Bom Jesus: corrida de canoa à vela

A Festa de Bom Jesus dos Navegantes é um importante patrimônio imaterial da cultura alagoana. Disso, ninguém divida. Além das manifestações religiosas (através das vigílias e do cortejo do domingo) e das manifestações profanas (nos shows de música pop), a festa abriga também uma inusitada manifestação esportiva, a corrida de canoas à vela.

A competição, que remonta às origens da colonização do baixo São Franscisco, é na verdade o resultado da relação do homem ribeirinho com o rio; esse homem social que aprendeu, por meio da labuta diária para a sobrevivência nessa região inóspita do país, uma maneira lúdica de lidar com os fenômenos naturais a sua volta.

A corrida de canoas a vela é um desafio que exige dos competidores força, destreza, conhecimento sobre as correntes de ar e, principalmente, amor pelo rio e suas lendas. Não é para qualquer uma. Para participar dessa luta do vento e a vela, é necessário um exercício diário, próprio dos pescadores da região, e dos treinos que acontecem no finais de semana.

O ponto culminante dessa diversão semanal é a corrida que acontece durante as comemorações do santo padroeiros dos pesacadores do baixo São Francisco, Bom Jesus. Este ano a competição está programada para o dia 11, ao meio-dia, com saída prevista da cidade de Neópolis (SE), em direção à cidade de Penedo (AL).

O dia que o Diabo visitou a Terra

A Festa de Bom Jesus dos Navegantes começou em meio a um conflito étnico-cultural. De acordo com presquisas realizadas pelo médico e historiador Francisco Salles, a capela da Santa Cruz, como era chamada antes de ser o sagrado lar escolhido para abrigar o Bom Jesus dos Navegantes, foi construída num local onde se assentava um terreiro de macumba.

Na umbada, Bom Jesus é a representação entre os santos católicos de Oxalá, o orixá associado à criação do mundo e da espécie humana. Simboliza a paz. Oxalá é o pai maior das nações na Religião Africana. É calmo, sereno, pacificador, é o criador, portanto respeitado por todos os Orixás e todas as nações. A Oxalá pertence os olhos que vêem tudo.

A Festa de Bom Jesus, no contexto cultural e religioso da sociedade ribeirinha do baixo São francisco é um símbolo de resistência. Mas, também, nos diz os mais antigos serve para afastar da superfície da Terra a presença malígna do Diabo.

Conta-se que certo dia chega ao terreiro, onde hoje é erguida a capela da Santa Cruz, um homem muito bem vestido e amigável e que rapidamente começou a fazer amizade com as pessoas ali presentes. Durante o início da noite, ele dançou, bebeu e confraternizando. Dizem os mais antigos, que já próximo à meia-noite, as pessoas presentes a festa perceberam que o elegante visitante tinha pés de bode. De repente, um imenso estrondo transformou o homem em fumaça, restando apenas um odor de enxofre.
Foi assim que, para exorcizar o lugar aonde apareceu o Diabo, construiu-se a capela da Santa Cruz, hoje Igreja de Bom Jesus.

É de lá que todo ano se dá início a procissão de Bom Jesus dos Navegantes, que segue em terra pelas ruas Fernando Peixoto, seguindo pela segunda Travessa Fernando Peixoto, dando seqüencia pelas Rua e Trav. Campos Teixeira, logo após Rua São Miguel e Batista Acioly, aonde a imagem chega ao Velho Chico, partindo de lá numa imponente procissão Fluvial.

Dividida entre os compromissos com população celeste e as tentações do Cabruco, há mais de meio século, a Festa de Bom Jesus dos Navegantes faz aflorar nos ribeirinhos do baixo São Francisco, o principal traço cultural da colonização portuguesa, o sincretismo religioso.

Fonte: Álvaro Brandão/Assessoria

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