentidos, já que sou apaixonado até pelas cores amareladas das páginas (visão), pelo cheio de livro velho e novo (olfato), pelo tatear das linhas…enfim! Desta forma, assim que desocuparem seja lá do que for que estejam fazendo pelo compromisso com o trabalho ou com a rotina, façam um favor a si mesmos. Desliguem o piloto automático impostos aos nossos dias. Desliguem o computador. Leiam um bom livro.
Não despreze o poder das histórias. Graças à literatura tenho conseguido conservar em meu espírito – domesticado de certa forma pela pseudo e perigosa maturidade de quem envelhece – a capacidade de indagar e indignar-me com as subliminares maldades do mundo e até mesmo com a cordial maneira com que a dita economia mundial pós-moderna nos diz: “Consuma, nos ajude. Estamos em crise, mas antes de morrermos, nós vamos f… sua essência, presentenado-lhe com a doce sensação de que o mundo evolui por tanta tecnologia, conforto e comodidade”.
E o que é cômodo para nós? Aceitar o que é imposto para nós, mesmo sabendo que estamos na mais bela viagem – com passagem só de ida – sem pensar nas pequenas coisas ao nosso redor? É aí que lembro de um velho trecho grifado em um dos romances lidos durante a tal viagem: “chegamos a um momento em que sabemos o preço de todas as coisas, mas não seus valores”. Acredito que seja aqui que a Literatura nos salva. Afinal, já diria Santo Agostinho, “a medida de amar é amar sem medidas”. E aí, vamos abrir um livro?