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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Li Rita Lee

Sempre gostei de ler biografias, inclusive estão entre as minhas leituras preferidas. Além da curiosidade natural em saber como aquela pessoa tornou-se quem ela é ou foi, tem também o aprendizado didático com os erros e acertos alheios – por isso interesso-me apenas pelas de pessoas que julgo interessantes e/ou admiráveis.
  Acabei de terminar a leitura da ótima autobiografia da ótima Rita Lee – praticamente uma sobrevivente de uma época interessantíssima da história do Brasil e do mundo – os anos 60 e 70 –  que fecundou  artistas que  mudaram  a cara da sociedade  em vários aspectos, transformando e criando modas, conceitos, ideias e harmonias, com suas verdades, mentiras, acertos, equívocos, genialidades, loucuras, descobertas, coragens, caretices, pudores e desbundes, alterando para sempre a fachada  do século XX  – se fosse uma corrida de revezamento,  pegou-se o bastão no início deste século e  entregou-o  adiante num mundo completamente diferente.
     Rita Lee com certeza é uma dessas figuras de destaque  da classe artística brasileira, com suas  músicas simples, elegantes e deliciosas, bem como com sua irreverência nonsense, mesmo sendo mãezona e dona de casa. Então ler sua autobiografia onde ela revela sem pudor algum desde o luxo até o lixo que foi sua vida, nos provoca aquela sensação de intimidade e espanto,  diante de tantas histórias da infância até os dias de hoje, onde já passa dos 70 anos mais que bem vividos. Porém, hora nenhuma nos surpreendem suas loucuras, internações e decisões doidivanas, afinal, todo artista que se preze tem que pensar e agir diferente de nós, pobres mortais.
     Recomendo bastante a leitura deste livro, mas somente para aqueles que gostam de biografias e também de Rita Lee – destarte não comentarei nenhuma passagem nem farei spoiler algum do livro, porém irei transcrever alguns trechos do seu final, onde ela nos passa pensamentos soltos do que ela acredita e pensa hoje, dando-nos uma pequena amostra de quem ou em que  Rita Lee tornou-se.
“Não sou saudosista, mas devo admitir que no “meu tempo” tudo era bem mais chique. Acho interessante estar no mundinho podrera de hoje e por uma questão de fora-modismo elegante não me apegar a ele, mas às vezes é como acordar de uma overdose e ver que ainda está vivo. Esses dias de mulheres-liquidificadores e homens-geladeiras me fazem crer que a raça humana não deu lá muito certo. Nessas me dei muito bem por ter nascido na época de ouro do pós-guerra. Quando dizem que “a idade está na cabeça” meu fígado e minha coluna dão uma risada sarcástica. Mulheres têm a idade que merecem, homens serão sempre crianças.
É uma série de imagens que mudam ao se repetirem. É um tal de política destruindo a liberdade, de medicina destruindo a saúde, de jornalismo destruindo a informação, de advogados e policiais destruindo a justiça, de universidades destruindo o conhecimento, de religiões destruindo a espiritualidade. Confie em Deus mas tranque o carro.
Minha depressão não é sinal de fraqueza, eu é que fui forte por muito tempo, mas cuidado com a ira de alguém calmo (…) Para conquistar o seu amor peço perdão mesmo sabendo que não estou errada. O pior inimigo da criatividade é o bom-senso. Mudar, mudar, mudar nem que seja para pior. Dói mas sorrir na frente dos outros que chorar sozinha. Não leve a vida tão a sério porque ninguém sai vivo dela. Debochar de mim mesma é uma estratégia que sempre dá resultado (…) Não é tarde para ser o que eu deveria ter sido. Eis-me aqui, uma pós-famosa anônima observando os macro e micro-universos dentro e fora de mim (…) A sorte de quem ter sido quem sou e de estar onde estou não é nada se comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz”.

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