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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Sabe de nada

No Brasil, existem três tipos de eleitores: os que não sabem de nada, os que acham que sabem e os que sabem de tudo.
Os que não sabem de nada, vou chutar que sejam 89% dos eleitores. Nesse imenso e predominante grupo, cabe tudo: a massa de pobres e ignorantes que normalmente vota com a barriga e são manipulados pelos métodos de sempre – a chamada massa de manobra, tão desejada pelos políticos do nosso país. Tem também aqueles que simplesmente ignoram a política e fingem que não é com eles, e preferem tocar a vida alheios à essas questões que pouco ou nada lhes interessa. Nas eleições vão de má vontade e votam em qualquer um – ou simplesmente em ninguém – e acham que estão fazendo a coisa mais certa do mundo – e talvez até estejam mesmo.
O segundo grupo, ao qual pertenço e talvez também você que me lê, é composta por pessoas que buscam informações, colhem opiniões e com isso passam a ter uma consciência política baseada em seus valores, ideais e expectativas para sua cidade, estado e país. Em maior ou menor frequência, buscam informações e conhecimentos sobre quem fez e deixou de fazer; então na hora de votar, votam conscientes e com algum equilíbrio entre paixão e razão, mas sempre com alguma esperança de acontecer algo melhor.
Acontece que esse grupo é de no máximo 10% dos eleitores – o que a rigor não decide nada. Normalmente os candidatos não almejam esse grupo, pois sabem tratar-se de um voto mais difícil de conquistar, portanto mais caro.
E por que esse grupo é dos que “acham que sabe”? Porque o que colhemos nos meios de comunicação não corresponde infelizmente à realidade dos fatos. A política brasileira de verdade acontece nos bastidores, no submundo, nos esgotos e nas salas fechadas, e isso geralmente não chega à superfície. Então, ficamos com a falsa sensação que fulano é bom, sicrano é honesto, beltrano é bem intencionado e que as instituições bem ou mal funcionam – assim como a imprensa é imparcial e vigilante – quando, na realidade, tudo e todos são movidos pelos mesmos interesses: dinheiro e poder.
Então vem o último grupo, o dos que “sabem de tudo”. Esse é composto por um grupo de pessoas que em algum momento da vida, resvalou nas franjas do poder – em maior ou menor grau. São os que de fato sabem como são feitas as salsichas, e com isso passam a ter uma visão completamente diferente de nós, pobres mortais. Sabem quem é quem na política, bem como seus interesses e suas tabelas de preço. Sabem como tudo funciona e quanto elas custam. Esse grupo corresponde a no máximo 1% dos eleitores e são os que, ao final, conduzem e manipulam as eleições.
Lembrei de um amigo meu que foi médico de um time de futebol de grande expressão nacional, que desencantou-se de vez desse esporte,  pois ouviu muitas vezes dos jogadores na entrada do time em campo sob a ovação fanática da torcida,  um falando pro outro, a boca pequena debochadamente com um sorriso nos lábios:
– Bando de bestas. Que time que nada, eu quero é meu dinheiro no fim do mês e o resto que se exploda…

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