Para voltar ao poder na CBF, Caboclo diz que ‘tinha pouco contato’ com médico que ‘salvou’ sua vida

Em 9 de abril de 2019, após tomar posse e fazer um longo discurso público citando várias autoridades e prometendo uma gestão íntegra, moderna e eficiente, Rogério Caboclo agradeceu especialmente a um amigo de anos. Longe de holofotes e microfones, disse ao chefe médico da CBF, Jorge Pagura, que não estaria ali assumindo a presidência da entidade se não fosse o esforço daquele que o ajudou diversas vezes.

“Você salvou minha vida”, disse Caboclo ao reconhecer todo o esforço de Pagura nas diversas crises por graves problemas de saúde no pâncreas que o cartola enfrentou nos últimos anos.

Surpreendentemente, dois anos depois de tamanho reconhecimento, a peça de defesa entregue pelos advogados de Rogério Caboclo na comissão de ética da CBF em um processo que investiga acusação de assédio sexual e moral diz que o presidente afastado “tinha pouco contato” com Pagura. A expressão está no item 77 do documento de 62 páginas obtido pelo ESPN.com.br.

Naquele trecho da defesa, Caboclo tenta desqualificar todos os diretores que prestaram depoimento na câmara de investigação da comissão de ética sobre o caso. O documento diz que as versões do grupo “são absolutamente parciais e merecem ser desconsideradas”.

“Os diretores já demonstraram, de diversas formas, ter especial interesse em um desfecho negativo do processo para o defendente (Caboclo). (…) Os seus relatos dos fatos em depoimento são absolutamente parciais e eivados dos mais diversos vícios”, apontou a defesa em outro trecho do documento.

O comportamento da defesa incomodou boa parte de diretoria e funcionários da casa. Mas foi justamente a citação fazendo pouco caso de Jorge Pagura que irritou os membros da CBF.

Conhecido por priorizar o lado técnico de sua área – médica – e evitar embates políticos, “Pagurão”, como é chamado por muitos membros da alta cúpula da confederação, se viu puxado para dentro do tiroteio que virou a briga pelo poder na CBF. Dentro disso, na tentativa quase desesperada de voltar à presidência, Caboclo parece ter esquecido passagens importantes vividas com o médico que, segundo o próprio mandatário afastado, “salvou sua vida”.

Risco de morte e transferência delicada em 2015 marcaram relação

Em 2015, enquanto a seleção disputava a Copa América no Chile, Caboclo, então diretor financeiro da CBF, teve um grave problema de saúde. Seu quadro evoluiu para uma pancreatite hemorrágica em poucas horas e, na sequência, para uma necrose pancreática. Pagura não pensou duas vezes: bancou a decisão de transferir Rogério para São Paulo.

Na visão dos envolvidos no caso, o hospital Barra D’or, para onde o dirigente fora levado inicialmente, não tinha o suporte necessário. A transferência, por sua vez, também aumentava o risco do paciente. Mas Jorge Pagura não quis saber. Ao lado de médicos pessoais de Rogério, o levou para o hospital Sírio Libanês, em São Paulo, referência para esse tipo de tratamento.

Caboclo chegou em estado gravíssimo. Funcionários da CBF foram comunicados do quadro e realizavam orações. Após longo período de internação sob os cuidados de Pagura e equipe, Rogério se recuperou. O diretor financeiro voltou ao trabalho com tempo para se tornar CEO e, posteriormente, presidente.

Nos últimos anos, já como mandatário da confederação, Caboclo só fez aumentar o vínculo com o médico. Ainda que a defesa fale em “pouco contato”, as conversas eram quase diárias. Foi Pagura o responsável por todas as conversas sobre protocolo anti-covid e retorno do futebol em meio à pandemia. Chefe médico da CBF e membro da alta cúpula do hospital Albert Einstein, de São Paulo, foi ele quem viabilizou todos os testes RT-PCR para o futebol brasileiro desde meados de 2020.

Procurado pela reportagem para comentar o assunto e os motivos de citar uma relação íntima de anos de tal forma na defesa, Rogério Caboclo mandou o seguinte posicionamento via assessoria pessoal:

“O presidente da CBF, Rogério Caboclo, reconhece que o médico Jorge Pagura o atendeu prontamente em uma emergência médica e é muito grato por isso. Na CBF, no entanto, atualmente, eles mantinham contatos esporádicos e não tinham relação de médico e paciente.

Jorge Pagura, portanto, não dispõe de informações atualizadas sobre a saúde de Caboclo, ao contrário do que fez crer em seu depoimento. A defesa de Caboclo apenas contestou formalmente o diagnóstico apresentado pelo médico porque ele não tem informações nem fez exames que embasem essas opiniões.”

Fonte: ESPN

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