Litro da gasolina vai chegar a R$ 6? Preço volta a subir, e alta chega a 63,8% em 5 anos

No mês de dezembro, o preço da gasolina pesou bastante no bolso dos motoristas cariocas. De acordo com um levantamento feito pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP), na semana de 15 a 21 deste mês, o valor médio cobrado pelo combustível foi de R$ 4,969, e preço máximo encontrado nos postos chegou a R$ 5,299. Nos últimos cinco anos, o aumento foi de 63,8%. O dólar também teve alta relevante, atingindo pico de R$ 4,258, na última semana de novembro. Para deixar a situação mais leve, os brasileiros lançaram nas redes sociais o meme: o que chega primeiro a R$ 6, a moeda americana ou o combustível?

O taxista Denilson Pereira, de 46 anos, aposta na gasolina. Apesar de ter notado o impacto do dólar nos preços dos alimentos, ele reclama dos constantes aumentos dos combustíveis nas bombas, incluindo etanol e Gás Natural Veicular (GNV):

— O valor do taxímetro não sobe na mesma proporção. Meu lucro foi reduzido em cerca de 15%.

A dona de casa Ana Lúcia Souza, de 53 anos, também acredita que a gasolina pode bater R$ 6 primeiro, porque “falta pouco para chegar lá”. Relatos de motorista na internet, por exemplo, dão conta de que em Angra dos Reis o litro do combustível já chegou a R$ 6. Mas a dona de casa se mostra mais assustada com os preços nos supermercados dos produtos impactados pelo dólar:

— Já encontrei o quilo do bacalhau a R$ 89.

O frentista Francisco Aragão, de 52 anos, diz que durante os seis meses em que vem trabalhando num posto no Centro do Rio já acompanhou cinco aumentos no valor do combustível.

— A gasolina vai chegar a R$ 6 em maio — cravou.

O vendedor de tapioca José Ferreira da Costa, de 33 anos, faz a mesma aposta, mas estima que o valor seja alcançado em meados de 2020. Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Ibmec/SP, explica que o alto preço da gasolina é justificado pela desvalorização do real e pela política de preços da Petrobras, que prioriza a equiparação dos custos locais com os valores internacionais:

— Quando o preço do petróleo sobe lá fora, é natural que suba aqui. Somem a isso a depreciação cambial e o cenário ruim para esses produtos, o que não é animador.

Pesquisa de preços

O Estado do Rio tinha a gasolina mais cara do Brasil, com valor médio de R$ 4,975, de acordo com um levantamento feito em novembro pela ValeCard (último disponível), com base nos preços praticados em 20 mil estabelecimentos do país.

Entre as regiões, em novembro, o Sudeste vencia no quesito gasolina cara, com valor de R$ 4,675. O Sul permanecia como a região com o litro mais barato: R$ 4,341. Entre as capitais, Curitiba (R$ 4,138) e São Paulo (R$ 4,211) tinham os menores preços.

Queda da Selic influencia alta do dólar

O estrategista da plataforma RB Investimentos, Daniel Linger, explica que a alta do dólar ocorreu por três motivos: a queda da taxa de juros brasileira (Selic) — o que contribuiu para investidores especulativos estrangeiros retirarem dinheiro do país e investirem no exterior —; os conflitos na América Latina, que trouxeram dúvidas sobre a democracia em países da região; e a entrada reduzida de dólares em virtude da receita menor do leilão do pré-sal.

Roberto Dumas, professor do Ibmec/SP, aponta que a redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos fez com que investidores repensassem o risco da operação:

— O Brasil cresce menos do que os Estados Unidos. Então, por que colocar o dinheiro no Brasil se lá fora, com risco zero, o retorno compensa mais?

Produtos que o Brasil não produz em larga escala e precisa importar — como trigo e medicamentos complexos — foram afetados. Além disso, itens de exportação, como carnes, soja e açúcar foram impactados, pois, quando o dólar sobe, o produtor nacional tem a opção de vender ao exterior com condições mais favoráveis, elevando preços no mercado interno.

2020: aposta em estabilidade

A cotação do dólar depende de uma série de variáveis para extrapolar os limites em que vem operando. Na sexta-feira passada, a divisa comercial fechou o dia cotada a R$ 4,0493. Especialistas de mercado acreditam que a moeda não atingirá patamares mais baixos tão cedo. Mas eles também apostam que não chegará à marca de R$ 6.

Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, o cenário para 2020 é de estabilidade, com o dólar variando de R$ 3,90 a R$ 4,10. A gasolina, para ele, também não deve subir mais, oscilando entre R$ 4,50 e R$ 5, o litro.

— Sem tanto espaço para corte da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), não tem motivação para o petróleo subir muito — analisou.

O economista e professor do Isae Escola de Negócios, Patrick Silva, afirma que o cenário pode mudar, com redução de preços somente se o governo conseguir concluir seus planos de concessões, privatizações e investimentos em infraestrutura, atraindo grandes recursos em dólares:

— A partir daí, poderemos pensar na possibilidade de o dólar voltar a trabalhar abaixo de R$ 4. Enquanto isso não acontece, o controle sobre os gastos com produtos importados deve ser redobrado, reduzindo o consumo ou substituindo o que for possível por itens similares nacionais.

O estrategista Daniel Linger afirma que o preço do combustível vai se ajustar conforme a cotação internacional:

— Se tivermos um dólar menor, a medida que avancemos no ambiente econômico nacional, os combustíveis deverão ficar mais baratos.

Fonte: Extra

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