Após seminário, carta de recomendações para prevenção do suicídio em AL será entregue à Sesau

Assessoria

A ampliação da Rede de Atenção Psicossocial; a construção de um Plano Estadual de prevenção do suicídio e o suporte para a elaboração dos planos municipais; a necessidade do cofinanciamento, por parte do Estado, para a rede de atenção psicossocial; e a qualificação de professores e profissionais da atenção básica para que realizem o atendimento de forma interdisciplinar, identificando os fatores de risco e realizando a abordagem apropriada, são algumas das recomendações contidas na carta resultante do Seminário de Prevenção ao Suicídio e Construção de Rede de Cuidados em Alagoas, ocorrido nesta sexta-feira (13).

A carta será entregue ao secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, na próxima terça-feira (17), às 17h, por deputados estaduais integrantes das comissões organizadoras do encontro (Direitos Humanos e Segurança Pública; da Criança e Adolescente, Família e Direitos da Mulher; e a de Saúde e Seguridade Social) e por participantes do evento, que reuniu durante todo o dia, profissionais de várias áreas, estudantes e o público em geral, no Centro de Convenções de Maceió.

Na abertura foram exibidos vídeos nos quais vários deputados, a começar pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor, deram as boas vindas aos participantes, frisando a necessidade da junção de esforços para prevenção do suicídio em Alagoas. Acompanharam o seminário as deputadas Jó Pereira, Fátima Canuto, Ângela Garrote e Flávia Cavalcante, os deputados Cabo Bebeto e Marcelo Beltrão, a deputada federal Tereza Nelma e a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (Cosems), Izabelle Pereira.

Números

Em Alagoas foram registrados oficialmente 589 óbitos decorrentes de suicídio entre 2014 e 2018. Em 2019, já são 18 mortes, a maioria por enforcamento. Segundo os dados das tentativas de suicídio e dos suicídios apresentados por Rita Murta, gerente do Setor de Vigilância e Controle de Doenças não Transmissíveis da Sesau, os homens idosos e os adultos são as maiores vítimas do suicídio que, na maioria dos casos, ocorre dentro de casa, por enforcamento e, em segunda posição, envenenamento.

Entre 2014 e 2018, as maiores taxas de mortalidade por suicídio foram registradas nas 7ª e 8ª regiões de saúde, entre 4,5% e 5.2% para cada 100 mil habitantes. Ela explicou que conforme o parâmetro da Organização Mundial de Saúde (OMS), o estado figura entre o risco baixo (até 5%) e médio.

A gerente destacou que este ano a Lei 13819, que instituiu a Política Nacional de Prevenção à automutilação e ao suicídio, estabelece que todos os casos suspeitos ou confirmados sejam de notificação compulsória e imediata (até 24 horas) pelos estabelecimentos de saúde às autoridades sanitárias e pelos estabelecimentos de ensino aos conselhos tutelares. Para Rita, a necessidade agora é garantir que essas notificações aos conselhos cheguem também às autoridades sanitárias, para maior precisão nos registros.

“É imprescindível isso que estamos fazendo aqui, a integração de múltiplos setores, incluindo saúde, segurança pública, política, justiça. Parabenizo pela iniciativa da Casa e também da mídia, que tem que falar do tema”, disse a gerente.

Em seguida, a supervisora de Atenção Psicossocial da Sesau, Monique Cardoso, contou o que a pasta tem feito acerca da prevenção do suicídio e do atendimento às famílias enlutadas e disse que o Plano Estadual para Prevenção ao Suicídio deve ser apresentado em outubro, assim como a distribuição de cartilhas educativas para professores e alunos da rede pública. Das propostas, constam ainda o redesenho da rede de leitos para saúde mental em Alagoas (hoje são 15), a proposição de agenda única com os municípios e foco no público idoso.

Nas ações em andamento, a Sesau já trabalha na qualificação para profissionais do SUS, a princípio no Hospital Geral do Estado; com um projeto piloto de acompanhamento, em tempo real, dos casos; e com um projeto intersetorial de prevenção com escolas públicas.

A favor da vida

Depois da apresentação dos dados, a psicóloga Alessandra Silva Xavier, doutora em Psicologia Clínica e Psicobiologia pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) e professora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE), ministrou a palestra sobre prevenção e construção de rede de cuidados em Alagoas.

