VÍDEO: Pedagoga leva soco durante abordagem policial; PM foi afastado

PM do Amapá alega que foi fato isolado e vai apurar o que aconteceu. Pedagoga foi presa por desacato. 'Preconceito muito grande, porque éramos os únicos negros ali', comentou.

Um vídeo registrou o momento em que uma mulher negra, a pedagoga Eliane Espírito Santo da Silva, de 39 anos, leva um soco no rosto, durante uma abordagem policial, em Macapá. A gravação repercutiu nas redes sociais.

A Polícia Militar (PM) do Amapá informou que vai apurar o caso, que foi um fato isolado. Inicialmente, a assessoria de imprensa afirmou que os três agentes foram afastados das funções, mas à tarde, o corregedor Edilelson Batista declarou que somente o policial gravado dando soco em Eliane teve suspensos os plantões nas ruas.

Em nota, o governador do Amapá Waldez Góes descreveu que a ação foi “recheada de atitudes racistas”. Por isso, ele informou que determinou ao comando da PM a “apuração criteriosa e rápida dos fatos”.

“Para mim isso foi uma tortura, mexeu muito com meu psicológico. […] Eu fui chamada de preta, fui chamada de vagabunda por eles na delegacia. Eu me senti ofendida e para mim foi um preconceito muito grande, porque éramos os únicos negros ali. O correto era todo mundo ser ouvido. Por que eu vou pagar fiança por um crime que eu não cometi? Por que o policial me agrediu se eu não ofendi ele e estava apenas fazendo um vídeo?”, disse Eliane.

A abordagem aconteceu na sexta-feira (18) à noite, numa região chamada Loteamento São José, na Zona Norte da capital. A pedagoga foi presa e apresentada no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) do bairro Pacoval por resistência, desacato e desobediência.

Nas imagens gravadas pelo filho dela, aparece a equipe durante abordagem a dois homens; e em seguida, um dos militares dá voz de prisão para Eliane, tenta imobilizá-la, leva ela ao chão e dá um soco no rosto dela. Ela é algemada e levada para a viatura.

De acordo com Eliane, a abordagem iniciou quando ela estava dentro do carro de um amigo da família, na frente de casa; no veículo estavam ela, o marido, dois amigos, um adolescente de 15 anos, e uma sobrinha de 4 anos.

A pedagoga descreveu que três policiais militares iniciaram a revista nos homens, enquanto mandaram ela ir para o outro lado da rua. Eliane também começou a gravar um vídeo do próprio telefone, que foi apreendido pela equipe.

Eliane Silva/Arquivo Pessoal

Fotos mostram marcas que ficaram da abordagem

O marido dela, Thiago da Silva, também foi detido pelas mesmas acusações. Eliane afirmou que, antes de ser presa, ele também questionou a abordagem; em seguida um dos policiais teria mandado ele calar a boca, o chamado de “vagabundo”, e dado um soco nele.

“A polícia já abordou a gente apontando as armas para o carro. Abordou todo mudo menos eu; um deles deu um soco no estômago do meu marido. Eu falei para a equipe liberar o adolescente porque ele é do interior, e estava sob minha responsabilidade. Eu atravessei, fiquei na calçada de casa. Só um deles me agrediu”, comentou Eliane.

“A abordagem inicial foi me engasgar, me deu rasteira e me ‘murrou’. Eu não tive reação, eu apanhei, só fiz gritar para a população ver o policial me agredindo desnecessariamente. Em nenhum momento houve desacato, em momento algum eu o agredi verbalmente, ele que já veio me agredindo fisicamente”, acrescentou.

Em audiência de custódia realizada no sábado (19), ela teve que pagar R$ 800 de fiança para ser liberada; o mesmo valor foi arbitrado para o marido. Após sair do Ciosp, ela foi à Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM) registrar um boletim de ocorrência contra o policial.

A pedagoga afirmou que a família teme novas ameaças e retaliações.

“Minha família está com medo de represália, de fazerem algo com meu filho. Ele é trabalhador. Eu trabalho na minha casa, passei um constrangimento na frente de casa, do meu trabalho”, pontuou.

O governador publicou em redes sociais uma nota em que declara que as imagens “envergonham as forças de segurança e o Estado do Amapá”.

“Cenas como essa não podem ser toleradas e não podem se repetir”, escreveu.

Fonte: G1 Amapá

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