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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Felicidade

“A felicidade é como uma pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar”

A poética definição de felicidade na música homônima de Tom Jobim, demonstra a fragilidade e volatilidade desse primoroso estado de espírito. Afinal, não é o que se deseja? A sensação de felicidade pelo maior tempo possível -algo leve e frágil como uma bolha de sabão boiando suavemente no ar? Até que…
…até que de repente, uma coisa qualquer lhe tira desse estado, assim do nada.
Recentemente li uma reportagem que tentava cientificamente formular uma receita para perpetuar o estado de felicidade pelo maior tempo possível. O que filósofos e outros pensadores tentaram (e ainda tentam) por séculos decifrar e compreender, a tal reportagem resumia com uma ideia original e simples: a felicidade está relacionada à memória. Segundo a matéria, o principal inimigo da nossa felicidade seria a nossa memória -lembranças ruins seriam capazes de sabotar este estado de espírito tão almejado por todos, fazendo-nos reviver coisas que nos entristeceram, angustiaram, envergonharam ou enraiveceram, e mesmo pertencendo hoje ao passado, ainda eram capazes de estourar nossa frágil bolha de sabão. Inclusive ensinavam técnicas para permanecermos mais tempo felizes, com exercícios de memorização e fixação apenas das coisas boas por nós vividas -sejam sobre pessoas, lugares ou situações- para eventualmente nos refugiarmos nas boas lembranças, numa espécie de escapismo técnico a ser usado em momentos difíceis.
Achei tudo aquilo coerente e bastante original. Muito melhor guardarmos apenas os deliciosos momentos da escola ,como por exemplo, o cheirinho do plástico que minha mãe encadernava os livros no primeiro dia de aula, as brincadeiras do recreio, os amigos que fizemos por lá, do que as provas e exercícios maçantes, as broncas dos professores, e as chateações eventuais dos colegas. A felicidade seria, portanto, uma decisão, uma escolha.
A medicina, há pouco, descobriu uma doença rara chamada “hipermemória”, que é tratada a base de antidepressivos -seus portadores seriam capazes de lembrar-se de praticamente tudo que viveram. Imagine a angústia de você lembrar do fora que levou de sua paquera em plena adolescência. Ou da dor da perda do seu primeiro cãozinho. Ou de uma briga em que levou uma humilhante surra na frente de todo mundo. Reviver situações amargas causam sofrimento mesmo no presente; por isso grande parte do passado deve ficar lá mesmo onde está.
Se você pretende permanecer feliz por longos períodos, sugiro começar a exercitar-se em fixar apenas suas boas lembranças. Com boas recordações e um presente equilibrado, a bolha da felicidade é capaz de manter-se íntegra boiando suavemente no ar -se uma boa lembrança não é o suficiente para nos deixar felizes, ao menos provoca um leve sorriso no canto da boca.
Não é à toa que o poeta inglês Lorde Byron afirmou no século XVII que “A recordação da felicidade não é mais felicidade, mas a recordação da dor ainda é dor.”

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