Angelina Jolie volta à direção com cinebiografia ‘Invencível’

Filho de imigrantes italianos, o norte-americano Louis Zamperini (1917-2014) teve uma biografia e tanto. Garoto rebelde, atleta olímpico, soldado e, acima de tudo, sobrevivente – a acidentes de avião, a quase 50 dias à deriva no mar e dois anos num campo de prisioneiros japonês, durante a Segunda Guerra Mundial.

Interpretado pelo novato inglês Jack O’Connell (da série "Skins"), é esse homem que ocupa o posto de herói no drama "Invencível", em que a estrela Angelina Jolie arrisca-se, pela segunda vez numa ficção, como diretora.

Também pela segunda vez, Angelina escolhe um drama de guerra em que o centro dramático está na possibilidade de superação. Seu primeiro filme ficcional foi "Na Terra do Amor e Ódio" (2011), ambientado nos Bálcãs em luta dos anos 90. Boa parte deste novo filme acontece na Segunda Guerra Mundial.

Superar seus próprios limites, inclusive físicos, foi uma tarefa primordial na vida de Louis. Morador de Torrance, na Califórnia, o garoto era perturbado pelos "bullies" por ser filho de italianos. Reagia com pancada e revolta. Corria perigo de enveredar pelo crime, caso seu irmão não o seduzisse para o rumo do esporte.

Louis torna-se um corredor de tal quilate que chega às Olimpíadas. Participou daquela edição polêmica, na Berlim nazista de 1936, em que brilhou a estrela do atleta negro Jesse Owens contra o discurso de supremacia ariana de Adolf Hitler.

A opção da diretora é centrar a biografia no período em que Louis alista-se na aeronáutica, na Segunda Guerra. Um dos pontos fortes do filme está nas cenas de batalhas aéreas em que o espectador pode compartilhar da sensação de perigo constante rondando os jovens soldados.

Louis e os amigos, Phil (Domhnall Gleeson) e Mac (Finn Wittrock), sobrevivem a um grave acidente – pouco depois de terem escapado ilesos da aterrissagem forçada de outra aeronave em pane. Os três acabam num bote de borracha, à deriva, em pleno Oceano Pacífico.

Mais uma vez, a diretora demonstra apuro, retratando com muita eficácia os desafios físicos e psicológicos de uma situação-limite. Os dias passam sem que nenhum socorro apareça. Os três jovens soldados têm pouca comida, pouca água potável. O sol inclemente faz um estrago em sua pele. Algumas das cenas mais eletrizantes envolvem tubarões.

O desafio maior, no entanto, está à frente, quando são resgatados por um navio inimigo japonês e levados a um campo de prisioneiros. Fome e brutalidades de todo tipo colocam à prova a indiscutível vontade de viver dos prisioneiros.

É visível que, neste segmento, Angelina colocou sua maior ambição como diretora. Não poupou realismo à situação dos prisioneiros aliados, um contingente do qual faz parte também o oficial Fitzgerald (Garrett Hedlund, de "Na Estrada"). E procurou extrair o máximo de dramaticidade do confronto entre Louis e seu algoz, o sargento Watanabe (o roqueiro japonês Miyavi).

É inegável que há algum maniqueísmo neste retrato de japoneses-todos vilões versus americanos-todos vítimas. Também é possível ressentir-se de vários diálogos que soam um tanto edificantes demais – ainda mais tendo-se por trás do roteiro assinaturas como as da dupla de diretores Joel e Ethan Coen e dos experimentados Richard LaGravenese (roteirista de “O Pescador de Ilusões”) e William Nicholson (roteirista de “Gladiador”).

Provavelmente, terá sido de Angelina a decisão de adocicar um pouco demais algumas falas.

Baseando-se na biografia homônima de Zamperini escrita por Laura Hillenbrand, o filme passa ao largo do processo de redenção espiritual de Zamperini, afetado por estresse pós-traumático depois da guerra.

Como este capítulo envolvia o famoso evangelista Billy Graham, a diretora esquivou-se de uma quase certa polêmica religiosa, optando sabiamente em se concentrar na história humana de um incansável sobrevivente.

Fonte: Reuters

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