Protocolo para uso das redes sociais no momento atual

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Na solenidade de casamento do príncipe William, em atenção ao vasto protocolo da família real inglesa, ele precisou manter-se de frente para o altar, sem poder se voltar para olhar a chegada da noiva Kate na catedral e por isso teve que se valer do sussurro do irmão para abreviar um pouco da ansiedade, ouvindo baixinho, “ela vem linda!!”.

Eu não costumo olhar para os Países dos outros com ciúmes, tenho sempre a esperança de que seremos, com o tempo, melhores que os demais em tudo, mas essa semana a notícia de que esta mesma Inglaterra, que acata o cumprimento de comportamentos tão distantes da atualidade, está iniciando um programa para diminuição de tempo nas redes sociais, me causou inveja.

Apressadamente acabo julgando como folclórica algumas dessas exigências protocolares, mas nesse momento tão recheado de hostilidade, em que tenho me preocupado com a preservação do carinho que une amigos e nos torna parte de uma família, “uma grande família”, começo a achar que precisamos mesmo escrever regras de convivência, que diferem das leis ou das pregações religiosas, algo que leve em conta afetos.

Eu não sei se por absoluta incapacidade de avaliar as pessoas ou porque as relações se davam de maneira mais superficial, cada dia mais me surpreendo com a índole violenta, raivosa e vingativa de pessoas que julgava pacíficas, (em todas as tendências) através do comportamento que acompanho nas redes sociais.

Tem um ditado que diz que para conhecer de fato uma pessoa, devemos “comer um quilo de sal junto com ela”, mas pela forma contemporânea que adotamos para divulgar nossos ideais, isso não é mais necessário.

A medida que vamos perdendo as amarras, que vamos ficando confortáveis em expor o que pensamos e nos sentimos protegidos pela distância física, menos sal será preciso para saber quem de fato somos.

Como tudo é muito novo e aparentemente sem regras, confesso que por vezes não sei como proceder. Recebo mensagens das mais diversas e sempre que posso, (já que ocupada no trabalhando nem sempre é possível responder) me esforço para não deixar de retornar.

Pois bem, não escondo minhas posições políticas, não que eu tenha algum participação ativa, mas as tenho como ser que ocupa um insignificante espaço no mundo, mas não tenho a pretensão de que todos saibam qual é, por isso respondo emitindo minha opinião, inclusive às vezes, dizendo o que não concordo.

O fato é que não concordar, na atual conjuntura, parece uma ofensa que merece pena de morte. Na hora que ouso discordar, seja de quem for, ou sou olhada com um ódio que me preocupa, ou com o envio exagerado de argumentos no sentido de me fazer mudar de opinião.

As coisas não funcionam assim, com mais de 50 anos e sempre tendo defendido minhas ideias com conversas civilizadas, não tenho como comportamento aprendido, ofender ou me sentir confortável em ser ofendida, através das redes sociais, portanto essas relações não ajudam no debate e ainda colocam em risco os afetos.

Achei a ideia do programa inglês de abandonar as redes sociais por um mês, ou reduzir o uso, desligando tudo depois de 18h uma coisa genial. Teríamos mais tempo para estabelecer conversar mais cuidadosas e humanas, onde o contato físico ou o som da voz remeta a lembrança de que estamos tratando com amigos e não com inimigos.

Acho que um protocolo que escreva que fica proibido se utilizar de mentiras para reforçar as ideias, que fica asegurado o direito à opinião diferente, ainda que não concordemos, que não será permitido romper laços de amizades, que antes de divulgar o que achamos devemos responder a uma simples pergunta “em que isso ajudaria?” faria um bem imenso as relações humanas.

No particular caso do casamento na catedral, me chama atenção que as relações de afeto são recheadas de confiança e de cumplicidade. William sorri relaxado quando ouve o irmão dizer que a noiva vem linda. Esse seria o objetivo de um protocolo para a atualidade, acreditar nos irmãos, pode até parecer idiota, como parece o da família Real Britânica, mas com certeza ajudaria na manutenção de relações mais civilizadas.

As ideias contraditórias devem ser tratadas no campo dos argumentos de forma urbana, proibir a incitação do ódio e do desrespeito, deixar prevalecer a compreensão de que deve haver um olhar afetuoso, cúmplice, capaz de enxergar a beleza que há na diversidade e no amor, nos fará muito bem.

Às vezes a verdade chega dita através de um sussurro no ouvido dito pelo irmão, que acreditamos mesmo sem ver e como sou pacífica, me manterei olhando para a paz, sem acreditar que as mudanças que desejo cheguem aos gritos de “morte aos diferentes”.

Setembro de 2018. A um mês das eleições.

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