Enfermeira que debochou da vacina contra Covid-19 diz que exerceu ‘direito de liberdade de expressão’

A enfermeira Nathanna Ceschim, que se tornou alvo de investigação após publicar em uma rede social vídeos em que aparece sem máscara no local de trabalho e, em outro momento, debochando da vacina contra a Covid-19, disse que estava apenas “exercendo o direito de liberdade de expressão como cidadã”.

O relato foi enviado através de uma mensagem de áudio à reportagem de “A Gazeta”, nesta segunda-feira (25). Nathanna ainda acrescentou que não fez campanha contra o imunizante.

“Os meus vídeos foram apenas exercendo meu direito de liberdade de expressão como cidadã. Eu fiz um vídeo caseiro, dentro da minha casa, sem expor ninguém, dando apenas o meu ponto de vista. Eu acho a vacina importante? Sim, mas não acho que seja a salvação do problema. Foi um ponto de vista meu. Meu. Eu não fiz campanha contra a vacina, não falei para as pessoas não se vacinarem. Eu não fiz nada disso. Tanto que eu falo no vídeo ‘Olha, para mim, essa vacina não tem segurança, eu não tomei ela para me sentir mais segura’. Foi um ponto de vista meu”, justificou.

Em outro áudio, Nathanna explica por que aparece sem máscara em um vídeo gravado dentro do Hospital da Santa Casa de Vitória, onde atua na linha de frente do combate à Covid-19.

“Aquele momento lá era um momento que eu estava fechando meu plantão. Era perto das 19h. Foi um plantão bastante tumultuado que eu tive. Eu passei o dia todo de máscara e não bebi uma gota d’água. Naquele momento, foi um momento que eu parei em frente ao computador, respirei, tirei a máscara para poder tomar um pouco de água e fiz aquela brincadeirinha com o técnico da equipe de enfermagem, que não teve relação em nada com a vacina. Foi isso que aconteceu”, disse à reportagem de A Gazeta.

A vacina que Nathanna tomou é a CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Relembre o caso

Ambos os vídeos citados foram publicados por Nathanna em um perfil do Instagram na sexta-feira (22).

Um deles mostra a enfermeira de touca cirúrgica, em frente a um computador do hospital. A unidade não informou em que área a gravação foi feita. No vídeo, ela brinca com um colega, que aparece na porta da sala com touca, luvas e máscara.

Horas antes, a mesma enfermeira publicou um vídeo em que desdenhava da aplicação da vacina CoronaVac. Um comprovante exibido na rede social aponta que a mulher tomou a vacina contra a Covid-19 na terça (19), em Vitória.

“Tomei por conta que eu quero viajar, não para me sentir mais segura. Porque uma vacina que dá 50% de segurança para mim não é uma vacina. Tomei foi água”, disse no vídeo.

Após os vídeos repercutirem na imprensa e nas redes sociais, Nathanna excluiu a conta.

Investigações

Em relação ao uso da máscara, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória abriu uma investigação para apurar a conduta da funcionária, já que “a falta da máscara no ambiente é uma prática proibida desde o início da pandemia e que todos os colaboradores têm conhecimento sobre essa regra”.

Procurada novamente nesta segunda (25), a unidade informou apenas que já tomou todas as medidas cabíveis relacionadas ao assunto e que não mais se manifestará sobre o ocorrido.

O Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) também determinou abertura de procedimento ético para apurar o caso.

“É inaceitável que, após onze meses de enfrentamento à pandemia e em defesa da vida, um profissional de enfermagem se posicione nas redes sociais de forma irresponsável e inconsequente, comprometendo a ciência, a saúde e a vida das pessoas. A apuração, com amplo direito de defesa, será com base no Código de Ética da Enfermagem. As penalidades previstas vão de advertência à cassação do registro profissional”, diz parte da nota.

Nesta segunda (25), o O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) informou que vai instaurar procedimento administrativo para acompanhar tanto o que está sendo feito no âmbito do hospital onde a enfermeira trabalha quanto o que o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES) está apurando sobre o caso.

Repúdio

Entidades e profissionais ligados à área da saúde manifestaram repúdio à postura da enfermeira. O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, falou sobre o caso em uma rede social.

“Repudiamos toda e qualquer expressão de negação da ciência, da expressão de futilidades desnecessárias ao comportamento exemplar que se espera dos trabalhadores da saúde. Somos preparados para salvar vidas, não para sabotá-las”, disse.

A enfermeira e pós-doutora em epidemiologia Ethel Maciel também lamentou a atitude da colega de profissão.

“Eu queria dizer o quanto é lamentável numa pandemia que já levou mais de 200 mil pessoas no nosso país e que aproxima o Espírito Santo dos seis mil mortos e que não haja empatia. O primeiro problema é a falta de empatia com a vida alheia. As vacinas significam a nossa única estratégia para combater esse vírus. Além de uma série de desinformações presentes nesse vídeo, inclusive uma interpretação errada do que é eficácia.

Vacina

A vacina recebida pela enfermeira é a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A eficácia e a segurança da CoronaVac foram comprovadas em ensaios clínicos conduzidos no Brasil.

A eficácia geral da vacina ficou em 50,38% – acima do mínimo de 50% recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O uso emergencial do imunizante no país foi aprovado pela Anvisa no dia 17.

A eficácia de 50,38% foi contra todos os casos de Covid, incluindo aqueles muito classificados como “muito leves” (na gradação da Organização Mundial de Saúde, um caso “muito leve” é aquele que não precisa de atendimento médico).

Já contra os casos que precisaram de algum tipo de atendimento médico (casos “leves”, segundo a gradação da OMS), a eficácia foi de 78%.

Contra os casos considerados moderados ou graves, a eficácia da vacina foi de 100%.

Fonte: G1

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos