O segundo dia do julgamento do caso Roberta Dias, realizado no Fórum de Penedo, foi marcado pelos depoimentos dos réus Karlo Bruno Pereira Tavares, autor material do crime, e Mary Jane Araújo Santos, apontada como autora intelectual e mandante do assassinato da estudante de 18 anos, que estava grávida de três meses. Os trabalhos foram encerrados mais cedo, antes das 17h após deliberação dos jurados.
Depoimentos
O primeiro a ser ouvido, Karlo Bruno Pereira Tavares confessou, em interrogatório, ter participado diretamente do assassinato da jovem, ocorrido em 11 de abril de 2012. Em uma declaração impactante, ele revelou aos jurados que cometeu o crime “apenas por amizade”, alegando não ter recebido qualquer tipo de recompensa ou vantagem pela participação na trama.
O réu também corroborou com a versão do ex-namorado e pai do filho de Roberta Dias, Saulo da Tasso, que disse ainda no dia de ontem (23), como testemunha, que planejou sozinho o crime, sem participação ou conhecimento de sua mãe (a segunda ré) pedindo ajuda ao amigo para executar o plano. O jovem tinha 17 anos à época dos fatos e não é réu neste processo. O Ministério Público considera a confissão tardia como estratégia da defesa de Mary Jane para tentar inocentá-la.
“Ele ficou muito assustado quando soube da gravidez e me procurou para dizer que queria resolver essa situação. Primeiro eu relutei, disse que haveria outras formas de achar uma solução para isso. Mas depois eu acabei cedendo e aceitei participar”, afirmou Karlo Bruno.
A jovem foi morta por asfixia, com o uso de um fio de extensão automotiva, e enterrada em uma cova rasa entre o Pontal do Peba e Feliz Deserto. “Foi uma coisa horrível e, por isso, estou aqui para dizer a verdade e pagar pelo que fiz”, disse Karlo, que ainda pediu perdão à família de Roberta e à sua própria.

Depoimento da ré precisou ser interrompido após ela se emocionar com questionamentos dirigidos a ela
Já durante o interrogatório da ré Mary Jane, sogra da vítima, ela negou com veemência ter qualquer participação no crime. Ela declarou não seria capaz de ter cometido o crime.
“Só tomei conhecimento do que realmente tinha acontecido em novembro do ano passado, quando meu filho chamou o pai e a mim e confessou tudo. Foi um baque horrível, pois eu jamais imaginaria que isso tivesse acontecido”, declarou ela.
Ao ser informada sobre os detalhes da confissão de seu filho, principalmente como a cova foi cavada, a ré passou mal e precisou de atendimento médico. O júri foi interrompido por cerca de dez minutos para que ela pudesse se restabelecer.
ACOMPANHE AS NOTÍCIAS DE ALAGOAS NO INSTAGRAM
Depoimentos e oitivas
Antes dos interrogatórios, foram ouvidas duas testemunhas de defesa, uma de cada réu. Outras seis foram dispensadas pelos advogados. O juiz do caso, Lucas Lopes, determinou que o conteúdo completo dos depoimentos dos réus permaneça em sigilo até o encerramento do julgamento, a fim de preservar a isenção do júri.
Outro ponto de destaque do dia foi a oitiva dos delegados Cícero Lima e Rubens Natário, que conduziram as investigações ao longo dos anos. Cícero, que presidiu uma comissão especial, apresentou falhas de memória e não conseguiu explicar os atrasos na investigação ou os erros cometidos. Já Rubens Natário, afastado das apurações ainda em curso, declarou que poderia ter solucionado o caso e lamentou a prisão de policiais civis posteriormente inocentados e até condecorados.
Saiba mais: Caso Roberta Dias: Primeiro dia de júri é marcado por comoção
Começa hoje julgamento de acusados de matar Roberta Dias; relembre o caso
MPAL sustentará a tese de homicídio triplamente qualificado contra acusados de matar Roberta Dias
Suspensão dos trabalhos
Com o término dos interrogatórios por volta das 15h15, os trabalhos foram suspensos para almoço. Em seguida, as autoridades se reuniram para decidir sobre a realização dos debates ainda hoje, já que o tempo estimado para os embates entre acusação e defesa poderia ultrapassar nove horas, estendendo-se pela madrugada, caso houvesse necessidade de réplica e tréplica entre as partes.
Atendendo ao pedido do promotor de Justiça Sitael Lemos, o conselho de sentença foi consultado e optou por suspender os trabalhos e retomá-los na manhã do dia seguinte.
“Consideramos prudente a decisão de suspender o julgamento por hoje, especialmente em razão dos jurados, que precisam estar bem para decidir sobre o destino dos dois réus. Amanhã retornaremos a este tribunal do júri convictos de que o Ministério Público do Estado de Alagoas promoverá justiça à memória da Roberta e à família, que aguarda por isso há 13 anos”, afirmou Lemos.
O julgamento será retomado nesta sexta-feira (25), a partir das 8h, iniciando com os debates entre o MPAL e a defesa. Em seguida, os jurados se reunirão em sala secreta para deliberar sobre os quatro crimes atribuídos a cada réu.
O caso
Roberta Costa Dias desapareceu em 11 de abril de 2012, quando tinha 18 anos. O motivo do crime seria a criança que estava esperando do filho de Mary Jane. Saullo, com quem Roberta teve um relacionamento, tinha 17 anos e a gravidez era indesejada por sua família. Ele e a mãe teriam atraído a vítima para uma rua nas proximidades do posto de saúde na cidade de Penedo, onde a jovem faria exame pré-natal.
A família da menina chegou a oferecer recompensa de R$ 5 mil para quem fornecesse informações que levassem ao seu paradeiro, mas seus restos mortais só foram localizados em 2021, nove anos após o crime, na Praia do Pontal do Peba, na cidade de Piaçabuçu.
Foi a mãe dela que, após saber que um crânio foi localizado naquela região, providenciou uma escavadeira para recolher os restos mortais da filha. Pouco depois, a polícia foi chamada e acionou a Perícia Oficial, que comprovou, após realização de exame, que se tratava, de fato, de Roberta Dias.
Após o desaparecimento de Roberta Dias, seu pai e seu avô também foram executados. A polícia nunca estabeleceu se os crimes estavam relacionados. A sogra da vítima foi apontada como autora intelectual do crime, chegou a ser presa, mas foi posta em liberdade posteriormente.
Matéria relacionada ao processo de número 0000820-21.2012.8.02.0049.
VEJA OUTRAS MATÉRIAS RELACIONADAS AO CASO:
Polícia cumpre mandado na casa de namorado de jovem desaparecida
Caso Roberta Dias: áudio com confissão pode gerar reviravolta no crime
Após 9 anos, familiares enterram restos mortais de Roberta Dias em Piaçabuçu
Roberta Dias: ossada humana e sutiã são encontrados no mesmo local onde crânio foi localizado
Caso Roberta Dias: Justiça ouvirá acusados no dia 18 de outubro
Família oferece R$ 5 mil por localização de gestante desaparecida