Ministério da Saúde credencia Santa Casa de Maceió para transplantes de fígado

Instituição é a única no estado apta a realizar o procedimento; programa deve iniciar trabalhos nos próximos meses

O transplante de fígado troca um órgão doente por outro saudável. A cirurgia leva, em média, de seis a oito horas, com movimentos orquestrados pelos cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e o instrumentador. Na recuperação pós-cirúrgica, entram em cena os intensivistas até o paciente ser liberado para o quarto. Com a alta hospitalar, a expectativa é de vida nova para quem recuperou a saúde após o triste diagnóstico da necessidade de um órgão novo.

Em Alagoas, falta pouco para essa rotina se tornar realidade. A Santa Casa de Maceió, que há cinco anos já faz a captação do órgão (cirurgia de retirada) e o envia para outros estados, é a única instituição do estado credenciada pelo Ministério da Saúde para a realização de transplante de fígado. “Não tivemos a oportunidade de iniciar o programa devido à pandemia, pois não dispúnhamos de leitos de UTI. Foi preciso fazer uma pausa até que tudo se organizasse e um novo pontapé pudesse ser dado. Acredito que até dezembro o procedimento seja iniciado”, afirmou o cirurgião Oscar Ferro.

A excelência do trabalho de captação despertou a atenção da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que apoiou o hospital alagoano, o Ministério da Saúde, que o incluiu na rede de hospitais que já realizam transplantes no Brasil. “Com essa indicação do Governo de Alagoas, pensamos em uma estrutura para que o programa fosse viabilizado. Começamos a trabalhar o projeto no final de 2019, com o processo de credenciamento, quando reunimos e enviamos todos os requisitos solicitados pelo órgão federal. Uma comissão de Brasília veio até à Santa Casa de Maceió para vistoriar se tínhamos a estrutura adequada para esse tipo de cirurgia, o que foi certificado. Hoje estamos credenciados via SUS”, comemorou o especialista.

Na Santa Casa de Maceió, os transplantes serão feitos com o órgão de doador cadáver. A cirurgia com doador intervivo, quando um parente doa metade do fígado, foi deixada para uma etapa mais à frente. “É um salto muito grande o hospital sair de captador de órgãos para realizador de transplantes. Transplante é uma das cirurgias mais complexas que existem. Temos uma equipe cirúrgica credenciada pelo Ministério da Saúde formada por mim, os cirurgiões Felipe Augusto Porto de Oliveira e Leonardo Wanderley Soutinho, os anestesiologistas Cira Queiroz e Nélio Monteiro, e o pessoal da UTI. Dar início a esse programa exige uma estrutura diferenciada para o hospital, pois é preciso melhorar a radiologia, a equipe cirúrgica, a anestesia, além de melhorar os cuidados intensivos de UTI, entre outros serviços. E a Santa Casa de Maceió já se enquadrava nesse perfil com as cirurgias de alta complexidade que realiza”, afirmou.

DOAÇÃO – Para o pleno funcionamento do programa, a família de pacientes com diagnóstico de morte encefálica confirmado tem papel fundamental. Mensagens por escrito deixadas pelo doador não são válidas para autorizar o procedimento. O processo de retirada de qualquer órgão só acontece após os familiares darem o aval da cirurgia, assinando um termo.

De acordo com o Ministério da Saúde, metade das famílias entrevistadas não permite a retirada dos órgãos para doação. “Existe o medo de que essa retirada de órgão aconteça com o paciente ainda está vivo. Mas não há o menor risco de isso acontecer em um paciente sem a confirmação de morte cerebral. O contrário é lenda urbana que só atrapalha o processo de recuperação de quem espera por um transplante”, finaliza o especialista.

No Brasil existem 27 centros de notificação integrados. Os dados informatizados do doador são cruzados com os das pessoas que aguardam na fila pelo órgão para que o candidato ideal, conforme urgência e tempo de espera, seja encontrado em qualquer parte do país.

O que leva uma pessoa a precisar de transplante de fígado?

O fígado é a maior glândula do corpo e está localizado atrás das costelas, na porção superior direita da cavidade abdominal. Possui formato de prisma, tem coloração vermelho-escuro (tendendo ao marrom), pesa cerca de 1.5 kg, e é dividido em quatro lobos.

Na década de 80, sem critérios bem estabelecidos, o transplante de fígado era realizado, quase em sua totalidade, em pacientes terminais que não sobreviviam ao procedimento. O cenário mudou em 2000, quando surgiu a escala MELD – Modelo para Doença Hepática Terminal, do inglês Model for End-Stage Liver Disease. É um sistema de pontuação que quantifica a urgência de transplante hepático em pacientes maiores de 12 anos. Hoje esse cálculo se dá no fígado que tem a doença de cirrose estabelecida.

“Para transplantar, o doente precisa, na maioria das vezes, ter cirrose, que é uma doença crônica onde o fígado não cicatriza. Existem indicações especiais, quando o fígado não está cirrótico, como alguns tipos de tumores ou doenças em que o transplante se encaixa. O grande problema é que a cirrose nem sempre dá sintomas. O paciente precisa fazer exames de rotina para verificar a saúde do órgão”, disse Oscar Ferro.

Fonte: Ascom Santa Casa

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