Na dúvida, não ultrapasse

Arquivo Pessoal

Eu trabalho numa cidade do interior, por isso estrada é meu cotidiano. Hoje cumprindo minha rotina encontrei um caminhão baú na minha frente, como ele seguia numa velocidade de 100/120 km/h e eu estava sem atrasos e ouvindo música, não me dei ao trabalho de ultrapassá-lo.

Depois de andar uns 20 quilômetros nessa situação, ele reduziu tanto a velocidade que deu margem para o carro que vinha logo atrás de mim resolver passar a todos. Imaginei que era uma aventura perigosa, não dava pra enxergar o motivo da diminuição de velocidade, mas com certeza devia haver algum obstáculo.

Quando o apressado se viu na contramão, em uma estrada não duplicada, um outro caminhão no sentindo contrário começou a piscar os faróis avisando que não dava para os dois. Não seria possível concluir a ultrapassagem porque na frente do Baú tinha um treminhão (aquele caminhão que puxa mais duas carrocerias). E aí?

Para evitar um acidente grave ele precisou riscar o asfalto com um freio e eu permitir que entrasse na minha frente e o fiz isso sem criar dificuldades para ajudar a evitar um acidente. Imagino o susto dele, iniciar o dia com o “dedo na tomada”…

Pensei, deve ser jovem, daí agir de forma impetuosa, sem pensar nas consequências, apenas por impulso.

Me transportei para minha juventude e me vi com o mesmo comportamento e o tanto de erros que cometi para atender à vontade juvenil de desafiar, muitas vezes, apenas pelo prazer de desafiar e não estou me referindo somente a guiar carro.

Quando somos jovens temos certeza da invencibilidade, da suficiente força e esperteza para enfrentar tudo. A falta de experiência nos cria a convicção de que possuímos um escudo invisível, que nos permite esticar os limites.

Lembro o quanto já falei sem necessidade, apenas por impulso; como forcei a “barra” onde não devia, apenas por capricho; quanto murro em “ponta de faca”, apenas para marcar território, agindo pelo ímpeto próprio da juventude.

Quanto problema poderia ter sido evitado se tivesse tido um pouco mais de paciência para tomar decisões, ou se tivesse o cuidado de olhar adiante como fazem os jogadores de xadrez, que antecipam os passos antes de se moverem.

Essa sabedoria de calar quando é desnecessário falar, de pensar antes de decidir e de esperar pela hora melhor, surge e se aprimora com a idade e concluímos que ímpeto é melhor não tê-lo, mas como sabemos se não o temos?

Eu estava ouvindo uma música cuja estrofe diz algo parecido com: “subitamente soube que não era magnífico e perdido na estrada posso ver milhas e milhas e milhas…” (tradução livre).

No cruzamento eu pude ver o motorista, era jovem mesmo e desejei que ele também ouvisse a mesma música e que aprenda cedo a ter dúvidas da invencibilidade, acredite na prudência e que tente enxergar adiante.

A idade que rouba os arroubos da juventude é a mesma que trás a sabedoria de pressentir perigo mesmo sem vê-lo. Teria gostado de dizer para o rapazinho apressado um conselho que me tem sido dito de forma repetida “na dúvida, não ultrapasse”.

Esse ditado é de uma abrangência infinita. Se duvidar de algo, respire, se duvidar do resultado, aguarde, ter cuidado ao ultrapassar é útil na estrada, felicidade e vida. NA DÚVIDA, NÃO ULTRAPASSE…

Fevereiro de 2019

Katia Betina

Fonte: Katia Betina

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