“O cuidado com a vida deve ser pauta fundamental também nas casas legislativas… Por isso é importante essa frente parlamentar a favor da vida, porque não há agenda mais valiosa. Essas são as obras mais importantes”, destacou, parabenizando a organização do evento e agradecendo aos integrantes das três comissões pelo convite.

“O ser humano para se tornar humano precisa de cuidados oferecidos por outros seres humanos… Não há outra tecnologia mais incrível, mais valiosa”, frisou a psicóloga, reforçando a importância dos laços afetivos e do amparo também por meio de políticas públicas.

Em seguida, a especialista elencou algumas das ações que a OMS considera prioritárias para ser desenvolvidas até 2020, entre elas, intervenções na primeira infância; emopoderamento socioeconômico das mulheres; apoio social para as populações; programas direcionados a grupos vulneráveis; leis e campanhas contra a discriminação; e formação de profissionais da mídia sobre como reportar o assunto suicídio.

Chamando a atenção para o grande aumento – 146% nos últimos cinco anos – de casos de suicídio entre adolescentes, Alessandra falou sobre os riscos, sintomas e ações de prevenção que, segundo ela, funcionam em todo o mundo, e apresentou o projeto piloto integrado, realizado em Fortaleza, em 15 escolas com maior índice de casos de suicídio.

Com o projeto, que incluiu qualificação de professores e distribuição de cartilhas de cuidados emocionais (construída com os próprios adolescentes), abordando depressão, suicídio, violência doméstica, em um mês e meio, houve o bloqueio 67 tentativas e em um ano, nenhum suicídio consumado nessas escolas.

Ajuda e luto familiar

“Falar é a melhor solução” foi o tema da palestra da médica e professora Delza Gitaí, ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), voluntária e uma das idealizadoras, no estado, do Centro de Valorização da Vida (CVV). Somente em Alagoas, a associação sem fins lucrativos registra diariamente cerca de 200 ligações. Em 2018, foram cerca de 2,5 milhões de ligações atendidas em todo o País.

A professora divulgou ainda que, junto com a Unicef, a CVV lançou uma série de vídeos educativos para jovens, educadores, gestores e pais, com temáticas sobre bullying, depressão, assédio sexual, quebra de tabus e suicídios. Os vídeos estão disponíveis no site da CVV.

Para discutir sobre a “vivência após a perda de um familiar por suicídio: do luto à busca pela superação”, a doutora em enfermagem fundamental pela Universidade de São Paulo, e professora da Ufal, Maria Cícera, apresentou alguns estudos de caso sobre problemas relacionados às pessoas que perderam seu familiar por suicídio ou que foram afetadas de alguma forma pela morte da pessoa que tirou a própria vida.

“Um suicídio na família é devastador. Para cada suicídio, há cinco ou seis pessoas próximas, que são afetadas pelas consequências emocionais, sociais e econômicas”, afirmou, destacando que a promoção à saúde mental aos familiares em luto, suporte familiar e social, apoio de amigos e crenças, cuidado dos profissionais de saúde e fortalecimento da união familiar são meios que ajudam na estabilidade física e emocional das famílias.

As apresentações foram precedidas de rodas de conversas, onde as perguntas da plateia foram respondidas pelos palestrantes.

Lembrando que o suicídio é um problema mundial que só pode ser vencido com a junção de esforços de todos, a deputada estadual Jó Pereira (MDB), presidente da Comissão da Comissão da Criança e Adolescente, Família e Direitos da Mulher, voltou a destacar que, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios em todo o mundo poderiam ser evitados, o que torna ainda mais clara a urgência de se criar uma rede de apoio e prevenção em Alagoas, composta pelas diversas esferas do poder público e sociedade civil organizada, especialmente voltada para crianças, adolescentes, idosos e outros grupos vulneráveis.

As demais comissões envolvidas na organização do seminário, de Direitos Humanos e Segurança Pública e a de Saúde e Seguridade Social são presididas, respectivamente, pelos deputados Cabo Bebeto e Léo Loureiro.

O seminário contou com a participação de representantes de diversas entidades relacionadas ao tema, secretarias estadual e municipais de saúde, Conselho Regional de Medicina, Ministério Público Estadual, Conselho Regional de Psicologia, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, Ufal e professores da rede pública de ensino.

Fonte: Assessoria

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