Isis Valverde está ansiosa para o lançamento Por Todas Nós, filme em que interpreta Ângela Diniz, assassinada na década de 70 por seu então companheiro, que teve a pena breve em um julgamento marcado pela culpabilização da moral sexual feminina da vítima baseada na então lei de defesa da honra. A atriz, de 36 anos, diz que a personagem hoje pode ser vista de outra forma pela sociedade, que cada vez mais tem debatido o machismo.
“Eu nunca vi a Ângela Diniz de outra forma. O assassino nunca pode ter razão. Mas a sociedade via isso de outra forma. Foi muito legal dar vida a essa mulher, que se foi, mas deixou um legado incrível para a gente. Ela mudou a lei do nosso país! Me sinto muito honrada em contar a história desta mulher”, analisa ela, que ainda hoje sente na pele os impactos do machismo.
“A gente ainda vive o machismo, acham que o erro é sempre nosso (mulheres). Se não deu certo o casamento, você é uma péssima mulher, você é ruim de cama ou não sei o que. Se não deu certo o namoro foi porque você traiu o cara, se ele te traiu foi porque você abriu esse espaço, deixou de ser sexy, virou mãe e ficou feia… Essas coisas a gente ainda vive! É muito importante como mulher e feminista, que levanta essa bandeira da igualdade e a de nós mulheres olharmos entre nós com mais carinho, fazer esse filme”, explica Isis, que no começo do ano passado se separou de André Resende.
Mãe de Rael, de apenas quatro anos, Isis procura ensinar o menino sobre a igualdade de gênero e o respeito que os homens devem ter com as mulheres. Ela ressalta que ele já tem a sensibilidade para entender algumas questões.
“Nós, mães de meninos, temos uma oportunidade ainda maior de construir um futuro. Sou uma mãe que conversa mais, que tem que convencer o meu filho a fazer coisas que ele não quer. Às vezes sou mais firme, às vezes mais permissiva, às vezes mais chorona por achar que não estou aguentando mais dar conta daquilo tudo… Agora ele está na fase de gritar: ‘Não quero isso’. Ele está tentando se entender como um menino grande. Quando ele briga comigo, eu falo, ‘filho, eu sou a mulher que mais te ama, sou sua mãe, você não pode levantar a voz para mim’. Começo a ensinar aos pouquinhos sobre o respeito e sobre dividir igual”, conta ela, que muitas vezes se surpreende com o filho.
“Essa geração está surpreendendo todo mundo. Ela nos ensina. Meu filho falou esses dias para mim: ‘Mãe, minha amiga bateu em mim na escola, mas eu não bati nela porque ela é um pouco mais fraca do que eu’. Falei: ‘É filho você tem que cuidar e amar a sua colega’. Ele é um menino que não é agressivo. Quando batem nele, ele vai e conta para a professora porque acha que bater é feio. Claro que tem hora que ele não quer emprestar o carrinho, mas está ainda no lugar da criança. A gente não pode colocar todas as nossas frustrações em uma criança, mas o que posso passar para ele, passo”, explica.