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Em AL, melhor vender caldinho que ganhar o mínimo

O valor do novo salário mínimo (R$ 465, a partir deste domingo) não muda de forma substancial a realidade dos alagoanos. Claro, injeta R$ 50 milhões na economia local, mas a lógica por aqui é uma exceção à regra nacional.

Isso porque a cifra deixou há muito tempo de ajudar as famílias em sua integralidade. Segundo o IBGE, o índice de famílias com crianças de 0 a 6 anos e com rendimento familiar per capita de até MEIO SALÁRIO, em Alagoas, é de 68,8%. Uma maioria incômoda.

Salário mínimo para esta fração da população ainda é um luxo. E mais ainda considerando-se que o setor público, que não paga menos de um salário e só quem participa são os concursados, foi o que mais faturou, de acordo com o mesmo IBGE, em 2006. Foram R$ 3,496 bilhões. Salário mínimo não é para todos. Não em Alagoas. E ainda é um luxo, por aqui.

Assim como são luxos duas histórias reais. Um vendedor de caldinho de feijão, na praia de Ponta Verde, cobra R$ 2 por um copinho descartável cheio do quitute. Nele, vem coentro, duas azeitonas, um ovo de codorna e, claro, o caldo de feijão, além dos torresmos. Por dia, um vendedor fatura R$ 240. Isso porque, em média, ele carrega três garrafas, cada uma faz R$ 80 da iguaria. Dá para abastecer 40 copinhos.

E os copos estão menores. A crise americana chegou aos vendedores de caldinho na Ponta Verde. E os preços cresceram: eram R$ 1,50, no ano passado.

E, claro, quando um vendedor fala que "vende por dia" isso não quer dizer, necessariamente, de segunda a segunda. Dia de ir a praia é mesmo no final de semana. Digamos: em uma semana (sábado e domingo), o bravo vendedor de caldinho de feijão fatura R$ 480. Em dois dias, mais que o salário mínimo cantado em verso e prosa. Por mês, lá vão R$ 1.920.

Esse é um trabalhador informal. Não tem carteira assinada. Direitos trabalhistas? Também são luxos, em tempos de desemprego. E não se pode "luxar" com doenças, empecilhos, chuva. O negócio deixa de faturar se alguma coisa falhar.

Outro caso: uma senhora, com mais de 70 anos, recebe uma pensão, no valor do salário mínimo. Mas, todos os sábados, lá está ela, com o vendedor de caldinho de feijão, pedindo esmola na praia de Ponta Verde. Em casa, ela tem uma nora e uma neta. A esmola supera o valor do mínimo. Por volta das 16 horas do sábado, ela pega o ônibus Benedito Bentes/Ponta Verde/Via Mocambo. Não paga a passagem. Senta na frente. Economiza R$ 2. Leva na bolsa o apurado do dia. Uns R$ 100. Quase 1/4 do salário, ganho em 30 dias.

Com mais de 70 anos, não pode ficar doente, nem chover, nem "luxar". Carteira assinada? Pedir esmolas, ao lado da prostituição, é uma das profissões mais antigas da humanidade. Até Cristo abençoou os pedintes.
Mas, os governos, que rasgaram os evangelhos, não reconhecem o esforço de meretrizes e velhinhas para ganhar a vida nem completar a miserável renda.

Conclusões da economia? É melhor vender caldinho na praia ou pedir esmola, de preferência na orla nobre de Maceió. Isso, claro, para os "apressados", os que não querem esperar os R$ 50 milhões a serem injetados em Alagoas com o aumento de R$ 50 no mínimo (minúsculo, diga-se de passagem) e que vão movimentar a economia local, melhorando, em alguns trocados, o faturamento da velhinha e do vendedor de caldinhos de feijão. E quem sabe, de lambuja, das prostitutas também.

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