Lazio x Roma: André Dias revela os bastidores do dérbi mais quente da Itália

Marco Rosi/LaPresse

Lazio e Roma irão protagonizar mais um capítulo de uma das maiores rivalidades do mundo. O dérbi da capital italiana, válido pela 18ª rodada da Serie A, será disputado no Estádio Olímpico de Roma, nesta sexta-feira, às 17h (de Brasília). O ex-zagueiro André Dias, tricampeão brasileiro pelo São Paulo, viveu muitos duelos pelo lado biancocelesti e garante que o jogo é um campeonato à parte para jogadores e torcedores.

“A rivalidade com a Roma é algo de outro mundo. Não podia ficar conversando com os brasileiros do rival. Tinham bairros que eram da Roma e outros da Lazio. Eu não poderia ficar andando nos bairros de lá e ao contrário também. Você era xingado e poderia ser até agredido. Achava que as rivalidades do Brasil eram grandes, mas Roma x Lazio era dez vezes pior. Eles vivem para aquele jogo”, contou ao ESPN.com.br.

O brasileiro conta que uma vez estava jantando com a família em um shopping de Roma na semana do clássico quando foi abordado.

“Chegaram uns quatro torcedores com um papel e me falaram: ‘Eu escalei o time para o domingo. O que você mudaria?’ Eles eram fanáticos a esse ponto! Eu respondi que não poderia fazer isso porque não era o treinador”, afirmou.

Já não era a primeira vez que o zagueiro tinha passado por uma situação assim. Contratado pela Lazio em fevereiro de 2010, o brasileiro assustou-se ao ver a realidade do clube da capital italiana.

“Eu nem pensei duas vezes e não sabia como era a situação da Lazio à época. Eu aceitei só por ser a Itália e o futebol europeu, que era meu sonho. A equipe estava perto da zona de rebaixamento e eu não sabia disso. Fiz exames médicos em Roma, voltei ao Brasil para buscar minhas coisas e jogar no final de semana (risos). Cheguei com fuso-horário, não consegui dormir e tive que ir direto para o jogo. Nós perdemos de 1 a 0 para o Catania com um gol do Maxi López em uma falha minha”, recordou.

“A imprensa caiu matando dizendo que não tinha condições de jogar clube, mas ninguém sabia a história. Ainda bem que não entendia nada de italiano. Depois do jogo apareceram 15 torcedores soltando bombas no CT e querendo pegar os jogadores. Eu pensei: ‘Meu Deus o estou fazendo aqui? Saí de um time que sempre briga por títulos, com estrutura magnífica e vim para outro conturbado. Que loucura!'”, contou.

Com os passar do tempo, ele foi se adaptando ao futebol europeu e a Lazio passou a ter melhores resultados em campo.

“Chegou um treinador italiano que foi um pai para mim e foi me ensinando as coisas. Ele me deixou de fora por cinco jogos para entender o que estava acontecendo. O futebol italiano é muito tático e o brasileiro é muito instintivo. Depois, passamos a brigar todo ano pelos quatro primeiros postos, jogar Europa League e até lideramos uma época o Italiano. Também aprendi a falar o idioma e a entender a cultura deles. No fim, foi legal”.

Em quatro anos e meioo na Lazio, André foi campeão da Copa da Itália (2013) e vice da Supercopa sendo derrotado pela Juventus.

“Na época da Copa da Itália eu já queria voltar ao Brasil. Em 2011, o Santos queria que eu jogasse o Mundial de Clubes. Veio depois o Atlético-MG também quando estava o Ronaldinho Gaúcho porque o Réver havia se machucado. Eu queria voltar ao Brasil e jogar a Libertadores. Eu passei a me desentender com a diretoria da Lazio que não queria me liberar” afirmou.

André afirma que por causa das discussões foi foi sacado da equipe titular e virou quinto zagueiro na temporada seguinte. Os maus resultados, porém, mudaram após uma conversa com o presidente do clube.

“Ele disse: ‘Te chamei por último porque dos 30 jogadores que conversei, 28 falaram que o time está assim porque você não está jogando. Você vai voltar a jogar’. Depois, voltei a ser titular no final da temporada. Caiu o treinador após o jogo seguinte, uma derrota pra a Juventus por 3 a 1, e o nosso time subiu muito. Fizemos uma arrancada ótima. Depois, eles mandaram embora os jogadores mais velhos, e eu também”.

André Dias saiu da Lazio no meio de 2014 depois de ter feito 105 partidas e ter anotado cinco gols.

Quase ida ao Corinthians

“Minha aposentadoria não foi planejada. Assim que meu contrato com a Lazio acabou eu tinha outras duas propostas de times da Itália, Sampdoria e Sassuolo, mas eu teria que mudar de cidade. O contrato era só de um ano e a minha esposa não queria porque nosso filhos estavam na escola. Eu sai de férias e fui ver o que faria. Só que meus últimos seis meses de Lazio foram muito ruins porque estava com joelho ruim, sentia muitas dores e o pessoal não me dava tempo de me tratar.

Vim para o Brasil para fazer tratamento. Minhas filhas não falavam português porque foram criadas na Itália e meu filho falava bem, mas lia mal. Recebi propostas de times do Nordeste, mas não aceitei. Nisso, passaram sete meses e tinha ganho seis quilos porque não estava treinando. O Edu Gaspar me ligou para ir ao Corinthians. Fui bem sincero ao dizer que precisava de cinco meses para ficar num nível legal, mas eles tinham vendido o Cléber Reis e precisavam de alguém para chegar jogando. Veio mais um time da Itália depois, mas já estava estabilizado no Brasil. Não voltei para cá com a intenção de parar, mas acabei me aposentando.”

Hoje é empresário

“Os primeiros seis meses foram ótimos pareciam que estava de férias. Pensei: ‘Acabou aquela loucura!’ O que mais queria era seguir outro ritmo. Mas a vida era tão agitada e depois de um tempo parado você começa a sentir falta dos treinos, concentração, jogos e resenha de vestiário. Pensei: ‘E agora, o que vou fazer?’ O que não queria era abrir uma empresa para dizer que estou trabalhado e perder dinheiro com algo que você não entende. Tive chance de abrir posto de gasolina, loja de shopping e sei como é complicado. Depois do futebol você não pode arriscar porque não tem mais aquela renda de antes.

Não estava me empolgando com nenhum negócio até que me juntei ao Lúcio Flávio e nós montamos um projeto social em Curitiba com mais de 250 alunos. Cresceu muito rápido e precisamos contratar pessoas para trabalhar. Abri uma academia na região e conseguimos 300 alunos, mas era uma responsabilidade e vendi. Depois, passei a empresariar jogadores porque o futebol é um meio que conheço bem. Sempre tive as portas abertas nos clubes porque nunca fiz sacanagem com ninguém. Quero ser um empresário diferente e poder ajudar aos atletas também como me ajudaram no passado. Tenho jogadores no sub-20 de Paraná, Fluminense, Tubarão-SC. Eu recebo todo dia muitos vídeos e as coisas estão andando.”

Fonte: ESPN

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