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Luis Vilar

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Escondendo palavras entre as palavras

Eis um artigo, velho amigo:

Em meados de 2000 comecei a escrever um livro de poemas que nunca terminei. Dois foram os motivos para deixar tudo de lado: a ausência de maturidade para encarar o mundo das letras e a falta de coragem mesmo. A literatura é se desnudar ao mundo. Um antigo professor de Literatura Inglesa me falava sempre isto, quando conversávamos na escadaria da faculdade de Letras.

O fato é que de 2000 para cá, oito anos se passaram. Após publicar artigos no Alagoas 24 Horas, fui tomando de súbito pela necessidade de voltar a escrever. Ainda estou longe da maturidade, mas fui encorajado pelas pessoas falando comigo nas ruas.

Sempre achei que as entrelinhas de um texto tocam mais que o texto em si. Sempre encontro pessoas que leram nas minhas palavras, aquilo que não escrevi e que, no entanto, era o que gostaria de ter escrito. Por exemplo, o último artigo me propiciou uma maravilhosa conversa sobre filosofia, Nietzsche, Sartre, Herman Hesse e outros escritores, com o grande amigo Rios. Um bom papo de 15 minutos, logo às 8h30 da manhã. Literatura para quem tinha ainda todo o dia pela frente.

A literatura une ideais, somam reflexões e nos coloca contemplativos sobre o maravilhoso mistério da existência, que não possui início e sequer possui final. Afinal, não sabemos que finalidade temos mesmo. Em outra oportunidade, prometo escrever o teor do diálogo quase socrático (risos) com o meu amigo jornalista. Por enquanto, o que me chamou a atenção foi a magia da literatura despertar as pessoas para dentro de uma ilha, cercada de cotidiano por todos os lados.

Respirar novos ares, sem sair do lugar. Descobrir em conversas simples que outras pessoas também sentem como você. Lembro certa vez que ao ler o livro, que não lembro o qual, o cara definia desta forma o poder que possui a arte: “Um homem que fala aos corações de jovens, que fala de si, sem saber que fala de todos, um homem que em segundos viaja do amor ao ódio, um homem que com letras mágicas, palavras verdadeiras, fez alegrias, tristezas e sabedoria, um homem que diz que não sabe porque…” O texto era direcionado especificamente a arte do compositor Humberto Gessinger e falava da música dos anos oitenta. Mas retirado do contexto – coisa que raramente aconselho ser feito com as citações – pode representar algo bem mais amplo…

Acho que isto me fez pensar em não só em escrever um livro, mas em continuar, o que foi abandonado. Não é promessa. É tentativa. E só para me encorajar, vou publicar o que seria a primeira página do livro:

Gerúndios

Sem querer…eis que chega

A depressão vem feita água represada

Liquefazendo sonhos sobre a mesa

Escondendo o rosto entre as palavras

Corre entre as veias sombras de um fim

Esperando um corte no meio da madrugada

Todos os erros parecem está aqui

Parece o fim e não aparece nada…

Olhos úmidos e a boca seca

Cercam os dias, horas e a nossa casa

Antes de dormir, uma última luz acesa

Coragem para covardemente fugir sem asas

Na primeira porta que se abrir

No primeiro pulso que correr fora da estrada

Na intenção de não existir

Enquanto a cor vermelha desce as escadas…

Parecendo um leve mar de cetim

Parece o fim e não aparece nada…

PS: Este artigo já havia sido publicado, mas recoloco ele por ter renovado a fé em um projeto paralelo que apresento aos leitores: http://encontroparalelo.blogspot.com

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