As cores do ano

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Pedro era muito pequeno quando fomos ao filme “Simplesmente Complicado” que falava, dentre outras coisas, um pouco de cozinha, tanto que durante a exibição a Meryl Streep prepara uma receita de nome Croque Monsieur.

A preparação foi apresentada de forma poética, mas não passa de um simples sanduíche, por isso ao sair tarde do cinema, querendo ser legal e oferecer opções, mas no íntimo acreditando que já conhecia a resposta, perguntei, “Filho você prefere ir lanchar no Mac Donald ou passar no supermercado, fazer umas compras e ir para casa preparar um Croque Monsieur?”

Para minha surpresa ele respondeu de pronto, “fazer compras e cozinhar em casa”.

Eu e minha eterna mania de acreditar ter ideia do que se passa ao meu lado, quanta ilusão…

Essa ilusão de conhecer as pessoas me leva a constantes equívocos de avaliações, projeto nos amigos com quem vou repartindo o dia a dia e os segredos a convicção da compreensão do respeito às diferenças como forma de crescimento, para minha surpresa nem sempre é assim.

Até certo ponto essa convivência com o contraditório transcorre de forma “urbana”, até mesmo quando me deparo com um lado do outro completamente desconhecido, o que me surpreende de forma negativa é quando essas ideias se apresentam opostas ao respeito que julgo importante.

Somos seres diferentes, por isso o nosso conjunto de leis ou de comportamento religioso criou regras nas quais tentamos nos enquadrar sob pena de sofrer punições, mas isso só serve para coisas grandes, tais como matar ou roubar (segundo a Bíblia, também cabe, não cobiçar a mulher do próximo).

No dia a dia a luta para ser correto é muito mais sutil, ninguém de nós, ou quase ninguém entre os que consideramos amigos e com quem convivemos, comete crimes tão fáceis de serem classificados como pecado.

Mas é no detalhe que o Diabo se esconde, gente que aparenta dócil, solidário, humano, por vezes aparece com um discurso tão hostil que acabo achando que trata-se de uma outra pessoa, completamente diferente daquela para quem pedi conselhos.

Apesar de desejar muito que haja uma pacificação das ideias, que possamos conviver de forma mais harmônica, não tenho a ilusão de que isso acontecerá de forma rápida ou sem traumas.

Quer queiramos ou não, não vamos conseguir mais ter uma escrava em casa na forma de empregada doméstica, não conseguiremos deixar os homossexuais criminalizados e presos nos armários vestidos como idealizamos, as mulheres não serão mais as mesmas subservientes de outrora ou evitar que os diferenças sociais (abissais) existentes estejam presente nas nossas discussões.

Cabe, portanto, a nós como amigos que somos, buscar soluções para os problemas, compreender onde há erro e exigir reparo e não ficar apenas na defesa “desse ou daquele” como se houvesse um salvador para todos os males, uma alternativa mágica que tudo resolverá sem esforço.

Gosto da crítica ao que penso, ouço com atenção ao que é dito, talvez por isso me incomode tanto com as posições rasas ao eu que considero “equívocos de comportamento”, inclusive porque para que eu mude de opinião preciso de argumentos, de preferência, inclusivos e humanitários.

A surpresa ao ver uma manifestação tão pobre (que fique claro, considerando meu conjunto de valores) de amigos queridos é maior que ouvir uma criança preferir um sanduíche de nome complicado. Uso para acalmar minha alma a compreensão que erro EU quando julgo conhecer as pessoas, afinal cada um sabe das suas verdades e por algum motivo elas são legítimas, ainda que sejam tão diferente das minhas.

Simplesmente complicado, é mais que o título de um filme, é viver em um mundo cuja fome, a exclusão, a dor do semelhante parece não incomodar, não nos motiva a solidariedade ou a busca para encontrar uma solução. O ano iniciou em tons de cinza, Feliz Ano Novo… assim seguiremos…

Fonte: *É Articulista

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