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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Somos todos cachorros

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Estava conversando com meu cunhado sobre quando, certa vez, tive um pequeno início do que poderia vir a ser um surto claustrofóbico, numa determinada circunstância. Foi algo que me causou um certo desconforto, mas o qual consegui controlar e manter-me calmo durante aquela desagradável situação. Ele então me alertou para que eu tomasse cuidado para não deixar aquilo evoluir, a ponto de eu chegar ter, como ele, fobia de avião.
Um dia enquanto assistia o programa “Encantador de Cães”, o apresentador Cesar Millan ensinava uma técnica de adestramento para acalmar um cachorro extremamente arredio e inquieto, que por conta disso sua dona não conseguia passear sem que ele avançasse em quem estivesse ao seu redor; fosse ele um humano ou outro cachorro. O adestrador mostrava que ao perceber pequenos e sutis sinais de alteração na postura do animal, como as orelhas em pé, o rabo esticado e focinho levantado, sabia que ele estaria prestes a avançar ou latir. Nesse momento, Cesar Millan dava uma cutucada com os dedos juntos de uma mão na lateral da barriga do cachorro, emitindo um alto e breve “Pxiiu!”. Segundo ele, aquele gesto servia para interromper o início da situação de alerta e alteração de humor, desarmando o estado emocional alterado que ali se iniciava, fazendo o cachorro voltar a uma condição de relaxamento e submissão durante a caminhada com a coleira. Era uma técnica simples e eficaz.
Voltando à história do meu cunhado, falei que fazia algo semelhante em mim mesmo, quando alguma ideia potencialmente nociva se atrevia a iniciar-se em minha mente, querendo plantar uma fobia ou um mal pensamento qualquer. No caso da pequena agonia que senti na última poltrona de uma van apertada, se deixasse essa ideia claustrofóbica tomar conta, teria tornado minha pequena viagem pior do que foi -ou quem sabe seria o início de uma fobia real, caso evoluísse alem do meu controle. Fiz na ocasião um “Pxiiu” mental para tirar-me do início de um estado de tensão leve e taquicardia, para voltar minha atenção às outras atrações da tal viagem. Já apliquei desde então em outras situações -na decolagem do avião, por exemplo, onde sempre dá aquela pequena apreensão; ou mesmo num ódio repentino numa discussão de trânsito. Faço um “Pxiiu!” e logo volto ao estado de relaxamento canino.
Somos todos animais, portanto se serve para adestrar cachorros, pode servir para nós humanos também. Serve para medos, tristezas, maus pensamentos e lembranças, angústias, gulas, invejas, ódios e qualquer tipo de sofrimento ainda em estado latente, enquanto ainda são uma ideia, enquanto ainda estão contidos e submersos. Basta percebermos pequenos sinais como nossas orelhas em pé, nosso rabo esticado e nosso focinho levantado e “Pxiiu!” mudamos o foco como cãezinhos amestrados. Assim quem sabe nossos donos até nos levem para passear; seja de coleira ou até numa Van apertada.

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