Centrão no Planalto significa recursos para governistas, diz cientista político

A escolha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo nome do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para comandar a Casa Civil significa que o governo federal vai dedicar todos os recursos públicos possíveis para atender a base governista no Congresso Nacional, afirmou à CNN nesta sexta-feira (23) Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.

“Não é à toa que o Centrão agora tem a Casa Civil, que é o coração do governo, por onde passam todas as nomeações, pode passam as liberações, por onde passa o que interessa ao Centrão: recursos públicos para se fazer política”, avaliou Melo. “Até aqui”, ponderou o analista, “nada de necessariamente ilegítimo, mas fisiológico”.

O professor explicou que o Centrão, conjunto de partidos que hoje integra a base do governo no Congresso, mas que já compôs a base de governos anteriores, ideologicamente diversos, “não é nem frente partidária e nem um partido, o Centrão é um consórcio de interesses e esses interesses agora serão melhor atendidos a partido do Executivo com um de seus membros na Casa Civil”.

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que fará algumas alterações em seu ministeriado, nomeando Ciro Nogueira, presidente do PP – mesmo partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) -, para a Casa Civil no lugar do general Luiz Ramos.

Ramos, que disse não ter sido avisado antecipadamente da demissão, deverá passar à Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Onyx Lorenzoni, que por sua vez poderá assumir a pasta do Trabalho, a ser recriada pelo presidente.

Descumprimento de promessa de campanha

Segundo Melo, tornar um dos líderes do Centrão chefe de um dos principais ministérios de seu governo pode significar também um custo político para Bolsonaro, que foi eleito criticando o chamado “toma-lá-dá-cá” que teria sido praticado por governos anteriores, isto é, fazer nomeações e destinar verbas em troca de apoio político.

Questionado sobre a aproximação com o Centrão, Bolsonaro respondeu que ele próprio “é do Centrão”.

“Tem aí uma coisa que é o farisaísmo eleitoral. O presidente falou uma coisa na eleição e agora faz outra, num estilo George Orwell, parece ‘1984’ e ‘Revolução dos Bichos’: o que foi dito lá atrás não vale agora”, disse Carlos Melo.

De acordo com o cientista político, “uma parte dessa base do Jair Bolsonaro que lhe deu 57 milhões de votos em 2018 tende a se descolar por conta dessa relação íntima de agora com o Centrão porque foi uma promessa de campanha forte, central, que não foi atendida”.

Fonte: CNN Brasil

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