A mulher de 34 anos que passou mais de cinco anos perseguindo o dentista Felipe Cordeiro e a noiva dele, Bruna Mascarello, pedia o celular das pessoas na rua para enviar mensagens a ele. Segundo o relato das vítimas em um boletim de ocorrência, a suspeita dizia para quem emprestasse o aparelho que precisava ligar para o namorado.
Ela foi presa na segunda-feira (3) em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, após descumprir medidas impostas pelo Poder Judiciário para que não se aproximasse do casal. Ela foi detida pelos crimes de perseguição, injúria e ameaça.
A mulher escreveu em uma rede social que tinha um relacionamento com Cordeiro. À Polícia Civil, ele afirmou que jamais esteve em uma relação amorosa com ela.
O advogado Jasson Paulo Neto foi nomeado pela Justiça para a defesa da suspeita na audiência de custódia após a prisão. Ele disse ao g1 que Daiane Priscila Szlachta Terrez “se declara inocente e pretende provar sua inocência”.
Ela conheceu o dentista em 2019 durante um tratamento odontológico. Desde então, começou a persegui-lo, de acordo com a Polícia Civil.
Usar o celular de outras pessoas para mandar mensagens para o dentista não foi a única transgressão cometida pela suspeita. Ela também chegou a enviar a ele uma caixa de presentes no Dia dos Namorados. Nela havia cartas de amor e um quadro que representava os dois.
A mulher também invadiu o prédio onde o dentista mora duas vezes e o perturbou na praia, local onde também ofendeu a noiva dele.
Todas essas transgressões estão descritas em um boletim de ocorrência feito por ele contra a suspeita em 12 de julho de 2024. O documento está anexado ao processo aberto pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) para pedir a prisão preventiva da mulher.
As transgressões descritas pelo dentista e noiva, que também fez um boletim de ocorrência contra a suspeita, são as seguintes:
- invadiu o prédio dele duas vezes
- o importunou e ofendeu a noiva dele na praia
- ameaçou o dentista e a noiva dele de morte
- xingou o dentista
- mandou presentes para ele no Dia dos Namorados
- usou o celular de outras pessoas para mandar mensagens para ele
- enviou inúmeros e-mails indesejados, algumas vezes diariamente
- usou as redes sociais dela para falar de um relacionamento com ele que nunca existiu
- marcou o dentista e a noiva dele nas redes sociais
- ofendeu a noiva dele nas redes sociais
- usou perfis falsos para mandar mensagens
- não respeitou as medidas impostas pelo Poder Judiciário
- após a imposição das medidas judiciais, passou a perseguir mais o dentista e a noiva dele
As medidas impostas pelo Poder Judiciário à suspeita eram as seguintes:
- proibição de realizar qualquer espécie de contato com o dentista, a noiva dele e familiares do casal, seja pessoalmente, por meio eletrônicos ou através de outras pessoas;
- obrigação de manter uma distância mínima de 200 metros do dentista e noiva dele, da casa dele, local de trabalho ou qualquer outro lugar que eles frequentem;
- proibição de fazer menção ao nome, imagem ou qualquer referência ao dentista, noiva dele ou familiares do casal em redes sociais, mensagens eletrônicas ou qualquer outro meio público ou privado.
Como a mulher não seguiu essas medidas, o MPSC pediu a prisão preventiva dela.
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Ameaças
O dentista e a namorada dele afirmaram que perderam a liberdade e tiveram familiares e amigos importunados durante anos pela suspeita. Ao se manifestarem pela primeira vez sobre o caso, eles também revelaram os prints com as ameaças.
“Passamos a viver um inferno, uma vida restrita, sempre com cautela. Temos cuidado no trabalho e sempre com orientação para as pessoas próximas a nós estarem cientes das ameaças. Afinal, ninguém quer cruzar com a pessoa que diz que vai te matar e já comprou o estilete”, afirmaram.
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O que é o crime de perseguição?
A lei que inclui no Código Penal o crime de perseguição, conhecido também como “stalking”, é recente e foi sancionada em 2021.
O termo “stalkear” muitas vezes parece banal, utilizado para se referir a prática de bisbilhotar os posts de pessoas. A curiosidade, por si só, não configura nenhum tipo crime.
O delito ocorre quando isso passa a influenciar na vida de quem é acompanhado.
“O que caracteriza o crime é quando há uma ameaça à integridade física ou psicológica da pessoa, restringindo uma capacidade de se locomover ou perturbando a liberdade ou a privacidade do alvo”, explicou Nayara Caetano Borlina Duque, delegada da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo (DCCIBER), em entrevista ao g1 em 2021.
Como pedir ajuda
- Disque 100 ou através do número 182.
- Polícia Militar: 190.